Em encontro com Lula, ministro se defendeu e afirmou que não quer ser humilhado
Palocci diz não descartar que assessor tenha vazado dados
O ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, negou ontem, em conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sua participação na quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro Francenildo Costa, mas admitiu a possibilidade de sua assessoria ter participado do vazamento do segredo à imprensa. Lula marcou reunião hoje à tarde para tomar uma decisão sobre a situação de Palocci.
O ministro deve sair em breve. A única chance de Palocci continuar no cargo seria ficar provado rapidamente que não houve participação sua na quebra e no vazamento do sigilo de Francenildo.
A Folha apurou que a Polícia Federal colheu indícios de que um integrante da assessoria especial da Fazenda participou pelo menos do vazamento. Um auxiliar presidencial afirmou não saber se a suposta participação da assessoria no vazamento seria suficiente para Lula tirar Palocci hoje ou se seria usada como forma de tentar isentar o ministro.
O assessor da Fazenda sob suspeita é Marcelo Netto. Um dos mais influentes auxiliares do ministro, Netto cuida da área de comunicação. Em conversas reservadas, ele nega participação no episódio do caseiro.
O presidente receberá hoje mais informes da Caixa Econômica, onde o sigilo foi quebrado, e da Polícia Federal, que investiga a violação. Membros da cúpula do governo acham "improvável" a permanência de Palocci. Em reunião com Lula na quinta-feira, o próprio ministro admitiu que perdeu "as condições políticas".
Ontem, porém, disse a Lula que setores da imprensa fazem campanha contra o governo em aliança com a oposição e que não dariam trégua ao presidente mesmo com sua saída da Fazenda. Esse argumento foi visto por colegas de ministério como forma de tentar ficar no cargo.
Segundo a Folha apurou, a presidente cobrou ontem de Palocci explicações de modo mais contundente do que na semana passada. O ministro pediu para não ser humilhado. Parte da cúpula do governo entendeu o pedido como forma de ganhar tempo para "saída honrosa". Outra parte, porém, viu tentativa de continuar.
Sondagem a Mattoso
O presidente da Caixa, Jorge Mattoso, recusou sondagem de emissário de Palocci no início da semana passada para assumir a culpa sozinho e livrar a Fazenda. Mattoso depõe hoje à PF e deve deixar o cargo.
O caseiro diz que Palocci freqüentou a casa que ex-auxiliares dele alugaram em Brasília para fazer lobby e dar festas com garotas de programa. Palocci disse à CPI dos Bingos que nunca foi à casa. Em reuniões do governo, admitiu ter ido à casa para atividade de caráter privado, mas nunca para participar de suposta corrupção.
Em reunião na semana passada, Lula disse que, se o problema fosse a suposta ida ou não de Palocci à casa, manteria o ministro no posto a qualquer custo. O presidente afirmou que a vida pessoal de seus auxiliares é assunto deles e de suas famílias.
Palocci corre contra o tempo se quiser manter o direito de concorrer a deputado federal. O ministro deve deixar o posto até o dia 1º de abril, como exige a lei. Fora do ministério, Palocci perderia o foro privilegiado (responder a eventuais processos judiciais no Supremo Tribunal Federal). Caso se eleja em outubro, recuperaria esse direito em 2007.
O ministro teme que um juiz de primeira instância acate eventual pedido de prisão feito por promotores e policiais paulistas que investigam supostas irregularidades do tempo em que ele foi prefeito de Ribeirão Preto.
Lula está muito abatido, segundo auxiliares. O presidente se julga devedor de Palocci, que conduziu a política econômica sob forte pressão, inclusive do PT. No entanto, diz que não pode passar à história como conivente com violação de sigilo bancário. Lula teme que o episódio tenha reduzido sua vantagem nas pesquisas em relação ao seu principal oponente na corrida presidencial, o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP).
Cotados
Desde quinta-feira, o presidente analisa nomes para a Fazenda. Ontem, o mais cotado era o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). O presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Guido Mantega, tem menos força. Outros nomes em análise são os ministros Paulo Bernardo (Planejamento) e Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e o secretário-executivo da Fazenda, Murilo Portugal. Lula não descarta nomear um banqueiro ou empresário, mas seria surpresa.
Folha
Um comentário:
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