26.4.06

Papéis do Tesouro

Estrangeiro leva 20% dos papéis do Tesouro

Os investidores estrangeiros adquiriram perto de 20% do volume financeiro dos títulos federais de dívida interna emitidos pelo Tesouro Nacional nos leilões primários de fevereiro e março. Equivalente a cerca de R$ 8,5 bilhões, a participação superou a expectativa que o governo tinha quando editou a Medida Provisória 281, disse ontem o coordenador geral da dívida pública, Ronnie Tavares.

Em vigor desde meados de fevereiro, a MP 281 é a que isentou de Imposto de Renda as aplicações estrangeiras em títulos federais. Ronnie não precisou qual era a expectativa original. Mas, informou que, antes do estímulo tributário, investidores não-residentes respondiam por menos de 5% do volume colocado.

Não necessariamente os R$ 8,5 bilhões adquiridos no mercado primário permaneceram integralmente na mãos de estrangeiros. Em tese, eles podem ter revendido papéis no mercado secundário ou até adquirido mais. Para efeitos de formação da taxa de juros e do alongamento de prazos, o que interessa são as emissões primárias, disse o coordenador.

Confirmando um dos pressupostos da MP, a demanda dos estrangeiros foi mais forte por títulos longos. Do volume colocado em papéis com prazo acima de dez anos em fevereiro e março, eles compraram 57%. Dos títulos com prazo de vencimento entre três e dez anos, foram 33%.

Para Ronnie Tavares, foi em boa medida graças aos estrangeiros que o Tesouro reduziu de 8,95% para 7,5% ao ano, de janeiro a março, a taxa de juros de colocação das NTN-B mais longas (vencimento em 2045).

As Notas do Tesouro Nacional dos tipos B e C são papéis longos corrigidos por índices de preço. Em conseqüência da elevada participação delas no total emitido (56%) em março, o prazo médio das emissões em ofertas públicas subiu em relação a fevereiro, passando de 54,97 para 55,16 meses. Ainda assim, por causa dos resgates, o prazo médio do estoque recuou de 29,53 para 29,31 meses, informou Tavares, ao divulgar as últimas estatísticas da dívida mobiliária federal interna (DPMFI), ontem.

Esse encurtamento refletiu o aumento da participação da dívida de curto prazo no total do saldo, de fevereiro para março. Depois de cair por três meses consecutivos, o valor a vencer em 12 meses subiu de 38,43% para 40,1% de toda a dívida, porque o volume a vencer em março de 2007, que entrou para o período considerado, é superior ao que venceu em março de 2006.

Ronnie Tavares assegurou que tal elevação não representa uma tendência. O processo de redução da parcela de curto prazo da dívida não necessariamente é linear no tempo, explicou. A meta do Tesouro prevê que, ao final de 2006, essa participação estará reduzida a menos de 36%.

O certo nervosismo experimentado pelo mercado financeiro doméstico em fins de março, em função da troca de ministro da Fazenda no Brasil e do aumento da taxa dos títulos federais de dez anos nos Estados Unidos, levou o Tesouro a suspender o último leilão programado para o mês. Em função disso, houve resgate líquido de papéis.

Os resgates e recompras superaram em R$ 3,1 bilhões as novas emissões, contendo a expansão do saldo da dívida. Já considerada a incorporação de juros, a DPMFI fechou março em R$ 1,021 trilhão, R$ 11 bilhões acima do saldo de fevereiro.

A participação dos títulos com remuneração prefixada, que o governo vem buscando aumentar, subiu de 27,88% para 28,75%. A de papéis indexados à Taxa Selic, que o Tesouro buscar reduzir, recuou de 47,2% para 45,6%, já dentro da meta para o final do ano (máximo de 48%). Mesmo com a desvalorização do real frente ao dólar, a dívida indexada ao câmbio voltou a cair, de 2,39% para 2,33%, por causa do vencimento de papéis atrelados ao câmbio.

Ronnie confirmou que o Tesouro tem reservas suficientes para enfrentar, se necessário, cinco meses de vencimentos das dívidas interna e externa, sem emitir papel novo, caso as condições de mercado se deteriorem com as eleições presidenciais. Até fins de 2005, esse "colchão" era de três meses. Só de dívida externa, vencem o equivalente a R$ 21,9 bilhões de abril a agosto. Os vencimentos da dívida interna no mesmo período somam R$ 178 bilhões.
Valor