Chefe da Abin diz ter sido procurado por ex-ministro, que no auge da crise perguntou se "alguma coisa" poderia ser feita
O chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix, confirmou ontem a parlamentares que foi procurado pelo então ministro da Fazenda, Antonio Palocci, há cerca de duas semanas, no auge da crise da quebra ilegal do sigilo do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, preocupado com as pressões que ele e o governo estavam sofrendo. "Palocci foi até o gabinete do ministro (Félix) falar que o governo estava sofrendo de forte pressão e que ele (Palocci) era alvo da pressão e perguntou se podia ser feita alguma coisa", contou o líder da minoria na Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), sobre o relato feito pelo general.
Ainda segundo Aleluia, o ministro Félix contou que explicou a Palocci que essa não era atribuição do GSI. "Ele (Félix) cortou a conversa. Não houve um pedido formal de Palocci para que fosse feita uma investigação", afirmou o pefelista baiano, após a reunião com o ministro do Gabinete de Segurança Institucional. O general é superior hierárquico da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
As declarações do ministro foram repassadas por deputados e senadores que participaram do depoimento do general Félix em sessão reservada da Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso que durou 2 horas e 15 minutos.
Félix foi à comissão depois de revelação feita pelo Estado, na terça-feira, de que o então ministro da Fazenda teria pedido à Abin que investigasse Nildo, na tentativa de desqualificar o caseiro, que contou ter visto Palocci várias vezes em mansão de Brasília alugada por integrantes da chamada república de Ribeirão.
"CONSTRANGIMENTO"
Para alguns parlamentares que estavam na reunião, o general Félix não foi muito claro ao relatar se Palocci teria perguntado o que ele poderia fazer, mas que isso estava implícito na conversa. "Palocci tendo ido a ele (Félix) foi buscar uma espécie de socorro", afirmou o presidente da comissão, deputado Alceu Collares (PDT-RS). "Só a presença do ministro (Palocci) no órgão de informação já é um constrangimento para o seu titular. O órgão de informação deve informações ao presidente da República. Foi indevida a visita de Palocci ao ministro", continuou.
"O ministro não declarou que houve pedido de Palocci, mas que Palocci falou que o governo estava sofrendo uma pressão muito grande e pessoalmente ele. A partir daí não houve possibilidade de retirar do ministro (Félix) se Palocci tinha pedido para ele o que 'vocês podem fazer ou deixar de fazer'", insistiu Collares. "O ministro não explicitou a conversa. Ele não deu detalhes. Ele confirma laconicamente. Por mais que nós tenhamos questionado o ministro, nada foi explicitado", emendou a deputada Maninha (PSOL-DF), ao sair do encontro.
O deputado João Herrmann Neto (PDT-SP) disse que o ministro encerrava a frase no ponto em que Palocci falava das pressões. "Houve a conversa. Palocci disse da pressão, mas não pediu para a Abin investigar", contou Herrmann, sobre o depoimento do general Félix.
ENCONTRO COM LULA
O ministro relatou aos parlamentares que, um tempo depois, contou ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva que Palocci estava preocupado com as pressões. Mas o general, segundo os presentes à reunião da comissão do Congresso, não foi muito preciso sobre a data desse encontro com Lula, que teria ocorrido dois ou três dias depois de ele ter sido procurado por Palocci e na chegada de uma viagem presidencial a Curitiba.
O chefe do GSI foi ao Congresso acompanhado do diretor da Abin, Márcio Paulo Buzanelli, e levou por escrito o seu relato sobre o encontro com Palocci. O ministro, no entanto, não distribuiu o papel aos parlamentares. Buzanelli afirmou aos integrantes da comissão que a Abin não tomou nenhum procedimento de investigação no episódio do caseiro Nildo.
Os parlamentares que saíram do encontro consideraram que não houve participação da Abin nem do ministro em ação de investigação contra o caseiro. Para eles o depoimento do ministro foi satisfatório. "Tenho a impressão de que ele não tem mais nada para informar", concluiu Collares. "Estou satisfeito. Acho que a Abin não entrou nisso", afirmou Aleluia.
Estadão
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