9.3.06

Motorista envolve Palocci na "casa do lobby"

Testemunha contradiz ministro e diz a CPI dos Bingos que ele freqüentou imóvel alugado pela "República de Ribeirão" em Brasília

O motorista Francisco Chagas da Costa contradisse ontem, na CPI dos Bingos, o depoimento prestado aos senadores pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O motorista afirmou ter visto o ministro "três vezes, mais ou menos" na casa alugada pelo economista Vladimir Poleto no Lago Sul, em Brasília. A casa foi descrita pelo advogado Rogério Buratti como uma "central de lobby" para encontros de lobistas e empresários com negócios de interesse no governo Lula.
"[O ministro] foi lá, ia lá. Mas não em festa. Durante o dia, mas sem festa. Não sei o que ia fazer. Foi poucas vezes. (...) Umas três vezes, mais ou menos. Eu o vi entrando na casa", disse Costa.
As visitas do ministro não constituem irregularidade, mas os senadores da oposição ficaram surpresos ao detectar mais uma contradição na versão apresentada por Palocci no depoimento de janeiro. A Folha já revelou que era falsa a explicação apresentada por Palocci sobre o uso de avião de um empresário no qual voou para Ribeirão Preto, já no cargo de ministro. Na ocasião, o ministro havia dito que o PT "alugou" o avião. Depois, em nota, admitiu que cometeu uma "imprecisão terminológica" em seu depoimento.
Em janeiro último, Palocci foi indagado sobre a casa pelo relator da comissão, Garibaldi Alves (PMDB-RN): "Vossa Excelência não esteve nenhuma vez na casa que ele [Vladimir Poleto] alugou no Lago Sul [em Brasília]?" Palocci foi definitivo: "Não, nenhuma vez. Não estive nenhuma vez".
O motorista contou que Palocci, nas vezes em que foi à casa, foi transportado não em carro oficial do Ministério da Fazenda, mas num Peugeot prata pertencente a Ralf Barquete, ex-assessor da presidência da Caixa Econômica Federal. Morto em 2004, Barquete foi acusado no ano passado por Buratti, ex-assessor de Palocci, de receber da empreiteira Leão Leão R$ 50 mil mensais para um caixa dois do Diretório Nacional do PT.

Bingueiros
Em outro ponto considerado pelos senadores como de interesse para a investigação, Costa revelou ter acompanhado dois empresários de jogos de Angola para um encontro no Ministério da Fazenda com pessoa não identificada junto com o empresário Roberto Kurzweil, dono do carro em que teriam sido transportados supostos dólares de Cuba para o PT.
Os empresários são José Paulo Teixeira Figueiredo e Artur José Valente Oliveira Caio. Segundo as investigações da Polícia Federal, que partem de informações dadas por Buratti, os dois angolanos supostamente doaram R$ 1 milhão para a campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002. Buratti afirmou ao Ministério Público, no ano passado, que o dinheiro entrou no caixa dois da campanha petista.
O motorista trabalhou entre março de 2003 e fevereiro de 2004 no transporte, em Brasília, de Poleto, Buratti, Barquete e Ademirson Ariovaldo da Silva, assessor especial do ministro Palocci. Todos freqüentavam a casa alugada por Poleto. O grupo comprou celulares em nome de Costa. Deixou-o ficar com um, do qual também pagavam a conta. Usavam o aparelho eventualmente, para falar entre si e com terceiros.
Costa contou que, no período, ouviu na casa diversas conversas em que se atribuía o apelido de "Chefão" a Antonio Palocci. "Eles falavam "nós temos uma reunião com o chefão, temos que falar com o chefão tal hora'", afirmou.
Na casa também ocorriam festas com garotas contratadas pela promotora de eventos Jeany Mary Corner. Indagado se a conhecia, Costa confirmou. "Essa era a mulher que arrumava as meninas para a casa. Fazia festas e levava para a casa. Cheguei a vê-la duas vezes", contou o motorista, que negou a participação do ministro Palocci nas festas.
Após o depoimento, o motorista foi abordado pelos senadores Tião Viana (PT-AC) e Eduardo Suplicy (PT-SP). Segundo disseram à imprensa, teriam perguntado se ele "realmente tinha certeza" de que o homem que vira entrando na casa era Palocci e prometeram ajudar Costa caso ele precisasse de algo.Desempregado, Costa contou a assessores da CPI que decidiu "falar tudo" depois que percebeu "que estava na pior", sem emprego e perdendo clientes por conta da exposição na mídia.

Ministro ignora casa citada, diz senador petista
O Ministério da Fazenda não se manifestou até as 19h de ontem sobre o depoimento do motorista Francisco das Chagas Costa à CPI dos Bingos no qual contradisse o ministro Antonio Palocci, que estava em Londres.O senador Tião Viana (PT-AC) disse que a assessoria entrou em contato com Palocci em Londres e lá ele negou que tenha conhecido a casa alugada em Brasília.A Folha procurou a assessoria de comunicação do ministério durante toda a tarde de ontem, depois que o motorista contou ter visto o ministro na casa do Lago Sul alugada por Vladimir Poleto. Por volta das 18h, a assessoria telefonou para dizer que Palocci já havia sido informado do teor do depoimento, mas ainda não havia um comunicado oficial.Viana disse que o depoimento do motorista "deve ser investigado", mas que deveria ser levado em conta "que ele não contou sobre visitas no depoimento que prestou à Polícia Federal". Costa contou na CPI que não mencionara as visitas de Palocci porque não fora indagado a respeito na PF.O advogado do angolano Artur José Teixeira Valente Oliveira Caio, Paulo José Iasz de Morais, negou que ele tenha sido levado ao ministério. "Meu cliente nunca colocou os pés em Brasília." A promotora de eventos Jeanne Mary Corner disse que consultará seu advogado antes de se manifestar.
Folha

2 comentários:

Anônimo disse...

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Anônimo disse...

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