2.3.06

Terras sem lei!!!

Madeireiros se armam para evitar desocupação no Pará
Acusados de invasão e grilagem prometem reagir a tentativa de retirada


Os madeireiros Sírio da Silveira Ferraz e Dirceu Moreira dos Santos, acusados de invasão e grilagem de terras públicas em Monte Alegre, no oeste do Pará, mandaram ontem um aviso para as autoridades fundiárias do Estado: não pretendem sair das áreas que ocupam e prometem reagir a qualquer tentativa de retirá-los. Pistoleiros armados montaram barreiras na mata para impedir a chegada de estranhos ao local onde grande quantidade de madeira foi armazenada.

Técnicos do governo que estiveram na região ficaram impressionados com a ousadia dos grileiros e com a devastação que já provocaram. Para derrubar a floresta, os invasores abriram 170 quilômetros de estradas clandestinas, aterrando lagos e igarapés.

Desmataram o que puderam, queimando o que sobrou para transformar tudo em campos de soja. Em Monte Alegre, que é um município do tamanho do Estado de Sergipe, um terço do território (700 mil hectares) está hoje em poder de invasores.

PROTEÇÃO

Ocorre que as terras invadidas estão localizadas em áreas de proteção especial do Estado, segundo decreto sancionado em agosto do ano passado pelo governador Simão Jatene (PSDB). O diretor de Fauna e Flora da Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente (Sectam), Lahire Dillon Figueiredo Filho, disse que Sírio Ferraz, Dirceu dos Santos e outros grandes grileiros terão de sair de qualquer maneira das terras, porque elas fazem parte do projeto de macrozoneamento ecológico-econômico do governo estadual.

Ele anunciou que uma força-tarefa, com apoio das Polícias Civil e Militar, terá de ir ao local com urgência para promover a retirada dos invasores. "Quanto mais o tempo passar, maiores serão os prejuízos causados à natureza", comentou Figueiredo Filho. Antes da operação, porém, o governo deverá ingressar na Justiça com pedido de liminar para reintegração de posse.

Sírio Ferraz nega que seja grileiro e se diz dono de mais de 30 mil hectares somente na região conhecida por Serra Azul. Seus familiares, amigos, fazendeiros e madeireiros do Paraná e de Mato Grosso seriam proprietários de outros 300 mil hectares em Monte Alegre.
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Polícia cerca área invadida por sem-terra no Sul do País

A Brigada Militar "congelou" a área invadida por cerca de 2 mil militantes do Movimento dos Sem-Terra (MST) na Fazenda Coqueiros, em Coqueiros do Sul, no noroeste do Rio Grande do Sul. Uma equipe de 30 soldados foi enviada à região para controlar todos os movimentos dos sem-terra e impedir a entrada de mais invasores na área. O comandante do policiamento do Planalto, coronel Waldir dos Reis Cerutti, disse que as patrulhas receberão reforços de outros 20 homens nesta quinta-feira.

Com a assistência jurídica da Federação da Agricultura no Rio Grande do Sul (Farsul), o proprietário da fazenda, Félix Guerra, vai comunicar hoje à Justiça de Carazinho que o MST descumpriu um interdito proibitório em vigor. A decisão judicial determinava que o movimento se abstivesse de entrar na propriedade rural.

Desde abril de 2004, os sem-terra ocuparam áreas da fazenda de 7 mil hectares três vezes e entraram na propriedade rural pelo menos outras quatro vezes para tentar plantar milho ou impedir que os funcionários fizessem a colheita.

O advogado da Farsul, Nestor Hein, disse que a expectativa é que a Justiça determine a imediata desocupação. Os sem-terra reuniram cerca de 2 mil pessoas, de 14 acampamentos, para invadir a Coqueiros na madrugada de terça-feira. Segundo o movimento, foi sua maior operação nesta década.

O capataz Dário Cagliari registrou a ocorrência na delegacia de Carazinho. No depoimento, afirmou que sete funcionários foram expulsos da fazenda por homens encapuzados e armados, durante a chegada do MST. O coronel Cerutti informou ontem que sua equipe observou os sem-terra construindo cerca de 300 barracos com madeira de uma serraria localizada dentro da fazenda.

Edenir Vassoler, um dos líderes do MST, disse que a expectativa dos invasores é que os governos federal e estadual negociem com o proprietário e cheguem a um entendimento para que a fazenda seja transformada em assentamento. "Calculamos que nesta área podem ser assentadas cerca de 500 famílias, gerando no mínimo 1,5 mil empregos diretos", ex-licou Vassoler.

O MST quis dar à ocupação caráter diferente do usual. Para isso, não ergueu imediatamente tendas de lona preta, como sempre faz, e começou a montar os barracos de madeira. Uma das primeiras construções, segundo a militante Ana Hanauer, que participa da coordenação do movimento, abrigará uma escola itinerante para as 400 crianças que estão entre os invasores. "As famílias estão dispostas a permanecer na fazenda", afirmou ela depois da invasão.
Estadão

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