29.5.06

Exportações podem cair

Meirelles: exportações podem cair
Para presidente do BC, vendas externas do País correm risco com a desaceleração na economia mundial

GOIÂNIA - A economia mundial poderá entrar em uma fase de desaceleração, alertou o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles. "Não acredito num arrefecimento muito grande da atividade", afirmou. "O mais provável é que ocorra um arrefecimento moderado." Para o Brasil, a conseqüência poderá ser a queda nas receitas com exportações. "Os mercados já sinalizaram na semana passada que os preços de algumas commodities poderão cair", comentou. Se essa é uma tendência, porém, é algo que ainda não se pode avaliar. "Os mercados podem ter feito alguma antecipação", comentou Meirelles, no Conselho Regional de Contabilidade de Goiás.

Para Meirelles, o País tem de estar preparado para enfrentar esse quadro não tão favorável. Para isto, será necessário, de acordo com o presidente do BC, manter as principais linhas da política econômica conduzida pelo governo. "Não é porque está tudo dando certo que podemos relaxar e gastar um pouco mais", alertou. "Não podemos ser complacentes."

Os compromissos com uma política monetária responsável, a austeridade fiscal e o câmbio flutuante garantiram, na visão de Meirelles, uma melhora dos fundamentos econômicos do País nos últimos três anos. "Se compararmos a evolução da semana passada com o que aconteceu em 2002, vamos ver que o Brasil melhorou muito", afirmou. Ele lembrou que, no passado, os efeitos de uma crise internacional sobre o Brasil eram muito mais fortes. "Agora não. Quem sabe uma gripe forte lá fora possa até ser uma gripe mais fraca aqui."

Para Meirelles, se forem mantidas as linhas da atual política econômica, o Brasil estará pronto para suportar uma eventual elevação dos juros nos Estados Unidos em níveis acima do esperado. "O Brasil hoje tem do comercial acumulado em 12 meses de US$ 45 bilhões, uma conta corrente positiva e reservas internacionais em quase US$ 64 bilhões", disse. É uma situação confortável. No passado recente, o País teve de se financiar em mercado mesmo em condições desfavoráveis por não ter os recursos necessários para enfrentar uma conjuntura adversa.

CRESCIMENTO

Mantido o rumo da política econômica, o País poderá crescer acima de 4% em 2007, disse Meirelles. Para este ano, ele mantém a previsão otimista de uma expansão de 4%.

Para alcançar esses resultados, insistiu, será necessário o cumprimento da meta de superávit primário de 4,25% do Produto Interno Bruto (PIB). "Mantendo a disciplina fiscal é que o Brasil continuará crescendo", afirmou.

Meirelles, porém, evitou dar indicações sobre a decisão que será tomada nesta semana pelo Comitê de Política Monetária (Copom).

Apenas admitiu que o Copom levará em conta a atual conjuntura econômica. "Vamos analisar toda essa questão", disse. Para alguns analistas de mercado, o Copom poderá ser mais conservador na redução das taxas em função do agravamento do quadro internacional e da conseqüente alta do dólar.

O presidente do Banco Central confirmou ainda que o governo continua empenhado nas mudanças da atual legislação cambial. "A legislação cambial será modernizada. Como em todos os países do mundo, esta é uma tendência natural", afirmou. As alterações em discussão, segundo Meirelles, poderão ser profundas.

Ele não descartou sequer a possibilidade do fim da chamada cobertura cambial, que obriga os exportadores a trazerem para o Brasil os dólares obtidos com a venda de produtos no exterior. Essa é uma questão polêmica.

Na semana passada, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que o governo não pretende acabar com a cobertura cambial, mas buscar uma solução "híbrida". A idéia, explicou Mantega, é criar algum mecanismo que garanta este benefício apenas para as empresas que fazem grandes volumes de exportações e importações. Com isso, seria possível reduzir custos. A medida também ajudaria a conter a queda da cotação do dólar ante o real. Com menos dólares ingressando no País, cairia a oferta de dólares no mercado interno.
Estadão