10.4.06

Votar nulo é votar neles!

A quem está vivendo, há meses, o drama de se sentir traído, enganado e roubado, vale lembrar que, após a agonia, existe sempre a esperança de uma Páscoa!

Nestes difíceis anos de minha vida política, não me recordo de ter visto os brasileiros tão desanimados, tão descrentes e tão desesperançados como agora. Uma parte é composta por aqueles que jamais acreditaram nas boas intenções e na competência dos atuais ocupantes do Planalto, como é o meu caso, por exemplo. É que eu convivi com a maioria deles e os conheci de perto. Tinha e tenho juízo objetivo sobre a precariedade intelectual e a fraqueza de princípios de quase todos eles. A outra parte dos desiludidos, no entanto, é formada pelos que depositaram toda a sua fé nesses mafiosos trapalhões, levando a sério as posturas farisaicas desses líderes e confiando nas suas juras de correção e seriedade.

Não há, na vida, nada mais doloroso que o sentimento de ver traídos e desperdiçados todos os seus sonhos !

O PT veio usando, nestes anos, um discurso que ia direto aos corações dos mais jovens, dos menos experientes. Um discurso emotivo, embora vazio, apoiado, repetido e difundido por lideranças sindicais, universitárias e religiosas. Esse discurso esperto despertava em cidadãos bem-intencionados uma onda de civismo. Minhas desconfianças em relação à ética do PT não nasceram de preconceitos. Nasceram de fatos e observações, principalmente durante trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte instalada em 1987.

O PT jamais se interessou por qualquer aperfeiçoamento de nosso sistema eleitoral e partidário. A prova mais eloqüente dessa postura arcaica foi dada por ocasião das alterações e modernizações do sistema partidário e eleitoral. Queríamos as mesmas regras que, praticadas em nações democráticas, dão mais poder ao eleitor e mais transparência ao sistema parlamentar. Nada feito! O PT sempre votou contra tudo, exigindo cega obediência dos muitos que, na sua bancada, pensavam como nós...

Nossa causa não era partidária. Nem ideológica. Era um passo adiante em nossa democracia. Queríamos o voto distrital, puro ou misto, porque sabíamos o mal que o voto proporcional vinha causando à nossa representação democrática. Queríamos a fidelidade partidária porque, há muito tempo, nosso país contemplava o triste espetáculo de políticos que, sem a menor cerimônia, e por razões inconfessáveis, mudavam de legenda após a posse. Queríamos a cláusula de desempenho partidário, para que nossa vida parlamentar não continuasse à mercê de legendas de fundo de quintal, de seitas religiosas ou de aluguel puro e simples. E queríamos, principalmente, o financiamento público de campanhas, para que o poder econômico, disfarçado ou não, parasse de interferir nos resultados eleitorais. O PT sempre se opôs a qualquer mudança nesse setor, e só agora, depois que tudo veio à tona, ficamos sabendo dos motivos reais. Os recursos não podiam, mesmo, ser declarados...

Felizmente, alguns avanços éticos e democráticos foram alcançados, com grandes dificuldades. Tudo o que não conseguiu ser aperfeiçoado teve o PT como agente paralisador. E o pouco que já se faz não teve a ajuda do PT.

Nosso presidencialismo continua imperial e capenga, ideal para o aparecimento de lideranças fanatizadoras, populistas, salvadoras da pátria. Por isso eles continuam endeusando o Fidel e, agora, o Chávez.

Nossos partidos continuam sem sentido, frágeis capitanias hereditárias de feudos em decadência. O voto proporcional continua sendo a grande desgraça de nossa representação política e uma das maiores causas de corrupção. A falta da fidelidade partidária e a ausência de financiamento público de campanhas, como se viu, estão na origem de toda a imensa lambança que os técnicos em contabilidade petista souberam inventar, o valerioduto e o mensalão. O resultado está aí.

O PT nunca apoiou essas bandeiras! Nem na Constituinte nem na revisão da Carta, em 1993. Na verdade, o PT nunca desejou nenhum progresso partidário e eleitoral em nosso país. Eles chegaram até a levantar desconfianças sobre a urna eletrônica!

Ao PT sempre interessou manter partidos fracos e eleitores sem poderes. E foi graças à ausência dos instrumentos democráticos de vigilância cívica que eles montaram seu espertíssimo esquema para abastecer o partido.

Passou a funcionar uma nova fórmula, que só veio à tona por conta de briga interna no Planalto. A revelação de fatos estarrecedores, na CPI, deixou o País atônito. O governo desmoronou. A alta cúpula do PT vai para o banco dos réus. Talvez sejam punidos, talvez escapem... E nós, fazemos o quê? Seremos ouvidos ou nossa voz foi arrancada de nossa garganta?

Temos um dia marcado para dar a nossa opinião e fazer valer a nossa vontade: vai ser agora, daqui a pouco, em outubro. Apavorados com nossa decisão, eles, do PT a aliados, já estão em plena campanha, pregando o voto nulo. Querem calar a voz do povo, pregando que a melhor vingança contra os políticos corruptos é não votar em ninguém! Vão usar muito dinheiro e muita mídia para reescrever a novela do mensalão e do valerioduto. No relatório paralelo que eles pretendiam apresentar, o mensalão nunca existiu e o Planalto nunca comprou as legendas para compor a sua base. Não caiam nessa armadilha! Vamos votar, sim. Não faltaremos ao Brasil. Escolham bem. E votem! Votar nulo não anula a eleição. Votar nulo anula você, eleitor!

Depois de tanta agonia, desejo a todos uma feliz Páscoa da Ressurreição.


Sandra Cavalcanti, professora, foi deputada federal constituinte, secretária de Serviços Sociais no governo Lacerda, fundadora e presidente do BNH. E-mail: sandra_c@ig.com.br