9.9.06

Um filão com 12 milhões de votos

O presidente Lula apostou ontem no poder multiplicador dos cerca 1.200 pastores, dos dois mil convidados da Assembléia de Deus parra um congresso evangélico na Catedral de Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio. Os pastores, após o encontro com o presidente, demonstraram ter gostado do discurso de Lula, principalmente quando ele lembrou sua origem e fez promessas de priorizar os mais pobres, segmento que compõe a maior parte dos membros da maior denominação pentecostal do Brasil, com 12 milhões de fiéis.

Na platéia, que aguardou em silêncio disciplinado o presidente atrasado uma hora e meia e só deixou o templo para o almoço depois da permissão do bispo, estavam pastores de várias cidades do interior fluminense e alguns de outros estados.

O pastor Gilson Paiva, de Volta Redonda (Sul Fluminense), conta que, depois de o bispo Manoel Ferreira ter escolhido Lula, a recomendação chegará rapidamente aos fiéis. Ele lembra que a igreja orienta os pastores a não ferir a lei eleitoral pedindo votos nos cultos, mas revela que a influência será feita por meio dos líderes de grupos de senhoras, jovens e participantes de outras atividades das unidades. Dessa forma, ele acredita, a igreja ajudará Lula a vencer no primeiro turno, como pediu o bispo.

"Influencia porque nós, como pastores, exercemos liderança sobre o povo. É bem verdade que o voto é democrático, mas assim como nós espelhamos o nosso líder maior, o presidente da nossa convenção (Ferreira), e ele se espelha na pessoa de Cristo, os membros da igreja automaticamente se espelham na sua liderança", disse o pastor. "Existe, não uma obediência cega à hierarquia, mas um respeito à liderança constituída por Deus sobre as nossas vidas", explicou Paiva.

Líder da Assembléia de Deus em Mangaratiba (Litoral Sul Fluminense), o pastor José Garcia disse ter visto tanta sinceridade no interesse de Lula pelos evangélicos que até torceu pela conversão do presidente. "Foi o primeiro passo, quem sabe amanhã ou depois ele continue freqüentando (os templos) e abra o coração para que realmente Deus o tome e o ajude a governar no dia-a-dia?", declarou Garcia, dizendo saber como ajudar na eleição de Lula. "Orando e chegando às urnas indicando o nome dele."

Para Rosário Gonçalves de Souza, pastor de Macaé (Norte Fluminense) que já tem falado de Lula a seus seguidores, é mais fácil pedir votos aos fiéis para o presidente por causa do discurso para os mais pobres, que compõem o tecido social da Assembléia de Deus. Muitos fiéis são beneficiados por programas federais, como o Bolsa Família. Ele elogiou as facilidades da legislação fiscal, citada por Lula, para a abertura de novas igrejas, e elogiou a visita. "Ele poderia simplesmente mandar um representante, como muitos já fizeram, e não vir. Ele pelo menos mostrou a cara e veio", elogiou Souza.

Lula conseguiu explorar a auto-estima dos pastores."É um privilégio ter pela primeira vez um presidente nos visitando. Ainda existe muito preconceito em relação aos evangélicos e essa aproximação é boa para nós e para ele", definiu Isaías de Souza, pastor de Campo Grande, na Zona Oeste da capital. Para Oswaldo Martins, também pastor de Campo Grande, os evangélicos não podem mais ser ignorados porque estão conquistando cada vez mais espaço no meio político. "Há muitos cargos sendo ocupados por evangélicos. Somos humildes, mas temos inteligência".

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