"Mandei o dinheiro para evitar um escândalo"
Eurípedes Soares, empresário, diz que os R$ 25 mil eram para Francenildo comprar casa e desistir de pedir reconhecimento da paternidade
O empresário Eurípedes Soares, de 72 anos, dono da modesta Viação Soares, confirmou ontem que enviou um total de R$ 25 mil em três vezes para o caseiro Francenildo Santos Costa para que ele comprasse uma casa e desistisse de entrar na Justiça com um processo de reconhecimento de paternidade. "Para me amedrontar, ele disse que falaria para minha família. Aí, me derrubou todinho. Mandei o dinheiro para evitar um escândalo para minha mulher e minhas duas filhas", explicou. Segundo ele, o pagamento foi feito em três vezes e a primeira parcela foi tomada emprestada por um ex-funcionário de sua empresa.
Apesar do acordo, o empresário negou que seja o verdadeiro pai do caseiro. Gaguejando e com falhas de memória, Soares demonstrou nervosismo ao tocar no suposto relacionamento extraconjugal que teria tido com Benta Maria dos Santos Costa. "São 25 anos... nunca, nunca me lembro. Se tive um negócio desses com a mãe dele, que mora na cidade de Nazária, eu não lembro", defendeu-se.
Dono da Viação Soares, com 22 ônibus velhos, o mais novo é de 2002 e mais antigo data de 1979, o suposto pai de Francenildo é um homem modesto como sua empresa. Mora numa casa simples em um bairro de classe média e costuma andar pelas ruas de Teresina em uma picape Pampa e um Del Rey. O advogado Palha Dias, que o acompanhou na entrevista ao Estado, não quis que seu cliente falasse da possibilidade de fazer um teste de DNA.
Quanto o senhor pagou para Francenildo?
Um amigo meu me ajudou. Eu trabalho com duas filhas na minha empresa, a Viação Soares, e o Francenildo queria falar com elas para contar para minha família que eu era o pai dele. Eu fiquei nervoso e achei que poderia ter de dar satisfação para minha família, minha mulher em casa. Um rapaz que trabalhava comigo, de nome Antônio Alves Filho, perguntou o que estava havendo. Eu contei que não sabia de nada, que era inocente, que o Francenildo não tinha direito (ao registro da paternidade). Foi um acidente que aconteceu na vida dele. E eu nunca pensei que depois de vinte e tantos anos ele viesse pedir dinheiro. O Antônio tomou o dinheiro emprestado para mim porque eu não tinha na conta. Ele fez isso para me salvar porque eu estava nervoso demais. Ele fez os pagamentos. Na primeira vez, o Francenildo estava aqui e ele colocou o dinheiro na própria conta.
Qual foi o valor?
Um total de R$ 25 mil em três vezes.
Quando teve a conversa com ele?
Mais ou menos fim de dezembro, não lembro o dia direito.
Quantos encontros teve com ele?
Ele chegou a primeira vez conversou e eu disse para ele ir cuidar da própria vida. Eu falei: "Vai embora porque não sei nem quem você é." Aí, ele disse: "Você não sabe, mas vai saber." Eram 5 horas da tarde e eu fui assistir a uma missa. Depois ele veio uma duas ou três vezes. Isso ocorreu entre 10 de dezembro a começo de janeiro, porque ele dizia que estava de férias e teria de voltar para o emprego.
Qual eram os argumentos dele?
Era o de que a mãe dele tinha dito que o pai seria eu. Aí que falei para ele: "Que idéia é essa?" Eu disse que a mãe dele nunca tinha falado nada para mim. Agora, com tantos anos, ele vem dizer que é meu filho.
O senhor teve algum relacionamento com Benta, a mãe dele?
Não, eu não tive caso. Eu não sei disso.
O senhor não lembra?
São 25 anos. Eu não sei disso. Nunca, jamais lembrei. Nunca nem pensei na minha vida.
Então, por que o senhor mandou o dinheiro?
Para evitar um escândalo com minha mulher e minhas filhas. Eu nunca pensei que isso chegaria nesse extremo.
Mas o que foi que Francenildo disse para convencê-lo?
Contou que era casado, já tinha filho, que morava num barraco e queria comprar uma casa. Essa era a idéia dele. Queria que eu o registrasse como pai, mas eu disse que não tinha conhecimento daquilo. Para me amedrontar, disse que ia falar com minha mulher e minhas filhas. Aí, ele me derrubou todinho. Nunca pensei que isso pudesse acontecer na minha vida. Achei que foi a mãe que achou de dizer para ele, quando tinha 12 ou 14 anos, que eu era o pai.
O Francenildo chegou a pressioná-lo dizendo que trabalhava para o ministro Antonio Palocci?
Nunca, nunca, nunca. Não sei nem se ele conhecia. Disse que conhecia muita gente boa, que o chefe dele era advogado e, se eu não tomasse providências, moveria uma ação contra mim.
Por que o senhor não o desafiou a mover a tal ação?
Aí, eu, eu... O que faltou para mim foi coragem. Eu fiquei com medo e não queria que as coisas chegassem aonde chegaram. Eu fiz o acordo com ele porque fui obrigado.
O senhor não tem dúvidas se é ou não o pai dele?
Eu nunca achei que isso tivesse acontecido no passado.
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