Caso Duda gera atrito entre PF e procuradores
Rusgas levam a abertura de inquérito disciplinar
As investigações sobre o caso do mensalão criaram, entre o Ministério Público (MP) e a Polícia Federal (PF), um atrito que ameaça se transformar numa crise entre as duas instituições. O principal ponto da discórdia são as apurações sobre as contas secretas do publicitário Duda Mendonça nos EUA.
A portas fechadas, os dois lados trocam acusações sobre o papel de cada um nas investigações. As rusgas acabam de levar à abertura de um inquérito disciplinar contra um dos procuradores, em razão de acusações de obstrução feitas pelos delegados da PF - todas contestadas pela equipe do MP e até pelos promotores norte-americanos.
Em e-mails trocados pela rede interna do MP nos últimos dias, aos quais o Estado teve acesso, os procuradores reagiram de forma violenta às afirmações da PF e à subseqüente abertura do inquérito. Também criticaram a atuação dos delegados do caso. Fontes envolvidas na investigação contaram à reportagem que o diálogo entre as duas equipes tem sido pontuado, pelo menos desde dezembro, por acusações entre os dois lados sobre quem supostamente vaza sistematicamente dados das novas contas de Duda para a imprensa. Ambos abriram sindicância para tentar descobrir os supostos "vazadores".
O episódio que motivou a crise foi a ida dos procuradores e delegados à Promotoria Distrital de Nova York, em outubro do ano passado, com o objetivo de obter os extratos bancários da Dusseldorf, empresa de Duda que recebeu dinheiro do valerioduto. Logo após o encontro, os seis delegados e servidores que foram aos Estados Unidos redigiram um relatório ao comando da PF.
Nele, acusam o subprocurador-geral da República Eugênio Aragão, que estava na comitiva, e a coordenadora-geral do Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça (DRCI), Waninne Lima, de tentar "influenciar" as autoridades americanas a não entregar os documentos do caso Duda.
Os delegados não explicaram como e por que os dois supostamente agiram dessa forma. Ambos garantem ter feito todos os esforços para obter os documentos, tanto que a papelada chegou ao Brasil logo depois. A versão deles é corroborada por Vladimir Aras, outro procurador que estava na viagem, e até mesmo pelo promotor distrital-adjunto de Nova York, Adam Kaufmann.
Em e-mail enviado ao governo brasileiro em janeiro, Kaufmann foi taxativo. "Estou ciente de que certos indivíduos da Polícia Federal acusaram a sra. Lima e o sr. Aragão de tentar bloquear o acesso da polícia aos documentos", escreveu. "Isso é falso. A preocupação do sr. Aragão e da sra. Lima foi assegurar a base legal das evidências obtidas."
O que enfureceu os procuradores é o fato de o corregedor-geral Eitel Santiago ter levado a sério as acusações. "Fiquei pasmo (com o inquérito), tamanho o absurdo", desabafou Aragão.
Estadão
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