Vamos começar explicando o significado de um outro termo, usado pelo ministro da Justiça. Ele disse que o caso da violação da conta corrente do caseiro é grave. Não é. É gravíssimo, porque ocorreu quando o caseiro estava na Polícia Federal, pedindo proteção como testemunha; e a Polícia Federal estava de posse do cartão dele na Caixa Econômica Federal.
A Polícia Federal é vinculada ao Ministério da Justiça; e a Caixa Econômica, vinculada ao Ministério da Fazenda. Se alguém do governo quis criar uma situação gravíssima para desviar da situação grave do ministro, conseguiu. Mas criou uma situação ainda mais complicada para o governo.
Mais uma vez, o governo se envolve em problemas originários dentro dele mesmo. Começou pelo ex-líder, senador Tião Viana, que conseguiu no Supremo uma liminar para calar o depoimento de Francenildo. Com isso, deu a entender que o que o caseiro revelaria seria comprometedor.
E mais: foi o próprio senador que sugeriu que o depoimento poderia atingir a vida familiar do ministro da Fazenda. Ninguém da oposição faria melhor.
Depois, a criminosa violação do sigilo bancário do caseiro o obriga a passar pelo constrangimento de confessar-se filho bastardo que havia negociado a dispensa de reconhecimento de paternidade. Só não pode quebrar o sigilo bancário do presidente do Sebrae, Paulo Okamotto, embora a Constituição diga que uma das características do serviço público é a transparência.
Aliás, o Supremo impediu o depoimento do caseiro um dia antes de a Justiça na Inglaterra ter autorizado a divulgação de diários íntimos do herdeiro do trono. Agora se entende por que o presidente Lula disse que a situação do ministro Palocci é preocupante.
Enfim, até o dia 31 haverá mudanças no ministério, desincompatibilizando-se os que pretendam se candidatar. Então já se pensa nessa saída honrosa. Mas não haverá saída honrosa para o governo enquanto não esclarecer a violação do sigilo bancário do caseiro na Polícia Federal e na Caixa Econômica e mostrar quem fez e quem autorizou fazer.
Alexandre Garcia
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