14.12.05

Haja fogo amigo

O Globo

É fogo amigo de todos os lados, já reclamaram líderes petistas, apesar de o presidente Lula tentar culpar a oposição pelas crises provocadas por disputas em seu governo e pelas denúncias de corrupção em apuração por CPIs no Congresso. À condução da política econômica os ataques são cíclicos, e cada vez mais intensos, partindo de dentro do governo. Do vice-presidente José Alencar à chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, do ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, à nova cúpula do PT. E as críticas aumentaram nas últimas semanas, justamente no momento em que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, estava fragilizado por causa das denúncias de corrupção envolvendo ex-assessores da época em que era prefeito de Ribeirão Preto.

Dilma chamou de rudimentar a proposta de ajuste fiscal de longo prazo elaborada pela área econômica. Paulo Bernardo, do Planejamento, reagiu. Palocci, irritado tanto com as denúncias sobre Ribeirão Preto quanto com os ataques da colega, pediu demissão ao presidente Lula, que teve reações contraditórias no episódio. Ele fora o primeiro a incentivar o debate no próprio governo, sinalizando que era preciso liberar todo o dinheiro previsto para investimentos no Orçamento e tentar reduzir o superávit primário. Depois, no tiroteio, cobrou o fim das divergências públicas, fazendo ora elogios a Palocci, ora a Dilma. Convenceu o ministro da Fazenda a ficar no cargo, conseguindo uma trégua entre Palocci e a chefe da Casa Civil, pelo menos publicamente. Mas já deixou claro que vai liberar mais a gastança em 2006, ano eleitoral, tendo decidido ontem mesmo que o salário-mínimo deverá subir para pelo menos R$ 340.

Quando estava aparentemente sob controle o estranhamento entre Palocci e Dilma, vem o diretório nacional do PT, no fim de semana passado, e aprova um documento cobrando mudanças na política econômica e a redução do superávit primário. O documento mostrou que o PT está não apenas rachado mas também cada vez mais distante do presidente Lula, tentando agradar às suas antigas bases, como as centrais sindicais e os movimentos populares. O Planalto evitou fazer eco aos petardos do PT, mas ministros e líderes petistas reagiram chamando de equivocada e inacreditável a decisão do partido.

Três dias depois, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, criticou a falta de objetivos do governo e disse que há um desânimo geral no país. De novo reagiram outros ministros e até o presidente do BNDES, Guido Mantega, subordinado a Furlan. Para agravar a crise, a oposição não tem precisado mover uma palha.

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