20.12.05

Dirceu e o "establishment’

Dirceu: ‘establishment’ não quer Serra presidente

Jorge Bastos Moreno

O ex-deputado José Dirceu surpreendeu um pequeno grupo de amigos reunido em torno dele, num almoço no fim de semana, no Rio, ao dizer que o “establishment” jamais deixará o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), assumir a Presidência:

— Vocês acham que o “establishment”, o sistema, a Fiesp (Federação das Indústrias de São Paulo ), a Febraban (Federação Brasileira de Bancos ) e a elite vão deixar o Serra ser presidente? Já não deixaram da outra vez e não vão deixar agora.

E o motivo, para o ex-chefe da Casa Civil de Lula, é um só:

— Serra é muito independente. Eles querem um pau-mandado, um presidente dócil às regras do capital internacional. Eles não querem o Serra presidente muito mais pelas suas virtudes do que pelos defeitos, que são muitos.

O almoço foi num apartamento do Leblon. Estiveram presentes, entre outros, o escritor Fernando Morais, com quem está escrevendo um livro sobre sua passagem pelo governo; o ministro da Cultura, Gilberto Gil, e sua mulher, Flora Gil; a ex-ministra Benedita da Silva e seu marido, Antônio Pitanga; o provável candidato do PT ao governo do Rio, Vladimir Palmeira; o cineasta Paulo Thiago; Jards Macalé; Ana de Hollanda; o advogado Antônio Carlos Almeida, o Cacai; e o ator José de Abreu, entre outros.

Descontraído e fazendo planos para as festas de fim de ano, Dirceu não quis dar entrevista formal, mas não recusou algumas perguntas, como a da reeleição do presidente Lula:

— Ele tem que dizer ao povo o que quer com o segundo mandato. Ninguém vai votar nele só porque é o Lula. Aconteceu na outra vez, agora é diferente.

Comendo paca assada, preparada pelo chef Marco Aurélio, de um restaurante de Brasília que veio somente para o almoço, Dirceu comentou ainda o surpreendente primeiro lugar de Quércia nas pesquisas para o governo de São Paulo.

— Isso mostra que a eleição presidencial também será imprevisível. Estou muito feliz com isso — disse Dirceu.

— Porque ele está na frente de Marta e Mercadante? — quis saber um repórter.

Confirma com um largo sorriso, mas nega com as palavras:

— Claro que não. Estou feliz porque ele está na frente do Fernando Henrique Cardoso.

Ainda sobre tucanos, Dirceu interrompeu o chef Marco Aurélio, conhecido por tentar aproximar adversários políticos que são seus clientes:

— Zé, se tem uma pessoa que gosta de você, que te admira muito, mas muito mesmo, que é seu amigo, é o Serra...

— É. Mas eu queria a amizade traduzida em votos dos tucanos para evitar minha cassação.

Sobre o processo de cassação em curso na Câmara, envolvendo mais 11 deputados, Dirceu disse não acreditar que a absolvição de Romeu Queiroz (PTB-MG) influa nos julgamentos.

O ex-deputado informou que seu depoimento para o livro já atingiu 40% da produção. Ele ainda não decidiu se viaja com o escritor à Europa para concluir os depoimentos. Fernando Morais vai ao encontro do também escritor Paulo Coelho, de quem está escrevendo a biografia.