24.10.06

Geraldo, Lula e as elites

Se comparações podem ser feitas, muito mais Lula do que Geraldo Alckmin representa os interesses das elites

"Uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade." (Joseph Goebbels)

Segundo a campanha petista, Geraldo Alckmin seria o candidato das elites, enquanto Lula representaria os pobres deste país. Quais são os fatos?
Geraldo é de família de classe média, tem formação universitária e desde jovem atua na vida política exercendo diversos cargos eletivos, sempre do lado certo.
Lula tem origem de família pobre do Nordeste, tem pouca formação escolar, veio para São Paulo como milhões de migrantes nordestinos e chegou a líder sindical. Quanto à origem e à formação, Geraldo faz parte da elite intelectual do país. Lula, não, porque não quis. Tempo e condições não lhe faltaram.
Contudo, Lula teve mais acesso aos bens materiais -e propriamente ao poder- que Geraldo, pois comandou um dos maiores sindicatos da América Latina. Conheceu o inescrupuloso jogo do poder que utiliza com maestria na função que exerce. Aprendeu a trocar favores para manter lealdades.
Lula não é mais aquele homem pobre e humilde de outrora. No exercício do poder federal, atendeu interesses de grandes grupos empresariais, que por isso o apóiam, e de centenas de membros da elite sindical, que deixaram a sua função para se refestelar em cargos públicos.
Enquanto membros da família de Lula, em tenra idade, passaram a possuir patrimônio invejável por meio da associação com grandes grupos concessionários de serviços públicos, Geraldo e família continuam com vida modesta. Se comparações podem ser feitas, muito mais Lula do que Geraldo representa os interesses das elites.
No governo anterior, o Bolsa-Escola era a contrapartida para possibilitar que famílias abaixo da linha da pobreza mantivessem seus filhos na escola. Criavam-se, assim, as condições para seu desaparecimento no tempo, quando os filhos já não estivessem em idade escolar ou quando a obtenção de um emprego tornasse desnecessária a ajuda. O Bolsa Família, instituído por Lula, é assistencialismo puro, provoca dependência permanente.
Para as elites dominantes, particularmente no Nordeste, não interessa a incorporação de milhões de pessoas à cidadania. Melhor é mantê-las -em troca de um punhado de reais- na exclusão e na ignorância, como massa de manobra.
No que diz respeito às estatais, as elites empresariais e sindicais sempre influenciaram fortemente as suas ações. As empresas telefônicas estatais, por exemplo, pouco produziam.
Só serviam, pelos fundos de pensão, aos interesses de seus próprios funcionários, dos líderes sindicais e, principalmente, de seus dirigentes, lá colocados por interesses políticos. Nelas se enraizavam os grupos econômicos privados que sugavam seus recursos de forma predatória.
A Vale do Rio Doce, por sua vez, era pouco lucrativa e pouco colaborava com o esforço exportador na área mineral. Em uma mina da empresa, no Pará, ouvimos dos gerentes que os baixos investimentos e as limitações impostas à empresa, por ser estatal, impediam seu crescimento. Hoje, privada, tem alta lucratividade e é uma das maiores exportadoras do mundo.
O mesmo vale para a Embraer e as usinas siderúrgicas. Não fosse a privatização, as exportações seriam bem menores, e os nossos índices de crescimento, ainda mais medíocres. Outras empresas estatais não foram e não devem ser privatizadas, porque não convém ao país.
Quando da quebra do monopólio estatal do petróleo, o PT alardeava que queríamos privatizar a Petrobras. Sugeri, então, ao presidente FHC -e ele o fez- a redação de um compromisso, o qual foi lido nos plenários da Câmara e do Senado, de não privatização da estatal. Foi respeitado o interesse nacional, pois a Petrobras, além de grande fornecedora de recursos ao caixa da União, não podia deixar de ser um monopólio estatal para se tornar um monopólio privado.
O Banco do Brasil também não deve ser privatizado por ter funções públicas que o diferenciam de um banco com objetivos puramente comerciais. Cada caso é um caso. Fora disso, é oportunismo eleitoral.
Lula nos acusa de defendermos projetos que não temos, como, aliás, o PT fez há quatro anos, quando nos acusou de aprovarmos leis eliminando direitos trabalhistas. São adeptos de Joseph Goebbels, ministro da Propaganda do regime nazista.
A ausência de escrúpulos é uma característica de parte das elites econômicas e sindicais, que privilegiam os ganhos nos negócios e o enriquecimento pessoal. Quando se juntam para transformar-se em poder político, sob o comando de um presidente com as mesmas concepções morais, é o país que sofre.
ALBERTO GOLDMAN

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