Oposição acusa PT de romper acordo e avisa que acabou proteção
Tendência favorável a cassações ganha força
Os deputados Wanderval Santos (PL-SP) e João Magno (PT-MG) poderão ser os primeiros a sofrer as conseqüências da quebra do acordão que teria sido firmado entre os partidos envolvidos no escândalo do mensalão para absolver a maioria dos acusados. O rompimento se deu por causa da cassação do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), na quarta-feira da semana passada. Integrantes da legenda do pernambucano creditam a derrota no plenário à quebra de acordo por parte dos petistas e prometem não proteger mais ninguém. Agora, dizem, será cada um por si.
O presidente do PP foi cassado por quatro votos além do necessário. Até a cassação de Corrêa, com a vigência pacífica do acordo e as reclamações restritas aos integrantes do Conselho de Ética, a situação dos dois deputados que terão seu nomes submetidos hoje ao plenário era tranqüila e a cassação estava praticamente descartada. Ontem, o clima no PL e no PT era de apreensão quanto ao futuro de Wanderval e João Magno.
"Essa quebra do acordão pode ser um alento. É resultado do trabalho do conselho e da imprensa que escancarou o acordo. O acirramento é saudável pois vai deixar que cada deputado decida como vai votar, sem que o voto seja fruto de um acordo", afirmou Júlio Delgado (PSB-MG), integrante do Conselho de Ética.
A avaliação de deputados do PP ouvidos pelo Valor é de que pode sobrar até para o deputado e ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP). Se não houver nenhum recurso à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) ou à Justiça, o caso do petista poderá ser julgado na quarta-feira da próxima semana.
O grupo ligado a Corrêa também pretende iniciar uma "caça às bruxas", como definiu um de seus aliados, aos colegas de partido que votaram pela cassação. Chegam a nominar os votos contra, e apontam Ricardo Barros (PP-PR), Francisco Dornelles (PP-RJ), Júlio Lopes (PP-RJ), Leodegar Tiscoski (PP-SC), Francisco Turra (PP-RS), Dilceu Sperafico (PP-PR), Luiz Carlos Heinze (PP-RS) e Zonta (PP-SC) como os responsáveis pelo fogo amigo.
Aliados de Corrêa pretendem enfraquecer esse grupo dentro do PP. A começar por Dornelles, vice-presidente, que deverá assumir a presidência da legenda. Os aliados de Corrêa pretendem mantê-lo no cargo. "A lei 9.096 é clara: a cassação dos direitos políticos gera o fim até da filiação partidária", rebate Julio Lopes. O parlamentar defende a manutenção de Dornelles até as eleições, para ser restabelecida a "normalidade institucional".
Lopes não revela como votou no caso de Corrêa, mas ironiza a perseguição dos partidários do presidente do PP. "Não sei como alguém pode ter tanta certeza sobre como nós votamos, pois a votação é secreta. Não acredito em represálias, não", afirmou. E pediu a continuação da "vida partidária".
A crise no acordão vem se somar a uma pressão feita pelo presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), ao Conselho de Ética, na tarde de ontem. Acusado de retardar a votação dos processos de perda de mandato em janeiro, Aldo pediu mais agilidade. "Vou conversar com o presidente Izar. Para a próxima semana, não há relatório para ser votado. Só o do deputado João Paulo, mas apenas se não houver recurso", afirmou. E reclamou: "O conselho não pode analisar o processo de julgamento de um parlamentar durante o ano inteiro. Preciso cobrar um calendário", disse.
Pessoas ligadas a Aldo dão conta de que o presidente da Câmara não quer colocar o relatório de João Paulo para ser votado isoladamente. Nesse ano, Aldo tem adotado a fórmula de dois julgamentos a cada quarta-feira no plenário. Colocar o petista sozinho em uma noite poderia irritar o acusado, o PT e o Palácio do Planalto. Depois de José Dirceu (PT-SP), João Paulo é o nome de maior expressão entre os petistas acusados de envolvimento com o mensalão.
Izar rebateu as críticas de Aldo. "Na semana que vem o plenário pode votar o João Paulo. Não precisa colocar dois por dia", afirmou, ao informar que, com a votação do relatório de José Mentor (PT-SP) amanhã pelo conselho, esse processo também estará à disposição de Aldo. "Só restam mais três processos. Em 15 dias terminaremos tudo", afirmou Izar.
Na terça-feira, o conselho votará o processo contra o deputado Josias Gomes (PT-BA). Na semana seguinte, julgará Vadão Gomes (PP-SP). O caso de José Janene (PP-PR), licenciado por causa de graves problemas de saúde e com pedido de aposentadoria em tramitação, está nas mãos da Mesa Diretora.
A avaliação de alguns deputados é que Magno tem mais chances de escapar hoje à cassação do que Wanderval. Pesa contra Wanderval a acusação de ter se beneficiado de R$ 150 mil da conta da SMP&B no Banco Rural. Um assessor do parlamentar aparece como sacador do dinheiro. Já Magno, beneficiário de R$ 50 mil do valerioduto, reconheceu o recebimento do dinheiro, usado para quitar dívidas de campanha.
Valor
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