30.3.06

Protestos contra Lula

Lula enfrenta protesto em S. Paulo Integrantes do PSTU levaram faixas que remetiam ao episódio do caseiro em evento na cidade de Guarulhos

Tinha tudo para ser uma festa para Luiz Inácio Lula da Silva, mas uma faixa trazida por integrante do PSTU com a frase "Até o caseiro sabia. Só o Lula não sabia?" atrapalhou a visita do presidente a Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo, no final da tarde de ontem. A faixa foi imediatamente retirada por seguranças do evento - uma vistoria do campus do município da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Houve empurra-empurra e um princípio de tumulto entre os petistas, maioria absoluta da platéia, e os manifestantes, que acabaram deixando o local alegando, nas palavras de um deles, Alexandre Alves, "falta de clima" para continuar com o protesto.

A faixa foi exibida por cerca de dez jovens filiados ao PSTU no momento em que Lula iniciava seu discurso. Se os manifestantes não ouviram explicações do presidente a respeito das denúncias do caseiro Francenildo dos Santos Costa, o Nildo, sobre o envolvimento do ex-ministro da Fazenda, Antonio Palocci, com a república de Ribeirão, pelo menos instigaram Lula a falar em prol dos pobres.

Foi a primeira vez que o presidente voltou ao tema desde que Nildo desmentiu Palocci em entrevista ao Estado. Lula, que abriu sua fala dizendo que tinha compromisso em Brasília e que, por isso, não poderia discursar, acabou gastando 19 minutos para defender as pessoas carentes.

De improviso, aproveitou o mote do evento, educação, para, sem citar nomes, criticar os governos anteriores ao seu. Lula disse que, no seu entender, "lamentavelmente" não se cuidou corretamente da educação no Brasil. Em tom emotivo, afirmou: "Algumas pessoas que governaram este País já tinham o seu diploma e se esqueceram de que filho de pobre também tem direito à universidade."

Ainda na linha de sensibilizar a platéia - de cerca de 3 mil pessoas com bandeiras do PT e do Brasil em punho - o presidente disse: "Essas pessoas não percebem que os pobres são feitos de carne e osso como eles, que têm alma e coração, consciência, sonhos e desejos. E são até mais inteligentes do que eles; só precisam de oportunidade para provar", discursou, sendo interrompido por aplausos. A cidade é administrada pelo petista Elói Pietá pelo segundo mandato consecutivo.

Exaltado, Lula explicou que falava com o sentimento de um homem que não tinha conseguido cursar uma universidade, mas que deu condições para que seus cinco filhos tivessem ensino superior.

"Este sentimento que tenho como pai tenho também por cada menino e menina deste País." E foi além: "Acabou o tempo em que não se discutia e não se podia gastar com educação no Brasil."

CAMPANHA

O clima do evento, com ares de comício e gritos de "1, 2, 3, Lula outra vez", contagiou o presidente, que, apesar de não falar em reeleição nem citar seu principal adversário nesta campanha (o governador Geraldo Alckmin, do PSDB), criticou uma das principais bandeiras do tucano, os propagados investimentos em segurança no Estado de São Paulo.

"Cada centavo que a gente evitar gastar em escola ou na formação de uma criança vai se transformar em milhares de reais que a gente vai ter de gastar para cuidar da pessoa quando virar bandido e tiver preso."

Acompanhado dos ministros Gilberto Gil (Cultura) e Fernando Haddad (Educação), Lula disse que seu governo aposta na educação para não ser obrigado a investir depois na recuperação do jovem.

Em seguida, reconheceu que, apesar dos esforços de sua gestão, ainda falta "muuuuito" por fazer. Lula anotou que um mandato é pouco para um político realizar o que quer para o País. "Em quatro anos a gente não consegue fazer tudo o que a gente pensa", admitiu. "Mas vocês tenham consciência de que vocês não têm em Brasília um presidente que conhece Guarulhos apenas através de mapas ou pelos noticiários."

Mais sério do que de costume - posição semelhante a que adotou pela manhã em evento na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), em São Paulo -, Lula disse que partiria para a capital federal "mais alegre e feliz" do que antes de participar do evento em Guarulhos.

O ministro da Educação, Fernando Haddad, que falou antes de Lula, também cutucou Alckmin, apesar de não mencionar o nome do tucano. Segundo ele, precisou "um pernambucano investir na educação de São Paulo". O titular da Cultura, Gilberto Gil, preferiu cantar. Foi de "Esperando na Janela", tema do filme "Eu, Tu, Eles", e cometeu um ato falho ao dizer que "a querida" Guarulhos fazia parte do ABC Paulista.
Estadão