BB-Visanet e Bahamas

Dinheiro da operação BB-Visanet foi para as Bahamas
Tribuna da Imprensa

BRASÍLIA - A CPI dos Correios descobriu indícios de que uma parte do dinheiro público da operação BB-Visanet foi remetida pela corretora Natimar, ligada ao doleiro Najun Turner, para uma conta no Rural International Bank Ltd., braço do Banco Rural no paraíso fiscal de Nassau, nas Bahamas. A papelada em poder da comissão revela que a Natimar fez duas remessas que somam R$ 578 mil à conta no Rural das Bahamas pertencente à offshore Discovery SRL, cujo titular é desconhecido.

A CPI suspeita que esse dinheiro, remetido em agosto do ano passado, veio dos R$ 10 milhões repassados pela Visanet ao valerioduto. Essa desconfiança deve-se ao complicado caminho percorrido pelos recursos da operação BB-Visanet e às conexões financeiras entre a corretora Bônus Banval, que distribuiu dinheiro ao PT e ao PP, e a Natimar.

A cronologia do caso ajuda a entender a história. Em março do ano passado, a Visanet, que tem o Banco do Brasil como um dos acionistas, transferiu R$ 34,8 milhões para a agência DNA, do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, a título de "antecipação de receitas". Logo depois, Valério investiu o dinheiro e transferiu R$ 10 milhões desse total para o Banco BMG.

Mesmo com saldo em conta, o BMG formalizou um empréstimo justamente de R$ 10 milhões a Valério, quatro dias depois. Este é um dos empréstimos usados por ele para justificar a origem dos recursos do mensalão.

Acontece que a CPI rastreou o sigilo bancário das empresas de Valério e descobriu que pelo menos R$ 6,6 milhões desses R$ 10 milhões da operação BB-Visanet saíram das contas do valerioduto direto para a Bônus Banval. Essas transferências - oito no total - aconteceram entre o fim de abril e começo de junho do ano passado.

Segundo Enivaldo Quadrado, um dos donos da Bônus Banval, todo dinheiro depositado por Marcos Valério na corretora foi operado pela Natimar, por orientação do próprio empresário. Como a Natimar era cliente da Bônus Banval, tinha uma espécie de conta corrente dentro da corretora, como ocorre num banco.

Pela versão da Bônus Banval, a corretora era apenas um meio para a Natimar fazer operações de compra e venda de ouro e dólar futuro com o dinheiro repassado por Valério.

Segundo os extratos bancários da Natimar, as duas remessas para o exterior foram feitas dois meses depois das transferências de Marcos Valério para a Bônus Banval. Uma, de R$ 303.951,98, no dia 2 de agosto. A segunda, de R$ 274.787,58, no dia 9 do mesmo mês. As remessas correspondem a cerca de 8,5% do total depositado por Valério na Bônus Banval.

A descoberta das remessas animou a CPI. "É o primeiro elo entre a Natimar e o Banco Rural", comemora o sub-relator de Movimentação Financeira, deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR). "É uma grande coincidência que, logo depois de operar os recursos de Marcos Valério, a Natimar envie dinheiro justamente para o Banco Rural nas Bahamas."

Beneficiários finais
A CPI já requisitou ao Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) informações sobre a Discovery SRL, a empresa beneficiada pelas transferências. Nesta semana, os peritos da comissão vão pedir auxílio aos técnicos do Banco Central para rastrear o dinheiro do valerioduto movimentado pela Bônus Banval e pela Natimar. A comissão também vai tentar identificar os beneficiários finais desses recursos no exterior.

No papel, a Natimar pertence ao argentino Carlos Alberto Quaglia. A CPI, o Ministério Público e a Polícia Federal desconfiam que Quaglia é apenas um laranja do doleiro Najun Turner, que está preso por evasão de divisas. Apesar de movimentar milhões, o argentino possui como bens apenas um carro popular e uma pequena casa em Santa Catarina. Os extratos da Natimar mostram que familiares de Najun Turner recebiam grandes quantias de dinheiro da conta da corretora.

Por meio de sua assessoria, o Banco Rural informou que não poderia comentar as remessas, porque estaria quebrando o sigilo bancário de seus clientes.