Um dos mais duros opositores do PT e do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Senado e um dos articuladores do surgimento do caseiro Francenildo Costa, o senador tucano Antero Paes de Barros (MT) tem uma peculiaridade na sua trajetória política pouco conhecida. Ele já foi filiado ao Partido dos Trabalhadores, o PT. Ele foi do PT durante quatro anos, entre 1989 e 1992, e filiou-se à legenda quando era deputado federal constituinte. Antero ingressou no partido pelas mãos do então colega de bancada Luiz Gushiken, que considera seu amigo.
- Fui o 17º da bancada do PT - conta Antero.
O senador votou e fez campanha para Lula no segundo turno da campanha presidencial de 1989, na disputa contra Fernando Collor (PRN), após apoiar Ulysses Guimarães (PMDB) no primeiro turno. Ele ainda estava no PMDB. Mas esse passado petista o senador parece preferir esquecer. Na biografia em sua página oficial na internet, não consta sua passagem pelo PT. Antero minimiza a exclusão desse detalhe:
- Ah, não tem não?! Vou mandar incluir então - disse o senador ao GLOBO.
Pelo PT, Antero ainda chegou a disputar a reeleição para deputado, em 1991, mas não se elegeu. Ele lembra a dureza que foi filiar-se ao partido de Lula. No seu estado, os petistas desconfiavam e fizeram verdadeiras sabatinas com o senador antes de entregar-lhe a ficha de filiação.
- Foram quatro meses falando de sindicato em sindicato. Me investigaram. Fizeram bem pior do que fazem hoje em dia - disse.
Antero de Barros está no centro da atual crise que atinge o governo e que derrubou o ex-poderoso ministro da Fazenda Antonio Palocci. Foi o seu gabinete, e o próprio, que Francenildo Costa procurou para contar, pela primeira vez, tudo que sabia. E que tornou-se público depois. Foi Antero quem sugeriu a Nildo, como o caseiro é conhecido, antes de depor na CPI dos Bingos, que desse uma entrevista revelando a passagem de Palocci pela mansão da turma de Ribeirão Preto, no Lago Sul, onde trabalhava.
Apesar de vociferar hoje contra o PT, o senador tucano guarda boas lembranças de Lula. Ele contou a seguinte passagem. Quando, já fora do PT, elegeu-se senador em 1998, pelo PSDB, cruzou com o hoje presidente da República no trânsito, em Brasília. Cada um no seu carro. Lula já tinha sido derrotado por Fernando Henrique Cardoso, reeleito. Num sinal de satisfação com a eleição de Antero, Lula, com a mão fechada, bateu no coração. O petista estava feliz com o sucesso do ex-petista nas urnas. Antero acha admirável a biografia de Lula, mas diz que ele a maculou na Presidência da República.
- Como lamento. Lula tinha a biografia mais rica do país. Ele não precisava ser presidente da República para enriquecê-la. Tinha profunda admiração por Lula.
Antero deixou o PT em 92. Foi para o PDT. Achava tudo complicado no partido e o classificou de "exclusivista", não queria se misturar e resolver tudo sozinho.
- Fui marginalizado no PT.
Antero de Barros bate pesado hoje no seu antigo partido e no seu velho amigo. Seus discursos na tribuna não fazem imaginar, sequer que, um dia, ele foi do PT. Para ele, o que o governo fez com o caseiro que desvendou foi "puro fascismo".
- Diria que essa crise política destruiu centenas de biografias de petistas.
Na verdade, Antero faz apenas uma referência ao PT na sua biografia. Lá no final. Ele se apresenta como autor da denúncia que revelou o escândalo Waldomiro Diniz, "que acabou revelando à Nação o verdadeiro PT".
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário