15.12.05

Mercosul e OMC

Mercosul pode sair prejudicado se não se unir na OMC, diz analista
Marcia Carmo de Buenos Aires para BBC

Segundo analistas, a união dos membros do Mercosul ficou clara na 4ª Cúpula das Américas
Os países do Mercosul, acompanhados do G-20, devem insistir em tentar reduzir os subsídios agrícolas dos Estados Unidos e da União Européia, mantendo-se unidos nas discussões na OMC (Organização Mundial de Comércio) ou poderão prejudicar um ao outro.
Foi o que admitiu a especialista em comércio internacional, a professora da Flacso (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais), a economista argentina Diana Tussi.

"Se o Brasil abrir seu mercado para o trigo dos Estados Unidos prejudicará os produtores do setor da Argentina. O mesmo ocorrerá com as farinhas e milho", disse.

"E se a Argentina preferir comprar os frangos e suco de laranja subsidiados dos países ricos, vai prejudicar os produtores brasileiros."

Para ela, a reunião da OMC, em Hong Kong, dentro da Rodada de Doha, será apenas uma etapa, num processo que promete ser longo. E que, na sua opinião, poderá atrasar a possível implementação da Alca (Área de Livre Comércio das Américas).

"Enquanto esse jogo não estiver equilibrado, os quatro países, com forte potencial agrícola, não podem aceitar a abertura de mercado para bens industriais", disse.

Hong Kong

A reunião da OMC em Hong Kong se concentra em três temas: subsídios às exportações (com negociações bastante avançadas), subsídios internos (o que o Mercosul mais critica) e a abertura dos mercados.

O economista Ariel Schale, da Fundação Pro-Tejer, que reúne o setor têxtil, disse que o Mercosul está "unido" nestas discussões. E considerou "descartada", por exemplo, a redução da tarifa do bloco (Tarifa Externa Comum TEC) para favorecer similares de outros países.

“Vamos estar presentes porque há uma clara tendência a liberalização do comércio internacional. Tarifas menores serão um desafio ao desenvolvimento de cadeias produtivas comuns, que assim estariam mais preparadas para estes novos tempos", disse Ariel.

"Mas não queremos ser bucha de canhão ou moeda de troca, nessa reunião da OMC, onde as questões agrícolas interessam muito aos países do Mercosul", afirmou.

Ariel explicou que o setor têxtil argentino entende que a liberalização do comércio é inevitável.

Mas que para acompanhá-la, cada país deverá ter um tempo para adaptar sua estrutura e, provavelmente, reiterou, unindo sua cadeia produtiva.

Quando perguntado se as freqüentes diferenças que existem, hoje, no setor têxtil com os fabricantes brasileiros, acusados de "invadir" o território argentino, não poderiam dividir o discurso do Mercosul na OMC, ele respondeu: "Nós temos uma preocupação comum, a proteção do emprego".

E, nesse caso, com países ricos como Estados Unidos e os que formam a União Européia. Atualmente, informou, a indústria têxtil argentina gera 380 mil postos de trabalho e recebeu, nos últimos três anos, 1,5 bilhão de pesos em investimentos.

"Nós achamos que um dos inimigos desse processo de reindustrialização da Argentina, após trinta anos de destruição da indústria do país, pode estar na Rodada de Doha”, ressaltou.

União

A união do Mercosul ficou mais evidente, para os economistas Diana Tussi e Alejandro Mayoral, ex-secretário de Comércio, durante a 4ª Cúpula das Américas, em outubro, em Mar del Plata.

Ali, os países do Mercosul (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai), junto com a Venezuela, foram os únicos dos trinta e quatro países do continente (Cuba não participa do encontro) a rejeitar a Alca.

O argumento foi o de que primeiro deveria se esperar a reunião da OMC em Hong Kong, onde os subsídios agrícolas e as tarifas aos bens industriais estarão no centro das discussões.

Os quatro países do Mercosul são ricos em grãos (soja, trigo e farinhas, entre outros), mas para os especialistas ainda não está claro o que ocorrerá, nos diferentes setores, quando chegar a hora de redução de barreiras tarifárias aos produtos industriais, vindos dos países ricos.

"O Mercosul tem uma Tarifa Externa Comum (TEC) que está, no máximo, de 20%. Mas possui uma tarifa consolidada na OMC de 35%. Então, ele tem uma brecha de 15% que pode reduzir, sem ferir a TEC", disse. "O problema é pretender reduzir esta tarifa abaixo das regras em vigor. Aí, a indústria local dos países do Mercosul poderá ser prejudicada", disse.

Para a economista, a previsão é de que a reunião em Hong Kong marcará a etapa de propostas e só depois de definirá as discussões e negociações específicas.

"Minhas expectativas não são nada ambiciosas. Não acho que a Rodada (de Doha) vai ser concluída. Ainda há muita incerteza, mas também não acho que será um desastre. Não acho que vamos ter resultados como os de Cancún ou de Seattle. Nada disso", disse. "Acho que vai haver algum avanço superficial em um ou outro tema e um compromisso de se continuar negociando".

"Hong Kong 2"

Para ela, quando o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, referiu-se que haverá um "Hong Kong 2" quis dizer que "deverão ser adiadas as ambições de grandes acordos".
Mas que, ao mesmo tempo, em algum outro encontro, num curto prazo, poderia se chegar a resultados mais concretos.

A professora acredita que em Hong Kong poderão surgir, por exemplo, acordos sobre metodologias das negociações. Tipo de acordo, entende, que vai permitir que as negociações sejam "desbloqueadas", possibilitando que se chegue, em pouco tempo, ao que foi chamado de "Hong Kong 2".

Diana Tussi lembrou que o Mercosul não fez proposta individual sobre a questão agrícola. Nesse caso, a proposta foi feita, conjuntamente, com o G-20.

Mais pessimista que a economista, Alejandro Mayoral acredita que pouco ou nada se avançará nas reuniões da semana que vem.

E que o pano de fundo, tanto no setor agrícola quanto na área industrial, é o acesso aos mercados.

"Ao Paraguai e Uruguai, por exemplo, interessa muito mais ter o caminho dos países ricos abertos a seus produtos do que a discussão industrial em si. Essa interessa diretamente e, principalmente, ao Brasil", resumiu.

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