ACM Neto defende sua "prestação de contas"
FERNANDO RODRIGUES da Folha de S.Paulo, em Brasília
O sub-relator para fundos de pensão da CPI dos Correios, deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (PFL-BA), disse ontem que sua prestação de contas sobre o caso tem sido mal interpretada. "Ninguém está sendo chamado de bandido", declara.
Segundo ACM Neto, o atual estágio apenas listou o que chama de "perdas", e não prejuízo dos fundos. Promete listar todas as operações, de ganho e de perdas no relatório final. "Essa rentabilidade que os fundos têm alardeado poderia ter sido muito maior."
Bombardeado por vários fundos de pensão depois de divulgar que 14 dessas instituições acumularam perdas de R$ 784 milhões em cinco anos, ACM Neto acredita que seja apenas uma reação para "afrontar o Congresso".
A seguir, trechos da entrevista:
Folha - Quantas corretoras e fundos de pensão tiveram seus sigilos quebrados?
Antonio Carlos Magalhães Neto - 30 corretoras e 14 fundos.
Folha - Qual foi o critério?
ACM Neto - Havia suspeitas fundadas sobre esses 14 fundos. Técnicos do Tribunal de Contas da União cedidos à CPI concluíram que esses eram os que deveriam ser investigados, por possíveis conexões com os bancos Rural e BMG. A lista foi produzida antes da minha indicação como sub-relator desse caso.
Folha - E como se chegou às 30 corretoras?
ACM Neto - Da mesma forma, tecnicamente. Foram ouvidos os órgãos reguladores do mercado, como CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Banco Central, Bovespa, BM&F (Bolsa de Mercadorias e Futuros). A lista é de corretoras sobre as quais havia procedimentos administrativos que averiguavam irregularidades.
Folha - A divulgação da sua prestação de contas inicial causou uma reação contrária de vários dos citados, que apontaram erros nos seu trabalho. Como o sr. responde?
ACM Neto - É importante notar que o valor divulgado, os R$ 784 milhões, não foi classificado como prejuízo. A CPI investiga operações que causaram perdas. É isso que está na prestação de contas. Ainda não é um relatório final nem parcial.
Folha - Dessa forma, não teria sido melhor então esperar mais? Por exemplo, considerar também as operações que resultaram em ganhos para os fundos?
ACM Neto - Não. Porque o que nos interessa é averiguar o desvio da prática de alocação que provocou, em alguns casos, a recorrência dos piores resultados para os fundos. E, em outros casos, os melhores resultados para o que chamamos de beneficiários.
Folha - Se não foi um relatório final, por que mencionar nomes?
ACM Neto - Tive todo o cuidado de fazer a apresentação na qual havia alguns nomes --cujo sigilo estava quebrado- numa sessão reservada da CPI. Parlamentares estavam presentes e perdeu-se o controle sobre o vazamento. Sou contra esse vazamento.
Folha - Por que o sr. não divulgou critério mais claros sobre como montou as tabelas já divulgadas?
ACM Neto - No momento certo, todos os detalhes serão fornecidos. É necessário compreender que os fundos estão sob processo de investigação e nem tudo pode neste momento ser divulgado.
Folha - Ocorre que os fundos de pensão se dizem prejudicados. Ameaçam inclusive processá-lo. O sr. não acha que houve açodamento da sua parte?
ACM Neto - Não. Eu repito que ainda não foi imputada responsabilidade a ninguém. Ninguém está sendo chamado de bandido. Sobre a ameaça de me processarem, trata-se de uma tentativa de afrontar o Congresso. Nós temos a prerrogativa de investigar. É o que está sendo feito.
Folha - Os fundos alegam que terceirizam muitas das suas aplicações financeiras. Dessa forma, não podem ser responsabilizados por parte das perdas. Qual é sua resposta a esse argumento?
ACM Neto - Os fundos não podem se eximir. O dinheiro é um só, dos segurados. A direção de um fundo não pode assistir passivamente a uma cadeia de operações que seguidamente resulta em perdas para a sua carteira.
Um comentário:
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