12.3.06

Eletrobrás é acusada de "empreguismo"

Segundo ex-presidente da subsidiária Lightpar, empresa é "cabide de empregos" do PT; atual dirigente nega

A Eletrobrás, estatal que controla o setor elétrico no país, mantém há anos uma estrutura considerada cara e inútil que abriga pessoas ligadas a uma dobradinha PT-PMDB recebendo salários mensais de R$ 14.350.
Eles estão alojados no Rio na Lightpar, subsidiária da Eletrobrás criada para controlar a Eletronet, uma relíquia da "bolha da internet", que estourou em 2000.
A situação da Ligthpar e de outros empregados da Eletrobrás está levando os funcionários a protocolar denúncias na CVM (Comissão de Valores Mobiliários) contra o que consideram "abusos" em relação aos acionistas minoritários -entre eles, os próprios funcionários.
Isso ocorre no momento em que a Eletrobrás se prepara para tentar lançar títulos (os chamados ADRs) na Bolsa de Valores de Nova York, em maio.
Segundo a Aeel (Associação dos Empregados da Eletrobrás), há cerca de 40 assessores encaixados nas diversas diretorias, departamentos e subsidiárias (58% dos quais não pertencem aos quadros da estatal) que provocam gastos mensais da ordem de R$ 600 mil.
O caso da subsidiária Lightpar, segundo seu ex-presidente Joaquim de Carvalho, é um exemplo de "cabide de empregos" no sistema elétrico estatal brasileiro.
A Lightpar nega que haja contratações políticas ou desnecessárias.

"Honorários elevados"
Carvalho foi convidado a assumir a Lightpar em março de 2005, depois que um escândalo abalou a imagem da empresa. Seu antecessor, o ex-deputado José Eudes (PT), foi preso em flagrante em um motel do Rio com um garoto de 17 anos.
Alguns meses depois de assumir a Lightpar, Carvalho enviou em outubro passado carta ao ministro Silas Rondeau (Energia) em que sugeria o fechamento da empresa. Disse que a Lightpar existia "só para pagar salários" a pessoas sem "atividade-fim".
Duas semanas depois da carta, Carvalho foi convocado pelo presidente da Eletrobrás, Aloísio Vasconcelos, para uma reunião, na qual foi convidado para ser "consultor" da presidência da empresa, "com honorários elevados e horário flexível".
Carvalho recusou o convite, por achar que queriam "demiti-lo para cima", e deixou a Lightpar.
Procurado desde quarta-feira, o presidente da Eletrobrás não respondeu aos pedidos de entrevista da reportagem.
A Lightpar é presidida hoje pelo sindicalista Rogério Silva, que, na gestão de Marta Suplicy (PT), foi chefe-de-gabinete da Prodam, empresa de processamento de dados da cidade de São Paulo.
O diretor financeiro é Nelson Rocha, ex-secretário estadual da Fazenda na gestão de Benedita da Silva (PT) no Rio. Além de Rocha, a empresa tem mais dois diretores: Márcio Siqueira (técnico) e Carlos Evandro (administrativo), ligados ao PMDB de Minas, o primeiro da "ala Itamar", o outro, da "ala Newton Cardoso", que é a mesma de Aloísio Vasconcelos.

Salários e adicionais
Cada diretor recebe salário mensal de R$ 14.350, sendo que os de fora do Rio (Rogério, Márcio e Evandro) ganham um adicional de R$ 1.800 por mês, a título de "auxílio-moradia".
Embora o atual presidente da Lightpar negue, pessoas ligadas à Eletrobrás afirmam que os diretores recebem 14 salários por ano e que os três "de fora" decidiram atribuir a si próprios R$ 28.700 (dois salários cada um) em 2005 para custear despesas com suas mudanças. Eles já moravam no Rio de Janeiro.
Há ainda dois "colaboradores da presidência" com proventos que chegam a R$ 10.600. Na mesma faixa salarial constam um consultor jurídico, um secretário-geral e um contador.
Com despesas maiores que suas receitas, a Lightpar acumulou prejuízo de R$ 742 mil entre janeiro e julho de 2005.
Os resultados completos do ano passado ainda não foram divulgados. A Lightpar tem como principal fonte de dinheiro pequenas participações acionárias em empresas do setor elétrico.
Segundo Carvalho, desde que a Eletronet faliu, em 2003, a Lightpar, que era a sua controladora, deixou de ter razão para existir.
A Eletronet é uma rede de fibras ópticas de 16.000 km que cobre o Brasil utilizando as linhas de transmissão de quatro empresas do grupo Eletrobrás. Foi criada para vender serviços de transmissão de dados, mas faliu afundada em dívidas, hoje em torno de R$ 600 milhões.

Massa falida
Atualmente, a Eletronet é administrada unicamente pelo advogado Isaac Zveiter, apontado como gestor da massa falida. Zveiter tenta sanear a empresa e almeja transformá-la em "noiva" para algum grupo de telecomunicações.
Questionado sobre as funções da Lightpar e sua razão de ser, seu atual presidente, Rogério Silva, diz que elas são duas, basicamente: administrar a carteira de participações que a Lightpar tem em menos de meia dúzia de empresas do setor elétrico (a maior delas de 1,34%) e encontrar uma solução para a falida Eletronet.
"Temos que acompanhar o negócio Eletronet. Estamos em fase de avaliação, pois temos de prestar contas ao síndico da massa falida. Por isso é que estamos nesse ritmo de trabalho e não conseguimos enxugar mais [a Lightpar]. Estamos tentando ajudar a salvar o negócio Eletronet", diz Silva.
Já Zveiter, síndico da massa falida da Eletronet, tem outra avaliação. "A Lightpar não apita nada. Eles se declararam incapazes de tocar a empresa com a falência. Não tenho diálogo com o pessoal da Lightpar. Eles não têm nenhuma contribuição a dar", diz.
Folha

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