12.3.06

Guerra final na CPI dos Correios

Intenção de PT é aprovar substitutivo caso conclusão da CPI fale em "mensalão" e cite Lula; Serraglio deve ter o apoio do PMDB
Oposição domina votação de relatório


No momento crucial da CPI dos Correios, a votação do relatório final, o governo não contará com a maioria, mesmo apertada, que teve nesses dez meses de trabalho. A oposição pode ter até 18 votos, contra 13 da base aliada, caso o PT insista na idéia de apresentar um substitutivo ao texto do relator.
No pior cenário para a oposição, a vantagem é de 16 a 15. Isso porque há parlamentares da base aliada insatisfeitos com o tratamento dispensado pelo PT e pelo Palácio do Planalto. Além disso o relator Osmar Serraglio (PMDB-PR) deve receber o apoio de integrantes de seu partido.
Durante o funcionamento da CPI dos Correios, os aliados derrubaram requerimentos de quebra de sigilo e de convocação considerados incômodos. Ela se contrapunha à CPI dos Bingos, que chegou a ser apelidada de "CPI do fim do mundo" devido à hegemonia da oposição, que ampliou as investigações para temas embaraçosos para o PT.
Governistas que integram a CPI dos Correios atribuem a mudança de cenário à falta de articulação política do Planalto, que estaria mais preocupado com as eleições de outubro. O governo ainda pode atuar para reverter esse quadro, substituindo membros da comissão, liberando emendas parlamentares ao Orçamento da União ou fazendo indicações para cargos públicos, por exemplo.
A cúpula da CPI ainda acredita, no entanto, na possibilidade de um acordo em torno do relatório final. Os moderados não vêem problema em atender alguns pleitos do PT, como o de não utilizar no texto o termo "mensalão".
Petistas querem que a suposta compra de apoio parlamentar pelo governo seja chamada de "pagamentos periódicos ilícitos a deputados, que teriam recebido dinheiro para mudar de partido ou para quitar compromissos eleitorais". Alguns teriam ocorrido perto de votações.
Integrantes do PT querem suavizar o documento e os moderados afirmam que o texto não precisa ser "midiático", mas o relator e a maioria da oposição está irredutível. "Essa expressão já foi cunhada, está identificada, e não há como não utilizá-la", disse Serraglio, que pretende mostrar no relatório que o "mensalão" existiu.
Alguns pontos são considerados inegociáveis até pelos moderados, como o suposta uso de dinheiro público no esquema montado pelo então tesoureiro do PT Delúbio Soares e pelo publicitário Marcos Valério de Souza. Os petistas não querem que isso esteja caracterizado no relatório, dizendo que há indícios, e não provas.
"Vou fazer a demonstração que tem dinheiro da Visanet, e esse dinheiro pertencia ao Banco do Brasil", disse o relator. "São coisas óbvias e evidentes. Dessa forma eles não querem que tenha relatório, querem embaralhar as coisas", disse o relator-adjunto Eduardo Paes (PSDB-RJ).
Outro ponto polêmico é a intenção do relator de escrever que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi avisado pelo deputado cassado Roberto Jefferson (PTB-RJ) da existência do "mensalão".
Um dos integrantes da base que deve votar com a oposição, apoiando o relatório de Serraglio, é o vice-presidente da CPI, deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA). Peemedebistas afirmaram que o deputado Jader Barbalho, seu correligionário, está tentando fazê-lo mudar de idéia, mas não teria conseguido até o momento.
Folha

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