29.4.06

Crise no campo

Protestos bloqueiam rodovias e barram mais de 100 caminhões
Em Lucas do Rio Verde (MT), participaram cerca de 1,5 mil produtores


Os protestos se intensificaram no eixo Nova Mutum-Sinop da BR-163, em Mato Grosso, o maior centro de produção de soja e milho do País. Mais de 100 caminhões carregados de grãos foram barrados na região. Cerca de 1.500 produtores de Lucas do Rio Verde (350 km de Cuiabá) acampados na beira da estrada com seus tratores e máquinas, queimaram uma colheitadeira na pista. "Vende-se por R$ 1,99 mais Finame", diziam placas afixadas nos tratores. A pista está coberta de soja, derrubada de um caminhão que tentou furar o bloqueio.

Em Nova Mutum (255 km de Cuiabá), cerca de 500 agricultores bloquearam o Banco do Brasil da cidade com tratores e colheitadeiras e impediram a entrada de clientes. Os produtores estão barrando também a saída de caminhões de soja de tradings como Bunge, ADM e Cargill. Na Bunge de Nova Mutum, há 26 caminhões impedidos de partir com os carregamentos para o Porto de Paranaguá, de onde seriam exportados. A região produz quase 10% da safra brasileira de grãos.

Os prefeitos decretaram ponto facultativo e a maioria do comércio das cidades estava fechado. Muitas lojas tinham bandeiras pretas em sinal de luto.

O movimento foi batizado de Grito do Ipiranga, por causa da cidade onde começou, Ipiranga do Norte, na quarta-feira da semana passada. Os produtores reivindicam redução de impostos sobre o óleo diesel, renegociação das dívidas com juros mais baixos, mudanças na política cambial, conclusão da BR-163 e desoneração dos insumos agrícolas.

Pedro Ferronato, produtor de Ipiranga do Norte, é o idealizador do movimento. Ele planta 300 hectares de soja e está devendo R$ 120 mil. Está com o nome sujo no Serasa porque atrasou as prestações e vai vender duas máquinas e parte de suas terras. "Vou caçar e pescar", brinca. Ferronato afirma que o movimento vai continuar por tempo indeterminado, apesar de haver uma liminar determinando o desbloqueio da estrada. Cerca de 30 agentes da Polícia Militar e Polícia Rodoviária Federal, além de quatro agentes da Polícia Federal, foram deslocados para a região. "Se tentarem tirar a gente da estrada,vai ser uma carnificina."

O coordenador de Comercialização e Abastecimento do Ministério da Agricultura, Sílvio Farnese, foi ontem à cidade reunir-se com os prefeitos da região e lideranças rurais. Ele falou sobre a prorrogação das dívidas com bancos oficiais, anunciada pelo governo recentemente, e garantiu que o projeto de seguro agrícola sai do papel neste ano. Mas os produtores estavam com os ânimos exaltados e receberam Farnese em clima de hostilidade. "Vocês vêm dar migalhas para a gente, não vamos conseguir plantar nada na próxima safra", disse Ferronato. "Isso só vai ser resolvido a paulada."

O prefeito de Lucas do Rio Verde, Marino Franz, afirmou que o movimento continua pelo menos até terça-feira, quando lideranças rurais de vários Estados se reúnem para ampliar os protestos. Nesse dia, o movimento deve ter a adesão dos caminhoneiros de Mato Grosso e podem ser fechadas outras rodovias, inclusive na Bahia e em Mato Grosso do Sul .