Promotor acha agora que morte de Daniel foi política
Salmo Santos, que em 2002 definiu crime como comum, mudou opinião sobre o caso
Paulo Moreira Leite para Estadão
Apareceu uma novidade sobre a morte do prefeito de Santo André Celso Daniel. Em abril de 2002, o promotor Salmo Mohamed dos Santos assinou a denúncia que apontava para um crime casual, cometido por uma quadrilha de bandidos comuns. Quase quatro anos depois, o próprio Salmo admite que mudou de opinião. Ele acha que foi um crime encomendado e concorda com a acusação feita pelo Ministério Público de que o petista Celso Daniel foi executado por ordem de um grupo de assessores que desviava verbas da prefeitura, entre eles Sergio Gomes da Silva, o Sombra.
A conversão de Salmo Mohamed dos Santos representa uma ruptura naquela força-tarefa formada em 2002 e que assumira a versão de que o prefeito fora executado em ação improvisada, obra de um grupo de bandidos de favela que após perder o rastro de um comerciante que pretendiam seqüestrar decidiram atacar "o primeiro carro importado" que aparecesse.
O promotor tem dito em conversas informais que nos últimos anos surgiram fatos desconhecidos na primeira fase das investigações. O fato principal foi o depoimento de um bandido, Ailton Feitosa, que fugiu da cadeia de helicóptero, com Dionísio de Aquino Severo, criminoso apontado pelos promotores como chefe operacional do seqüestro. Feitosa disse que no mesmo dia da fuga participou de duas reuniões onde foram discutidos vários detalhes do crime, que seria realizado no dia seguinte. Ele sustenta que nesses encontros se anunciou que o motorista da Pajero - o próprio Sombra - iria colaborar na captura do prefeito. Feitosa ainda disse que foi convidado por Dionísio para participar do seqüestro, mas teve seu nome vetado por uma pessoa que participava da conversa e até agora não foi identificada.
A polícia contesta esse relato, alegando que os promotores induziram Feitosa a falar o que gostariam de ouvir.
Mas o depoimento abriu curso novo para as investigações porque, pela primeira vez, surgiu uma voz que dizia ter provas de que o crime fora encomendado. O delegado Armando de Oliveira Costa Filho, responsável pelas investigações da Polícia Civil, retirou-se da sala antes que ele terminasse de falar. "Esse depoimento não tem valor algum." A partir de então as relações entre policiais e promotores envolvidos no caso nunca mais foram as mesmas.
O promotor Salmo lembra que esse testemunho não é um dado isolado mas integra um conjunto de indícios que, em sua opinião, dão consistência à versão de crime encomendado. Outros elementos são os depoimentos de parentes de Dionísio, que acompanharam uma parte da mesma reunião.
Esse comportamento não é o único sinal de mudança. Conforme o Estado antecipou, a delegada Elizabeth Sato, encarregada da segunda fase das investigações, já admite a hipótese de crime encomendado.
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