6.4.06

Jornalista levantou a suspeita!

Jornalista levantou suspeita sobre conta do caseiro
Helena Chagas, de 'O Globo', vizinha da mansão usada por lobistas, tem jardineiro que era amigo de Nildo


Três semanas após a violação do sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa, um episódio permanece obscuro: a informação de que Nildo teria na conta bancária um valor incompatível com o salário de caseiro. Em seu depoimento à Polícia Federal, o ex-ministro Antonio Palocci começou a esclarecer esse ponto - disse ter tomado conhecimento de que Nildo teria uma quantidade de dinheiro possivelmente suspeita a partir de informação da jornalista Helena Chagas, diretora da sucursal do jornal O Globo, em Brasília.

A declaração de Palocci e outra do senador Eduardo Suplicy (PT-SP), feita durante a sessão da CPI dos Bingos em que Nildo foi ouvido, pode explicar a origem da suspeita sobre o caseiro, que culminou com a devassa fiscal e bancária.

A jornalista mora numa casa vizinha à que ficou conhecida como a mansão da república de Ribeirão, alugada por ex-assessores de Palocci no Lago Sul, bairro nobre de Brasília. O jardineiro de Helena, conhecido de Nildo, teria comentado com os patrões sobre o interesse do caseiro em comprar um lote. Já teria, ainda, recebido parte do dinheiro para fechar o negócio - algo em torno de R$ 15 mil.

Na tentativa de apurar melhor o fato, Helena teria comentado o episódio com o senador Tião Viana (PT-AC), líder do governo no Senado, que repassou a informação a Palocci. Este, então, procurou a jornalista para tentar saber mais detalhes.

Mesmo sem obter qualquer informação a mais, conforme nota formal do jornal O Globo, Palocci deflagrou o processo de violação da conta de Nildo, em operação que ele nega, mas da qual a Polícia Federal tem certeza de que foi o mandante.

A esperança do ex-ministro de que o saldo de Nildo provasse que ele recebera para fazer as denúncias que foram publicadas pelo Estado, no dia 14, fez com que acionasse várias instâncias da burocracia do Estado. Foi uma seqüência de operações até que o extrato de Nildo fosse parar na redação da revista Época, que divulgou as informações sigilosas.

A revista é a única que detém a identidade do mensageiro de Palocci. Como tem a prerrogativa legal de preservar o sigilo da fonte - e a exercerá, segundo seu diretor, Hélio Gurowitz -, resta tentar a confirmação desses fatos tomando os depoimentos da jornalista, de seu jardineiro e aguardar o pedido de quebra de sigilo dos envolvidos. Para chegar a uma conclusão, a PF vai investigar Palocci, o ex-presidente da Caixa Jorge Matoso e Marcelo Netto - assessor de imprensa do ex-ministro.

Helena está em férias e, segundo a nota do jornal, ela "foi realmente procurada pelo ministro Palocci, que buscava obter informações sobre uma possível movimentação financeira estranha do caseiro".

Informa ainda O Globo: "A jornalista disse ao ministro que o jornal tomou conhecimento dessa versão, que circulava em Brasília, mas que não ela não foi confirmada. Por isso, o jornal nada publicou a respeito." Helena e o jardineiro serão convocados para depôr.
Estadão