22.12.05

O FMI e Papai Noel

por Aristoteles Atheniense:

“Ao anunciar a quitação antecipada da dívida brasileira com o FMI, o presidente do Banco Central, Henrique Meireles, declarou que o fato "representa um momento histórico do país e reflete a melhora significativa dos fundamentos macroeconômicos no período recente, como conseqüência das decisões da política econômica tomada pelo governo". Em Washington, o diretor gerente do FMI, Rodrigo Rato, como todo credor, mostrou-se satisfeito, enfatizando: "Essa decisão reflete o crescente fortalecimento da política externa do Brasil, especialmente os substanciais e contínuos superávits comerciais e o forte fluxo de capitais que têm incrementado imensamente as reservas internacionais e reduzido o endividamento externo".

A realidade mostra que o acontecimento não merece ser comemorado com tanto entusiasmo. Ficou a impressão de que iremos virar o ano sem dever aos nossos credores, quando o que houve foi uma economia de U$ 900 milhões, ainda que o endividamento total do País atinja a quase R$ 1 trilhão.

Contrapondo-se à euforia de Henrique Meireles e de Rodrigo Rato, o presidente do Banco Mundial (BIRD), Paul Wolfowitz, em entrevista concedida em São Paulo, surpreendeu a imprensa ao afirmar: "Para fugir do ciclo histórico da pobreza, que exclui milhões de pessoas é fundamental que esta imensa nação apresente crescimentos econômicos mais consistentes ".

Segundo Wolfowitz, ainda que o BIRD já houvesse investido U$ 572 milhões no projeto bolsa-família, os resultados não foram satisfatórios. Prova disso é que não há de parte daquele estabelecimento a menor disposição de injetar novos recursos naquele programa.

O Brasil, acrescentou, é um país onde dez por cento da população ou 18 milhões de pessoas ganham menos que 1 dólar por dia. Assim, "a despeito da atual estabilidade econômica, esse enorme contingente de pobres deve encontrar um caminho para progredir". Portanto, conforme a sua constatação pessoal, o nosso crescimento econômico é inconsistente e os pobres não devem nutrir esperanças dentro do quadro atual.

Há um visível paradoxo entre a satisfação do diretor gerente do FMI com a realidade constatada pelo presidente do Banco Mundial. O primeiro, deslumbrado com o fato de o nosso país estar pagando antes da hora os seus compromissos externos; o segundo, revelando sua decepção com o desempenho do governo, mesmo contando com a ajuda do BIRD.

Enquanto isso, o presidente Lula, cercado de seus admiradores, sustenta a necessidade do " crescimento com responsabilidade", ao mesmo tempo em que proclama que o mandato de quatro anos é " muito pouco" para quem está no governo.

O seu encantamento com o poder é tamanho que teve a ousadia de proclamar que "nunca vivemos um momento econômico como o que estamos vivendo. Acho que o Brasil vive um momento excepcional. É uma coisa tão positiva que a gente não pode permitir que o Brasil sofra um milímetro de retrocesso".

Há nessas palavras, inspiradas na exportação e na balança comercial, o reconhecimento de que o importante é a política externa e não o bem estar interno, fazendo lembrar Roberto Campos quando dizia que o nosso problema maior "não é a dívida externa, mas, sim, a dúvida interna".

Uma conclusão tão auspiciosa como essa, certamente só poderia vir às vésperas do Natal, como se o sofrido povo brasileiro ainda acreditasse em Papai Noel".