Jardineiro pode ter levantado suspeita
O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) disse ontem, durante depoimento do caseiro Francenildo dos Santos Costa à Corregedoria do Senado, que um senador do PT comentou com ele ter ouvido "suspeitas" sobre a movimentação financeira do caseiro horas antes da violação da sua conta pela Caixa Econômica Federal.
A oposição suspeita que essas informações obtidas pelo senador petista, de uma suposta "testemunha" que depois teria se recusado a falar, podem ter sido a origem da operação clandestina desencadeada por autoridades do governo federal para quebrar o sigilo do caseiro. A quebra culminou na queda, anteontem, do ministro Antonio Palocci e do presidente da Caixa, Jorge Mattoso.
Segundo Suplicy, a conversa com o colega ocorreu na manhã do dia 16 no gabinete da liderança do governo no Senado. A violação da conta ocorreu naquela noite.
O senador, cuja identidade não foi confirmada por Suplicy, seria Tião Viana (PT-AC), articulador político de Palocci na CPI dos Bingos -Suplicy disse apenas que o colega "é próximo do [ex-]ministro". Procurado ontem à noite, Viana não foi localizado.
Com base no que disse Suplicy, o caseiro deu uma possível explicação. A suposta "testemunha" seria um jardineiro que trabalhava numa casa vizinha à do Lago Sul, com quem costumava conversar. Meses antes do depoimento à CPI dos Bingos, Francenildo teria dito ao jardineiro que tinha dinheiro suficiente para adquirir um terreno por cerca de R$ 15 mil.
Ao ver na TV as revelações do caseiro, o jardineiro teria feito uma ilação entre o dinheiro recebido por Francenildo e a decisão dele de narrar o que viu na casa. Essa suspeita teria chegado a Viana, que pode tê-la encaminhado a Palocci. O caseiro disse que dinheiro referido para a compra do lote é parte dos mesmos R$ 25 mil depositados pelo seu suposto pai biológico, o empresário Eurípedes Soares -que confirma os depósitos, mas nega a paternidade.
O corregedor do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), disse que haverá uma diligência para localizar o jardineiro e a casa em que trabalharia. A senadora Heloisa Helena (PSOL-AL) cobrou uma investigação sobre a identidade do senador do PT. "Pode não ser nada. Mas poderá passar a ser muito grave se essa informação foi utilizada por um senador para comunicar a uma autoridade."
O líder do PSDB na Casa, Arthur Virgílio (AM), ironizou a informação trazida por Suplicy: "Um caseiro já derrubou parte do governo. Tomara que um jardineiro não faça cair o resto".
No depoimento, o caseiro foi proibido de falar sobre as visitas de Palocci à casa do Lago Sul. O corregedor disse que a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) que suspendeu o depoimento do caseiro na CPI impede esse tipo de pergunta na Corregedoria.
Vice da Caixa
A vice-presidente de Tecnologia da Caixa, Clarice Copetti, disse ontem, ao ser questionada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR) na CPI dos Bingos, que os dados de movimentações financeiras atípicas são repassados à Superintendência de Controle Interno da Caixa para, depois, serem enviadas ao Banco Central. "Até hoje foram 55 informações [sobre movimentações atípicas]", disse ela.
Para Dias, isso mostra que Mattoso não precisava ter se empenhado pessoalmente para entregar o extrato a Palocci.
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