8.3.06

‘Vou ser cassado por isso?’

A confiança do ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP) em sua absolvição ontem no Conselho de Ética se transformou em nervosismo ao longo da leitura do relatório em que o deputado Cezar Schirmer (PMDB-RS) o acusa de ter sido beneficiado por recursos do valerioduto, de mentiras e de omissão e pede a cassação de seu mandato. O relatório foi considerado por integrantes do Conselho o mais consistente apresentado até agora e classificado pelos deputados de demolidor e magistral.

A certeza de que arrebanhara prestígio como presidente era tanta que João Paulo ligou para aliados pedindo que não requeressem o adiamento da votação, com pedido de vista. Quando viu que a cassação seria aprovada, voltou atrás e deu o sinal verde para que a deputada Ângela Guadagnin (PT-SP) pedisse vista do relatório. A votação será na próxima terça-feira.

O relator considerou que o petista mentiu sobre o saque de R$ 50 mil feito por sua mulher, Márcia Milanesi, das contas de Marcos Valério no Banco Rural; e sobre o recebimento de vantagens do empresário mineiro — uma caneta Montblanc e uma viagem para a secretária Silvana Japiassu — enquanto a empresa SMP&B ganhava uma licitação milionária na Câmara em sua gestão.

Completamente transtornado, falando num tom descontrolado e raivoso, João Paulo culpou a imprensa e mostrou decepção com os companheiros deputados:

— Meu Deus do céu! Vou ser cassado por isso? Quer dizer que tudo que eu fiz à Câmara, com a modéstia devida, não valeu nada??

Relacionamento com Valério era intenso

No relatório, Schirmer cita o relacionamento de João Paulo com Marcos Valério e sua gestão na presidência da Câmara. Afirma que o contato entre os dois era intenso, que mantiveram reuniões de interesse privado, e que a origem e o destino dos R$ 50 mil sacados na agência do Banco Rural em Brasília eram espúrios. Desmontou a versão de que a Márcia foi ao Rural reclamar do valor de uma conta da TV a cabo, mostrando que o boleto fora postado para a casa do deputado em Osasco dia 3 de setembro. Não haveria, assim, tempo hábil para que fosse entregue e depois despachado para Brasília para que ela levasse o papel ao banco no dia 4.

Schirmer apelou aos julgadores para que não se deixassem levar pelo prestígio de João Paulo. Citando Napoleão, disse que “toda a indulgência pelos culpados anuncia uma conivência”, afinal “a política e a moral devem ter a mesma repulsa pela pilhagem”.

Schirmer argumentou que ao receber dinheiro da empresa de Valério, contratado pela Câmara, o deputado não objetivou o interesse público. Recebeu, sim, em proveito próprio, vantagem indevida no exercício da atividade parlamentar. O relator usou as expressões omissão intencional de informações relevantes, proveito próprio, intermediação e subcontratações indevidas, mentiras e omissões para classificar as irregularidades.

— Ele confiou muito no prestígio como ex-presidente. Mas depois desse relatório foi ficando branco, suando frio, a cada página lida ele ficava mais deprimido. Essa é uma profunda reflexão sobre a extensão do poder — disse Chico Alencar (PSOL-RJ).

— O relatório é vulcânico. Ele ficou desesperado! — completou Nelson Trad (PMDB-MS).

Deputado diz que relator abusou da criatividade

Antes da leitura do voto, João Paulo reiterou sua inocência. Disse que quando recebeu os R$ 50 mil das contas de Valério estava seguro de que o dinheiro era do PT e que lhe havia sido dado pelo tesoureiro do partido. Reclamou da imprensa, culpando-a por inventar a versão de que mandou a mulher ao banco para resolver um problema com a TV por assinatura.

— É impressionante o desleixo com as informações! Isso me lembra o caso do deputado Ibsen Pinheiro. Mas a vida é assim. Nas guerras a primeira vitima é a verdade. Aqui também é assim — desabafou. — Digo que não sabia a origem dos recursos e minha palavra não vale?

Quanto à acusação de irregularidades nos contratos entre a Câmara e a SMP&B, João Paulo disse que a prestação de contas está na internet. Logo após a sessão, João Paulo divulgou nota acusando Schirmer de partidarismo e parcialidade. Disse que o relator abusou da criatividade ao juntar versões.

— Não usei um adjetivo sequer no relatório — rebateu Schirmer.
O Globo

3 comentários:

Anônimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on!
» »

Anônimo disse...

That's a great story. Waiting for more. »

Anônimo disse...

Very cool design! Useful information. Go on! » »