11.4.06

Buratti & Palocci

Palocci ia à "casa do lobby", confirma Buratti
Advogado diz, porém, que no imóvel não eram feitos negócios ilícitos e tentativa de empresas fazerem negócios com governo não teve êxito.


O caseiro Francenildo Costa ganhou companhia. O advogado Rogério Buratti disse em entrevista à Folha que se encontrou três vezes com o ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda) na chamada "casa do lobby". Afirmou, porém, que nunca foram feitos negócios ilícitos na casa.
Palocci sempre negou ter freqüentado a mansão no Lago Sul, em Brasília. Buratti, em três depoimentos à CPI dos Bingos, também afirmou que jamais vira Palocci na casa.
"Eu sempre neguei na CPI que tivesse visto o ministro na casa porque isso criou um constrangimento muito importante na minha vida. Até hoje, as pessoas falam que minha atual namorada é uma menina que freqüentava a casa em Brasília e não é verdade."
Foi por causa desse aspecto moralista, segundo Buratti, que a casa, freqüentada por ex-assessores de Palocci em Ribeirão Preto (SP), acabou criminalizada. Essa visão seria um equívoco, porque nunca foram realizados na casa negócios envolvendo dinheiro público.
Buratti diz que só agora resolveu falar sobre os encontros com Palocci na casa porque não vê "isso como um problema", já que a casa não foi usada para negócios ilícitos.




Folha - O caseiro Francenildo diz que viu o sr. e Palocci jogando tênis na "casa do lobby". Isso ocorreu?
Buratti - Ocorreu uma vez, num sábado. Estávamos eu, Ralf [Barquete, ex-assessor de Palocci morto em 2004] e Palocci.

Folha - Quantas vezes o sr. encontrou o ex-ministro naquela casa?
Buratti - Três vezes, no máximo.


Folha - Que tipo de assunto o sr. e Palocci discutiam na casa?
Buratti - Assuntos gerais, principalmente de Ribeirão Preto. Ele queria ouvir o que estava acontecendo. E a mim interessava, como representante da Leão Leão, verificar a possibilidade de participar de obras ou de projetos do governo, no que, infelizmente, nunca obtive êxito.


Folha - O sr. sabe que empresas tiveram sucesso nessa empreitada?
Buratti - Até o ponto que acompanhei o movimento da casa nenhuma empresa tinha tido êxito nos negócios com o governo federal. Tinha o Roberto Carlos Kurzweil, da REK. Tinha a Procomp, por meio do Ruy [Barquete], que utilizava a casa não para negócios da Procomp, mas como um ponto de apoio pessoal. Tinha os negócios do José Roberto Colnaghi [empresário em cujo jatinho Palocci pegou carona], que não tinham prosperado. Não era a intenção da casa ser um ponto de lobby, como dizem agora.


Folha - Qual era a intenção?
Buratti - Ser um ponto de apoio para empresários que buscavam, legitimamente, atividades comerciais em Brasília. Não se formou a casa para fazer atividades ilícitas e, até onde eu sei, e tenho a convicção de que sei muito sobre essa casa, não houve nenhum tipo de negócio ilegal, não houve festas. A casa foi um erro. O objetivo não foi atendido, só deu problema.


Folha - O caseiro contou ter visto festas com garotas de programa. Buratti - As pessoas que freqüentavam a casa à noite, como amigos, levavam acompanhantes boa parte das vezes. Isso não significa que havia festas e que as festas tinham objetivos comerciais. Essa foi uma das grandes dificuldades para admitir a existência da casa. Acabou parecendo que era a casa dos prazeres. Cada pessoa que tem atividades em Brasília e quer receber uma acompanhante não precisa ter uma casa. Essa atividade que o Francenildo disse haver certamente deve ter havido. Duas, três ou quatro pessoas que levaram umas meninas para a casa... Atividades que não são comerciais, são particulares.


Folha - Isso não tinha a ver com lobby? Quem pagava as garotas?
Buratti - Cada pessoa que freqüentava a casa e resolvia levar uma garota de programa ou não para dentro da casa se responsabilizava pelo pagamento da garota. Na verdade, está sendo revelada por meio da casa uma atividade cotidiana em Brasília. As meninas que freqüentavam aquela casa hoje continuam freqüentando outros lugares em Brasília e fazendo a mesma coisa. Não existe um antes e depois da "casa do lobby".


Folha - O sr. já disse que pagava parte das despesas da casa com a verba que recebia da Leão Leão. Que outras empresas ajudavam a sustentar a casa?
Buratti - Todas as empresas que usaram a casa devem ter contribuído. Acredito que a REK possa ter contribuído, acredito que a Procomp possa ter contribuído, as empresas do Colnaghi.


Folha - O Vladimir Poleto [ex-assessor de Palocci em Ribeirão] gerenciava a casa?
Buratti - O Vladimir é que gerenciava. Foi ele que percebeu que várias empresas tinham interesse em ter um espaço em Brasília e teve a iniciativa de montar aquele imóvel com a expectativa de fazer um escritório de negócios. Mas nunca houve ali negócios com dinheiro público.


Folha - Por que o ministro não reconhece que freqüentou a casa?
Buratti - Porque a casa ganhou contornos morais. As negativas dele devem ter a ver com esse aspecto moral. Eu sempre neguei na CPI que tivesse visto o ministro na casa porque isso criou um constrangimento muito importante na minha vida. Até hoje as pessoas falam que minha atual namorada é uma menina que freqüentava a casa em Brasília, e não é verdade. Essa questão, como me incomoda muito até hoje por invadir a privacidade, deve ter incomodado o ministro.


Folha - Por que só agora o sr. decidiu revelar que viu Palocci na casa?
Buratti - O ex-ministro Palocci é uma pessoa por quem tenho profundo respeito. A questão fundamental é: há ou não há ilicitude na casa? Se desde o começo a gente tivesse tratado isso com tranqüilidade -"olha, eu freqüentei aquele imóvel, amigos meus de Ribeirão buscavam fazer negócios a partir dele, mas não há atividade ilícita que eu tenha feito ali". Resolvi falar porque não vejo mais isso como um problema. Admitir isso deve tranqüilizar as pessoas. O que deve ser focado é: houve negócios ilícitos a partir da casa que devam ser investigados? Se as pessoas encontravam mulheres, é um problema particular delas, não um problema público. A casa ganhou uma dimensão maior do que devia ter. Quem conhece Brasília sabe que existem vários outros escritórios que funcionam da mesma forma e não são alvo de investigação, até porque não praticam atividades ilícitas.
Folha

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