16.5.06

Offshores de Duda

Offshores ligadas a Duda receberam US$ 1,6 mi em 2003

A mais nova leva de documentos encaminhada ao Brasil pelas autoridades norte-americanas revela que três empresas offshores ligadas ao publicitário Duda Mendonça receberam US$ 1,59 milhão entre junho e julho de 2003, por meio de remessas realizadas no mercado financeiro dos Estados Unidos. O dinheiro saiu da conta bancária da Dusseldorf, offshore que pertence ao publicitário e foi utilizada para receber de forma ilegal pagamento por serviços prestados ao PT.

Conforme os documentos, que fazem parte do inquérito no qual se investiga o mensalão, a operação de crédito mais expressiva foi para a conta da Pirulito Company Ltd., cujo procurador é Eduardo de Matos Freiha, sócio de Duda.

Da mesma forma que a Dusseldorf, a Pirulito Company Ltd. tem sede nas Bahamas. Sua conta bancária foi aberta em 16 de junho de 2003, no BankBoston de Miami (EUA). No dia 2 de julho, a empresa recebeu US$ 875.338 .

Em 18 de junho do mesmo ano, a Dusseldorf mandou, também pelo BankBoston em Miami, US$ 218 mil para a conta da Raspberry Company e outros US$ 500 mil para a da Sttutgard Company Ltd., esta última aberta dois meses antes.

A maior parte desses recursos foi posteriormente repassada para as contas das offshores Agata e Maximus, que pertencem a doleiros e movimentaram milhões pelo MTB, banco investigado nos Estados Unidos por suspeita de prática de lavagem de dinheiro.


1997 a 2000
As operações da Agata com Duda e associados até então conhecidas estendiam-se de 14 de janeiro de 1997 a 12 de julho de 2000. A base de dados do MTB, obtida pela já extinta CPI do Banestado, registra oito operações em nome do publicitário, num total de US$ 668,2 mil. Outros 14 depósitos e recebimentos são atribuídos a Zilmar Fernandes da Silveira, sócia de Duda Mendonça.
A Agata, que movimentou mais de US$ 600 milhões, segundo a Polícia Federal, pertence aos doleiros Roger Clement Haber e Myrian Haber. Eles vivem no Brasil, mas não foram localizados na última sexta-feira pela Folha.

Os documentos relacionados a Duda, que foram trazidos com base em tratado de cooperação internacional e por meio do DRCI (Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional) do Ministério da Justiça, também registram que o dinheiro da Dusseldorf irrigou outras quatro contas de pessoas físicas que pertencem ao próprio publicitário, a familiares dele e a sua sócia Zilmar.

A conta de número 01122642, aberta em 15 de setembro de 1994, em nome de Duda e de seus filhos Eduarda, Leonardo e Alexandre, apresentava um saldo de US$ 7,5 milhões em janeiro de 1999. Durante o tempo em que esteve ativa, ao longo de 2002, a Dusseldorf girou US$ 10,5 milhões no sistema financeiro norte-americano.

Duda e Zilmar estão entre as 40 pessoas denunciadas ao Supremo Tribunal Federal pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando Souza, por suposto envolvimento com irregularidades relacionadas ao mensalão. São acusados de praticar os crimes de evasão divisas e lavagem de dinheiro, devido às operações financeiras realizadas no exterior à revelia da Receita Federal.


Lavagem de dinheiro
Ao comentar na denúncia essas operações, o procurador-geral afirma que, "conscientes de que os recursos recebidos tinham como origem organização criminosa voltada para a prática de crimes contra a administração pública e contra o sistema financeiro nacional, os denunciados deliberadamente articularam esquema para dissimular a natureza, origem, localização, movimentação e a propriedade dos valores".

Em nome de Duda, seus familiares e sócios, o advogado Tales Castelo Branco disse à Folha na tarde de sexta-feira que seu cliente não comentaria o assunto, mantendo a conduta que adotou desde que o publicitário se apresentou à CPI dos Correios. Segundo Castelo Branco, o foro correto para tratar desse tema é o Poder Judiciário, mais especificamente o Supremo Tribunal Federal, no qual seus clientes foram denunciados. No ano passado, Duda revelou a existência da Dusseldorf e disse que essa seria sua única conta no exterior. Ao ser questionado novamente pela CPI, em 15 de março deste ano, Duda silenciou.