22.12.05

Para Maia, resistência da elite favorece Serra

Janaina Vilela, Chico Santos e Heloisa Magalhães para Valor Online

Cesar Maia: "No dia 1º de abril estarei em viagem para não virem me encher o saco. Não vou sair da prefeitura"
A cem dias da largada para o processo eleitoral de 2006, o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL), que até este mês era o pré-candidato do partido à disputa presidencial, praticamente jogou a toalha. "No dia 1º de abril estarei fazendo uma viagem com a minha mulher para não virem me encher o saco para sair da prefeitura. Não vou sair", afirmou em entrevista ao Valor. Maia ainda admite, com muito pouca ênfase, sua presença na disputa no caso de o candidato escolhido pelo PSDB ser o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

"Eu acho que Alckmin é uma candidatura frágil, o que me estimula a ser candidato porque acho que ganho dele", afirmou. Mas o prefeito do Rio acredita tanto na chance de Alckmin sair candidato quanto na possibilidade de seu time de futebol, o Botafogo, vir a ser o próximo campeão brasileiro. Considera o governador paulista um político de "proximidade", excessivamente identificado com seu Estado de origem. Avalia que, com esse perfil, Alckmin não teria a menor chance porque o eleitor, na sua opinião, "está saturado de São Paulo" após oito anos de Fernando Henrique Cardoso e mais quatro de Luiz Inácio Lula da Silva.

Para Maia, o único postulante do PSDB capaz de se distanciar dessa imagem regional seria o prefeito de São Paulo, José Serra, a quem pessoalmente já anunciou apoio. "Há uma resistência muito grande a Serra pela elite paulista. Essa resistência lhe dá vitalidade porque o transforma num candidato temático, num candidato desregionalizado. Até porque ele tem uma origem de exilado, de presidente da União Nacional dos Estudantes", disse Maia.

Ele argumenta que a presença do prefeito paulistano na disputa inviabiliza seu nome, uma vez que os dois teriam perfis muito parecidos. Factóide ou não, pois às vezes Maia quer apenas observar reações a respeito do que diz: "Nós temos perfis semelhantes no imaginário do eleitor. É um suicídio você expor duas candidaturas numa situação em que um vai tirar voto do outro".

Apesar dos elogios a Serra, Maia não perde a perspectiva de ter seu partido na chapa vencedora. Afirma que a vitória do PSDB depende de uma associação com o PFL. "O PSDB não tem capilaridade para, em condições normais de temperatura e pressão, ganhar a eleição. Ele não pode ter uma chapa puro-sangue porque isso seria um risco muito grande. Precisa de uma associação".

E quem seria o parceiro de chapa de Serra? Maia avalia mais uma vez que seu nome é inviável. "Imagina, Sudeste e Sudeste! Duas caras iguais! Um tecnocrata de um lado e outro tecnocrata do outro!", afasta.

Dá uma pista sobre o eventual parceiro de Serra numa aliança ao apontar os nomes dos senadores Jorge Bornhausen (SC), presidente do PFL, e José Agripino Maia (PFL-RN) e ainda do deputado federal José Carlos Aleluia (PFL-BA) como possíveis postulantes à presidência caso o partido lance um candidato próprio.

Na avaliação do prefeito do Rio, Serra tem o perfil do futuro presidente da República que a população pode vir a apostar. Considera o prefeito paulista competente, capaz, e realizador, o inverso de Lula. "Eu acho que Lula não tem chance nenhuma. Como eles (do PT) vão fazer para purgar seus pecados? Eles caminham para um partido de esquerda, única maneira de purgar os pecados. Fazem um discurso de que, pessoalmente, não são desonestos. Dizem que utilizaram mecanismos tradicionais da política. Só que a forma como isso foi feito, e as repercussões que vieram em seguida produzem no eleitor a sensação ou a certeza de que eles realmente se aproveitaram disso, mesmo que não individualmente", disse.

Para Maia, a questão ética será crucial em 2006. "Já são 70% dos eleitores que acham que ele tinha conhecimento (das irregularidades). Já são 35% os que acham que Lula é desonesto ou responsável". Maia só não considera que Lula esteja inapelavelmente derrotado porque a tentativa de reeleição dá muitas vantagens ao candidato que se apresenta nessa condição.

A principal alternativa petista ao nome de Lula, segundo Maia, seria o ex-presidente do PT, Tarso Genro. Ele vê poucas chances de o PT indicar o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes (PSB), numa chapa PSB-PT, ainda mais com verticalização.

Maia defende com unhas e dentes o fim da verticalização de chapas. "Como colocar num país continental, federado, com política inorgânica, uma ordem unida? Como propor a verticalização num país com tantas diferenças regionais? PSDB tem direita e tem esquerda. PFL tem direita e tem centro. É uma calça justa que termina tornando artificial o quadro eleitoral", disse.

Assim como avalia que Lula não tem chance de ganhar seu segundo mandato, Maia considera que "o ciclo Anthony Garotinho-Rosinha Matheus acabou", não só na disputa estadual como na federal. "O ciclo acabou por razões administrativas, políticas legais e éticas. É um desastre", afirmou. Já cogita a hipótese de seu secretário de Obras, Eider Dantas, disputar o governo do Rio com o senador Sérgio Cabral Filho (PMDB), embora reconheça a força do senador Marcelo Crivella, do PRB

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