22.3.06

Para CPI, violação partiu da presidência da Caixa

Comissão de senadores esteve ontem na CEF apurando vazamento de dados bancários

Um integrante da CPI dos Bingos recebeu a informação de que a ordem para violar o sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa partiu do gabinete da Presidência da Caixa Econômica Federal. Os dados, extraídos do sistema do banco com a senha de um gerente, teriam sido encaminhados por fax a um assessor especial do ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda).
A Caixa não quis comentar essa informação, mas admitiu a membros de uma subcomissão da CPI que a cópia dos extratos do caseiro, em poder dos senadores, só pode ter saído de dentro da própria Caixa, conforme a Folha antecipou na edição de ontem.
Por meio de sua assessoria, a CEF informou que não se manifestaria sobre hipóteses e reiterou que a quebra do sigilo bancário está sob investigação de um grupo de auditoria, com prazo de 15 dias para terminar o trabalho e apontar os "eventuais" responsáveis pelo crime. O presidente da CEF, Jorge Mattoso, recusou um pedido de entrevista. Dois pedidos de convocação de Mattoso foram apresentados ontem na CPI.
A Folha ouviu também relatos de dois funcionários da Caixa com teor idêntico à informação obtida por membro da CPI dos Bingos. Segundo os funcionários, a ordem para acessar a conta do caseiro foi encaminhada à Superintendência Nacional de Rede.
Nesse departamento, a cópia do extrato teria sido feita por uma gerente. De acordo com os funcionários, ela não sabia que a operação estava sendo feita para quebrar o sigilo do caseiro. Acreditava ser algo rotineiro e encaminhou o documento para a chefia de gabinete de Mattoso.
Daí, o extrato teria sido encaminhado ao assessor de Palocci. Senadores da oposição e membros da CPI dos Bingos levantavam suspeitas de que esse assessor seria Marcelo Netto. Ontem, o Ministério da Fazenda não se manifestou sobre o assunto.
Durante o encontro com a subcomissão da CPI, o presidente da Caixa admitiu que o extrato bancário do caseiro foi obtido por um funcionário com cargo de gerência na instituição, segundo relato do senador Álvaro Dias (PSDB-PR). "Os próprios dirigentes da Caixa informam que esse tipo de extrato, se for verdadeiro, só pode ter sido fornecido nesse nível [gerencial]", disse o senador. "Temos de ver a autenticidade do documento. Se for verdadeiro, leva a crer que foi obtido por um gerente", confirmou o senador Flávio Arns (PT-PR), outro integrante da subcomissão que visitou ontem a Caixa.
Os senadores dispunham de uma cópia do extrato de Francenildo a que a revista "Época" teve acesso na semana passada. O extrato, no formato do sistema interno da Caixa, foi impresso na noite de quinta-feira, mas não há indicação da senha do funcionário que acessou os dados da movimentação bancária do caseiro.

Rastreamento
Segundo relato de Álvaro Dias, os dirigentes da Caixa manifestaram dificuldades para rastrear o nome do funcionário que teria obtido os dados do caseiro. Além de Mattoso, a vice-presidente de tecnologia, Clarice Copetti, teria falado das dificuldades de rastreamento.
"Não é uma operação simples. Seria simples se tivessem mexido na conta [feito movimentações]", teria dito Clarice, segundo notas feitas durante o encontro pela assessoria do Senado. Mattoso disse que " o sistema é gigantesco", com 110 mil máquinas na rede e 70 mil funcionários com acesso às contas, além de centenas de sistemas corporativos e empresariais "que não falam entre si".
Segundo informações obtidas pela CPI dos Bingos, as supostas dificuldades de rastreamento do responsável pela violação do sigilo bancário não são reais. O sistema da Caixa guardaria rastros, uma "trilha de auditoria" de todos os acessos ao sistema, com identificação da matrícula do funcionário, horário e terminal de acesso aos dados.
Para chegar ao responsável pela violação bastaria rastrear os terminais ligados ao sistema específico da Caixa às 20h58 da última quinta-feira, horário da impressão do extrato. Os rastros poderiam ser perseguidos pela área de tecnologia da Caixa, comandada por Clarice Copetti, mulher do assessor especial da Presidência da República César Alvarez.
Folha