11.3.06

Janene era "braço do mensalão", diz advogado

Preso sob suspeita de quatro crimes, ex- assessor do PMDB afirma que deputado seria um dos donos da corretora Bônus-Banval, junto a doleiro

O advogado Roberto Bertholdo, ex-assessor parlamentar do PMDB e ex-conselheiro da Itaipu Binacional, disse ontem que o deputado José Janene (PP-PR) e o doleiro Alberto Youssef são um braço da operação para retirar recursos de órgãos estatais e destiná-los ao "mensalão".
O advogado afirmou que o "segundo braço" é o Banco Rural, investigado pela CPI dos Correios por repasses feitos a parlamentares de recursos vindos das agências de Marcos Valério de Souza.
Bertholdo está preso em Curitiba, por determinação da 2ª Vara Federal Criminal. Ele é acusado de lavagem de dinheiro, interceptação clandestina dos telefones do juiz Sérgio Moro, da 2ª Vara Criminal, venda de sentenças judiciais e tráfico de influência.
Bertholdo, que trabalhou no gabinete de José Borba, ex-líder do PMDB na Câmara (renunciou ao mandato para evitar a cassação), citou detalhes de como Janene e Youssef estariam no esquema.
Afirmou também que os dois são os verdadeiros donos da corretora Bônus-Banval, "de onde mais de 80% dos recursos adquiridos via corrupção eram transformados em dinheiro vivo".
A Bônus-Banval é apontada por Valério como canal para repasse de dinheiro do PT para o PP.
Segundo Bertholdo, o próprio Janene -de quem foi advogado tributarista há três anos- é quem falava a ele do dinheiro conseguido ilegalmente em órgãos federais sobre os quais tinha influência.
"E ele [Janene] tentava ter ainda mais influência. Quando o Eunício Oliveira [deputado pelo PMDB] assumiu o Ministério das Comunicações [em janeiro de 2004], o Janene e o Youssef me apareceram com o currículo do diretor da Bônus-Banval, Breno Fischberg, e de outro corretor da Bônus, para que o PMDB indicasse um deles à presidência do Postalis [o fundo de pensão dos Correios]. Eles queriam armar um amplo esquema no governo. Nós não aceitamos", disse Bertholdo.
Ele diz ter visto mais de uma vez Youssef levando sacolas com dinheiro ao apartamento funcional de Janene, em Brasília.
"Por pelo menos três vezes. Uma vez, ele abriu uma sacola para mostrar algo ao Janene e vi que eram reais. Em uma outra vez, as sacolas eram tão pesadas que a Cleide, a cozinheira do Janene, teve que ajudar o Youssef a levar as sacolas para um aposento interno do apartamento", disse.
De acordo com Bertholdo, esse dinheiro era destinado a pagar parlamentares do bloco governista. "Quem ele pagava e os nomes que ele [Janene] me passou, eu só falo ao procurador-geral da República. Mas ele e Youssef operavam muito dinheiro", afirmou.
Em agosto de 2005, em uma reunião de lideranças na casa do pepista, Bertholdo afirma que viu Janene ameaçando envolver o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema do "mensalão".
"Estávamos discutindo com lideranças governistas. Exaltado, porque se sentia acuado com a possibilidade de cassação, o Janene subiu no sofá e, aos gritos, disse que iria envolver o presidente Lula. O líder do PT, Arlindo Chinaglia, que estava presente, argumentou que o presidente não sabia de nenhum esquema. O Janene retrucou: "Não importa se ele sabe ou não, vou envolvê-lo"."

Fitas
Bertholdo disse que será condenado por um esquema montado na 2ª Vara Federal Criminal, que criou a "indústria da delação premiada". Segundo ele, Youssef entregou doleiros no Brasil inteiro e se apropriou de seus clientes.
"Ele opera com um grupo em que agem a Nelma [Penasso], de Santo André, e o [Lúcio] Funaro, ex-sócio da corretora Guaranhuns. Esse grupo controla 80% do câmbio no país. No esquema federal, a sociedade do Youssef e do Janene na Bônus possibilitava transformar em dinheiro vivo o esquema de corrupção", afirmou.
Bertholdo disse que esteve em um jantar em São Paulo em que executivos da Bônus-Banval serviam refrigerantes toda vez que Youssef determinava: "Você acredita que o dono de uma corretora, o Breno, iria servir um operador como o Youssef se ele não tivesse o controle da empresa? O Janene, e isso ele me disse, e o Youssef eram os donos da Bônus".
Bertholdo disse ser vítima de fitas editadas, cujo teor foi divulgado pela revista "Veja". "Ele gravou 200 horas de fita, editou ao seu prazer essas fitas e depois uma nova montagem estará aparecendo na revista", disse.
Segundo ele, na próxima edição da revista as "vítimas" serão o deputado José Mentor (PT-SP) e o ministro Paulo Bernardo (Planejamento). Sobre o que teria falado do ministro, Bertholdo disse que irá esperar o que a revista divulgar. Sobre Mentor, afirmou que nas gravações, ele cita "um mentor, e não o deputado". "Sei que vão atacar o José Mentor porque sou acusado de tentar retirar o nome de um cliente meu do relatório final da CPI do Banestado."
"Se eu tivesse influência, o Mentor não teria colocado meu nome, por um episódio de sete anos atrás, no relatório final da CPI do Banestado", disse.
Folha

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