Pedido de Palocci para que Mattoso vasculhasse a vida bancária do caseiro foi feito durante uma reunião no palácio. Depois da ordem, o então presidente da Caixa agiu rápido e quebrou o sigilo
No depoimento que deu à Polícia Federal na segunda-feira, o então presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, comprometeu o então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, ao admitir que lhe entregara pessoalmente cópia do extrato da caderneta de poupança do caseiro Francenildo dos Santos Costa. Há, porém, uma parte da história que, devido ao alto teor explosivo, Mattoso não contou à PF, apenas a alguns poucos auxiliares próximos: ele recebeu a ordem para xeretar a conta do caseiro dentro do Palácio do Planalto, numa reunião sobre bancos estatais.
Não se sabe exatamente em que circunstância — se chamado a um canto da sala, se antes, depois ou durante a reunião, se no instante em que Lula estava ou só depois disso —, mas Palocci dirigiu-se a Mattoso e disse ter a informação de que Francenildo estava orientado para “ferrá-lo”. Assim, teria argumentado o ministro, só lhe restava atacá-lo impiedosamente. Avisou ter recebido a informação de que o caseiro havia andado há pouco tempo com grande soma em dinheiro vivo, tirado de uma poupança da Caixa. E pediu que ele descobrisse se havia recebido depósitos de alguém ligado ao PSDB ou ao PFL.
Esta reunião aconteceu na quinta-feira, 16. No mesmo dia curto depoimento de Francenildo na CPI dos Bingos, confirmando que Palocci era freqüentador assíduo da mansão alugada pelos lobistas de Ribeirão Preto (SP) acusados de armar negociatas no governo. Na reunião estavam Palocci, Mattoso, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, e os presidentes do BNDES, do Banco do Brasil, do Banco do Nordeste e do Banco da Amazônia, respectivamente Guido Mantega, Rossano Maranhão, Roberto Smith e Mâncio Cordeiro. Lula participou dela por alguns minutos.
Instruções
Mattoso saiu da reunião, já no início da noite, direto para seu gabinete no 21º andar da sede da Caixa. Mandou que a secretária chamasse o consultor da instituição, Ricardo Schumann. Não foi atendido de pronto, pois Schumann estava um andar abaixo, em reunião com o diretor da sucursal de um grande veículo de comunicação do qual o banco havia ganho uma causa judicial. Quando terminou de tratar deste assunto, Schumann subiu de escada para o 21º e entrou na sala do chefe. Recebeu as instruções e foi providenciar a quebra do sigilo. Chefe e assessor se encontrariam algumas horas mais tarde, no restaurante La Torreta, já com o extrato do caseiro.
O resto da história pertence a Palocci. Até agora não veio a tona em detalhes. A CPI dos Bingos recebeu informação de que assessores do ministro vasculharam também os dados fiscais de Francenildo antes mesmo da encomenda sobre o extrato da caderneta de poupança. Mas não há indícios a respeito.
No dia seguinte à violação do sigilo, o jornalista Marcelo Netto, assessor especial de Palocci, fez o extrato chegar à sucursal de Brasília da revista Época, junto com a informação de que se tratava da prova de que o depoimento devastador prestado pelo caseiro contra Palocci tinha sido na verdade comprado pela oposição.
Àquela altura, aliados do Palácio do Planalto no Congresso já mencionavam um empresário piauiense, aparentado do senador Heráclito Fortes (PFL-PI), que estaria por trás do depoimento de Francenildo. Fortes reage com fúria a esta versão. O empresário, Eurípedes Soares da Silva, é de fato o dono dos R$ 25 mil depositados na poupança do caseiro. Diz, porém, que não pagou para fazê-lo falar contra Palocci, mas para fazê-lo calar sobre o fato de ser seu filho, fruto de um caso extraconjugal.
Correio Brazilense
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