Conjuntura
Anne Krueger elogia política econômica e descarta relação entre queda e superávit primário
Para diretora do FMI, PIB do 3º trimestre foi "decepcionante"
Arnaldo Galvão De Brasília Valor Online
A vice-diretora gerente do Fundo Monetário Internacional (FMI), Anne Krueger, reconheceu que o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) referente ao terceiro trimestre foi "decepcionante". Mas, por outro lado, disse que a variação negativa de 1,2% em relação ao trimestre anterior não mostra uma situação tão ruim. "Houve foi uma redução nos estoques, que estavam muito elevados e precisavam ser reduzidos."
Anne encontrou-se, em Brasília, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Elogiou a política econômica do governo - por estar na direção correta da redução na relação entre dívida e PIB - e disse acreditar que, mesmo com uma eventual saída do ministro da Fazenda, esse rumo seria mantido. "O ministro Palocci é um membro importante da equipe de governo e merece todo o crédito pelo que tem feito", afirmou.
Em rápida entrevista coletiva no Ministério da Fazenda, depois de encontrar-se com Lula, a vice-diretora gerente do FMI contestou a relação entre o superávit primário que o governo está realizando e o desempenho negativo da economia no terceiro trimestre. " Em geral, os países que nós vemos crescer rapidamente nos últimos dez anos têm sido os que reduzem mais a dívida por causa de significantes superávits primários. Citaria a Austrália, Canadá, Reino Unido e poderia citar outros", explicou.
Para o FMI, esses são os países que tiveram bom desempenho entre os países industrializados. E todos eles confirmaram que evitar uma relação dívida/PIB muita alta ajuda a economia. "Não posso imaginar isso como algo negativo. Não há nada no curto prazo que indique que essa seja a razão da queda, porque não houve aperto orçamentário significativo nos últimos meses", afirmou Anne.
Atribuindo esse resultado a fatores sazonais na agricultura, Anne também afirmou que o número trimestral do PIB pode distorcer as estatísticas. "Há flutuações trimestrais. É muito cedo para tirar qualquer conclusão", disse. Na sua análise, o resultado do PIB é preliminar e pode ser revisto. Ela acredita que os dados de vendas em outubro e os números preliminares de novembro parecem melhores. Emprego e renda também cresceram.
"Acho que vimos uma resposta às dificuldades políticas, mas não uma deterioração da economia. Não mudamos a estimativa de crescimento deste ano e do próximo", disse. O FMI espera que a economia brasileira cresça 3,3% neste ano, e 3,5% em 2006.
Como o Brasil ainda tem uma "razoavelmente alta" relação dívida/PIB, Anne avalia que a política fiscal tem de ter essa prioridade. Portanto, o superávit primário do tipo e do tamanho que o governo está realizando é compatível com essa necessidade. Segundo a dirigente do Fundo Monetário Internacional, "é uma coisa quase essencial, se o Brasil quer sustentar o crescimento".
Anne Krueger admitiu que a velocidade da redução da relação dívida/PIB é uma questão de escolha política. Alguém pode argumentar que mais rápido seria melhor, e que quanto mais rapidamente o déficit cai há mais recursos liberados para outros gastos sociais. "É um problema interno. O importante é que haja sustentabilidade e perspectiva de redução da relação entre dívida e PIB", ponderou.
Quanto às reformas estruturais que o Brasil precisa, a dirigente do FMI mostrou compreensão ao afirmar que, entrando-se em um ano eleitoral, seria surpreendente se houvesse um grande plano de reformas. Por outro lado, também reconheceu que experiências em outros países que passam por reformas estruturais mostram que os resultados não vêm de uma vez. "O Brasil ainda está colhendo o resultado de reformas passadas e acredito que o próximo governo vai reconhecer a necessidade de seguir adiante e remover as distorções", disse.
Anne citou o reforço nos investimentos no programa Bolsa Família como importantes para redução da pobreza para 11 milhões de famílias até o final de 2006. Disse que a estabilidade macroeconômica permanece essencial para um rápido e sustentável crescimento que vai permitir a redução da pobreza. Reformas estruturais vão ajudar na redução da vulnerabilidade aos choques. As prioridades nessas reformas são, segundo o FMI, um melhor ambiente para os investimentos, o aumento da eficiência dos gastos públicos e o incremento do sistema financeiro.
Um comentário:
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