Paulo Okamotto, que pagou dívida do presidente, colaborou com campanha em 2004
Além de assumir uma dívida do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o PT, o presidente do Sebrae, Paulo Tarciso Okamotto, doou R$ 24.840,00 para a campanha de Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, à Prefeitura de São Bernardo do Campo. O valor da contribuição, registrada em 14 de setembro de 2004, representa praticamente todo o vencimento declarado por ele à CPI dos Bingos.
Em seu depoimento, Okamotto disse receber "pouco mais de R$ 30 mil" mensais, incluindo, além do salário do presidente do Sebrae, cargo para o qual foi indicado por Lula, o pagamento por sua participação no conselho da BrasilPrev e a aposentadoria como ex-metalúrgico.
Segundo Nelson Banhara, tesoureiro da campanha de Vicentinho, Okamotto contribuiu com 54 mil etiquetas adesivas, pagando R$ 460 por cada milhar. Ele optou por colaborar com o material já pronto e apresentou a nota fiscal. Por isso, na prestação de contas, a receita é lançada como valor estimado. "Essa é opção de quem doa. Ele dá o material e apresenta a documentação", explicou o tesoureiro de Vicentinho.
Banhara conta que não negociou diretamente com o Okamotto, apenas foi orientado a procurá-lo para receber a colaboração. "Eu só recebi a informação que ele iria ajudar. E, aí, na minha equipe teve alguém que foi atrás para poder encaminhar. Porque você prepara a arte, faz tudo...".
Afirmando que a doação aconteceu há quase dois anos, Banhara alega não se lembra quem o indicou a procurar Okamotto. "Não lembro quem foi que me avisou que ele ia doar. São dois anos".
Ontem, Vicentinho também não se lembrava da doação. Foi necessário que Banhara fizesse uma pesquisa para identificá-la. "Não sei. Se está declarado, ele doou mesmo. Mas não sei exatamente para o que foi, não. Paulo Okamotto é um companheiro nosso, da nossa diretoria. Foi um companheiro meu de diretoria, fomos cassados juntos. Preciso de um tempinho para saber para o que foi", reagiu Vicentinho.
O deputado fez questão de frisar que determinou o registro de todas as doações recebidas pelo comitê. "Só sei que minha orientação era: as doações devem ser registradas. Todo mundo que doar temos que declarar. Tudo".
Banhara ressaltou que "Vicentinho teve muita dificuldade para fazer campanha". Segundo prestação de contas apresentada à Justiça Eleitoral, foram arrecadados R$ 865.552,63 para a disputa pela prefeitura de São Bernardo, domicílio eleitoral de Lula. À época, não foram raras as notícias segundo as quais Vicentinho pedia ajuda ao partido para cobrir suas despesas. Ele obteve 23% dos votos e foi derrotado já no primeiro turno por Willian Dib (PSB), que obteve 76% dos votos válidos.
Procurada pela Folha, a assessoria do Sebrae pediu, num primeiro momento, a origem da informação. Depois de informada que os dados são oficiais, afirmou que Okamotto confirmava a contribuição, "provavelmente em botons". Mas não lembrava que tinha sido feita de uma única vez. Teriam ocorrido diferentes doações. Até a noite de ontem, a assessoria não tinha apresentado uma versão definitiva sobre a colaboração de Okamotto.
Amigo do presidente, ele afirma ter pago uma dívida de R$ 29,4 mil de Lula com o PT. Seu pagamento foi feito em quatro parcelas entre dezembro de 2003 e março de 2004, em espécie.
Okamotto ainda não explicou a origem do dinheiro. Em 2002, um ano antes de assumir a dívida de Lula, ele -que tinha apenas a aposentadoria como fonte de rendimento- teria ajudado a filha mais velha do presidente, Lurian Cordeiro Lula da Silva, a pagar aluguéis atrasados referentes à campanha de 1996, para vereadora em São Bernardo.
Folha
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