11.12.05

Um novo modelo de presidente

O especialista em marketing político Marco Iten acredita que nas eleições de 2006 os políticos deverão assumir compromissos reais com seus eleitores

GRAZIELA SALOMÃO para Época

Depois dos escândalos de corrupção e caixa dois envolvendo o governo federal, uma das principais preocupações é quais serão os candidatos à Presidência em 2006. Muitas pesquisas já fizeram simulações de prováveis presidenciáveis e os favoritos oscilaram à medida que a crise política aumentava.

Muitos acreditam que as campanhas milionárias como as de 2002 não se repetirão, uma vez que os esquemas de caixa dois explodiram nas denúncias e na mídia. Mas o marketing político, certamente, será fundamental para definir a corrida presidencial do ano que vem.

Segundo o especialista em marketing político Marco Iten - que tem mais de 25 anos de experiência no planejamento e execução de campanhas eleitorais -, as eleições exigirão um perfil de político diferente das anteriores. "Será necessário ter mais olho no olho, o candidato deverá ser mais objetivo e se comprometer com os problemas brasileiros", afirma Iten.

Em entrevista a ÉPOCA Online, Iten conversou sobre o panorama político atual e o impacto da crise política em uma possível reeleição de Lula, analisou quais serão os prováveis candidatos às eleições de 2006 e indicou quais características os políticos deverão apresentar para conquistar a confiança do eleitorado brasileiro.

ÉPOCA Online - O marketing político nas eleições de 2002 foi fundamental para a eleição de Lula, uma vez que mudou a imagem que grande parte da população brasileira tinha do então ex-sindicalista. Nas próximas eleições, como o senhor avalia que será a atuação do marketing? Ela será decisiva, mais uma vez, mesmo com os escândalos de caixa dois nas eleições?
Marco Iten - Será decisivo. Os políticos precisam incorporar técnicas, melhores noções de comunicação e da construção da imagem pessoal deles e de seus partidos. O político que tenha pretensão de crescer na carreira política precisa incorporar conhecimentos de marketing político. Mas é necessário haver uma distinção do marketing político da imagem que a sociedade tem atualmente.

ÉPOCA Online - E o que é o verdadeiro marketing político?
Iten - A imagem que se tem é dada por dois ou três publicitários que vieram atuar no marketing político a partir de seus sucessos no mercado publicitário. A impressão é de que marketing político se resume a realizar grandes produções de televisão, criar uma computação gráfica e melhorar a imagem do candidato. Mas há um grau de exigência e de trabalho anterior a isso, envolvendo treinamento da equipe, entendimento das demandas que o eleitor exige do político e do cargo que ele pretende ocupar.

ÉPOCA Online - O presidente Lula está com sua imagem sem credibilidade e parece perdido em seu governo. O senhor acredita que haja alguma estratégia de que ele possa se utilizar para fazer uma boa eleição no ano que vem?
Iten - Eu acredito que não. A eleição do Lula foi uma grande mentira, uma "propaganda enganosa" e não há recurso que possa mudar isso. No ano que vem, o Lula terá que se explicar por tudo aquilo que prometeu e não cumpriu. Eu ainda acredito que, se o Lula for esperto, ele pula fora das eleições. Acho que a crise política ainda ficará pior e o processo de desgaste vai ser muito expressivo. Se o Lula sair candidato, ele perde a eleição porque o volume de descontentamento é grande.

ÉPOCA Online - José Dirceu declarou recentemente que irá ajudar na campanha do presidente Lula. O presidente declarou que levaria Dirceu para o palanque ao seu lado. O senhor acha que a imagem de José Dirceu pode prejudicar a candidatura do presidente
Iten - Eu acho que tanto o José Dirceu quanto o Lula estão tentando salvar o universo petista original e mostrar que o PT não morreu, que ele pode até se reciclar.
ÉPOCA Online - Como o senhor vê a estratégia do presidente em tentar se manter afastado da crise política que atinge o seu governo? Esse foi o grande problema do governo?
Iten - Ele teve uma postura covarde em todos os momentos em que se esperava uma atitude dele, seja com os aliados ou com seus partidos. Os adversários terão que descobrir como usar isso, sem acusá-lo diretamente. Quem souber fazer isso destrói o pouco que resta do Lula.

ÉPOCA Online - E a estratégia da oposição perante essa crise. Eles estão atacando o governo sem ter o intuito real de um impeachment do presidente... O senhor acha que essa estratégia vai dar um resultado positivo o ano que vem?
Iten - Acho inteligente esse processo. O eleitorado brasileiro é emotivo e essa característica tem que ser levada para o processo eleitoral. O risco de se atacar o Lula, que ainda tem um carisma pessoal muito forte mesmo fazendo um governo medíocre, é grande. O eleitorado pode ficar contra o crítico. A oposição vem tentando, e conseguindo em alguns momentos, fragilizar os amigos, o partido, o governo, mas não diretamente a pessoa do Lula.

ÉPOCA Online - A eleição do ano que vem será totalmente diferente das últimas que tivemos?
Iten - A eleição do ano que vem será menos emotiva do que foram as últimas eleições. Ela precisará ter uma linguagem mais técnica, mais fria, além de mais compromisso do candidato.

ÉPOCA Online - Quem fizer isso se sairá bem das eleições?
Iten - Ele terá mais motivo para regimentar votos. A população não vai aceitar um despreparo por parte do candidato. O político precisará assumir compromissos, falar de programas e estabelecer uma relação de comprometimento.

ÉPOCA Online - O escândalo e a politização que aconteceu com os eleitores fará com que se tenha mais propostas reais nas campanhas de 2006?
Iten - Vai depender muito de saber quem serão os candidatos. O Lula como candidato vai ter uma dificuldade grande em apresentar números que justifiquem mais quatro anos. Em algumas questões sociais, o presidente está amarrado porque não tem como se comparar ao governo anterior. Se ele não pode fazer a comparação, ele pode ir para o emocional? Acredito que não, porque ele já usou esse recurso na eleição passada e ficou descrente. Acho que as coisas podem se dar através de uma confrontação de eficácia, de equipe, ou de número de escândalos.

ÉPOCA Online - O senhor arriscaria dizer quem seriam nomes fortes da eleição do ano que vem?
Iten - Temos alternativas. Não acredito no PMDB lançando o Antony Garotinho ou o Germano Rigotto (governador do Rio Grande do Sul). Enquanto legenda, está inviável o PMDB assumir uma presidência. Quanto aos tucanos, acredito mais na alternativa Geraldo Alckmin do que em José Serra pelo fato de que o Geraldo tem a capacidade de congregar um número maior de partidos em volta dele já no primeiro turno. Não vejo viabilidade do Aécio Neves (governador de Minas Gerais) porque ele teria, até que moralmente, ceder o espaço para o Alckmin e Serra, uma vez que tem uma reeleição garantida. O Cristovam Buarque seria uma alternativa, mas não tem estrutura partidária e capacidade de regimentar forças ao seu redor. Nesse cenário que se movimenta, seguramente, o Serra e o Alckmin serão nomes fortes de oposição ao Lula. O único partido viável hoje, com força de mobilização política, partidária e empresarial, é o PSDB.

ÉPOCA Online - Quais são as estratégias ou características que os políticos terão que apresentar o ano que vem para conquistar o eleitor?
Iten - Essa é a grande pergunta do eleitor. Ele não quer um cara carismático. Em regra geral, ele quer alguém que tenha capacidade de trabalho e execução.