Maioria em Campinas vê motivação política
O cadáver de Toninho atormenta o PT, tanto quanto o de Celso Daniel - do mesmo partido -, prefeito de Santo André executado quatro meses depois.
Pesquisa na cidade aponta que 70% da população acredita que seu prefeito foi alvo de trama política. "Foi encomenda", diz Roseana. "Se eu tinha alguma dúvida, hoje não tenho mais. Políticos que não têm preço, como ele, terminam assim."
Roseana lembra que Toninho tomou "medidas drásticas" logo que assumiu, que teriam batido de frente em interesses escusos de corporações e de políticos. Havia rompido com o antecessor (Jacó Bittar), sobre cuja gestão recaíam suspeitas de desvios, impôs rigores na delimitação de áreas de proteção ambiental, o que desagradou a grupos imobiliários, e reduziu em R$ 40 milhões o contrato do lixo e em R$ 15 milhões o da merenda escolar.
Roseana é filiada ao PT, mas diz que sua luta é suprapartidária. "Ninguém se interessa pelo caso, nem o PT nem outro partido, nem o Ministério da Justiça." Ela mudou-se para São Paulo. Um dia quer voltar a Campinas, não o faz agora porque tem medo. Aponta exceções no PT, gente que a acompanha nessa luta, como o deputado estadual Renato Simões, o senador Eduardo Suplicy e o presidente do partido em Campinas, Gerardo Melo.
Não aceita a versão de que seu marido foi vítima de Andinho, o bandido condenado a mais de 100 anos de prisão por seqüestros e crimes de morte. "Andinho já confessou muitos crimes, mas nega ter matado o Antonio."
Suas desconfianças crescem também porque a polícia matou três suspeitos, dois em suposto confronto em Caraguatatuba. Roseana pensa em anular o voto nas eleições. "O Antonio foi morto porque estava atrapalhando o trânsito de quadrilhas formadas no poder . Sou uma mulher sozinha gritando."
Na quarta-feira, Lula falou sobre o caso. "A Polícia Federal foi, sim, colocada à disposição da Justiça nesse caso. Ocorre que, quando assumi a Presidência, o Ministério Público havia apresentado denúncia e, portanto, já existia ação penal. Quando uma ação penal está em curso a polícia só pode realizar diligências a pedido da Justiça, o que não ocorreu."
O promotor de Justiça Fernando Vianna diz que "não há nada" que indique motivação política ou premeditação. O Ministério Público denunciou formalmente o seqüestrador Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, como autor do crime.
A polícia sustenta que Andinho e seu grupo atiraram porque Toninho estaria fechando involuntariamente a passagem do carro dos bandidos. "Nunca descartamos que esta (queima de arquivo) poderia ter sido a motivação. Mas não há nenhuma prova", diz Vianna.
"Luta neste país é na bala', diz viúva de Toninho do PT
Para ela, foi político o assassinato do prefeito, que completa 5 anos amanhã
Tantos foram os revezes sofridos nas repartições oficiais, no seu partido e até no gabinete do presidente Lula desde que Toninho do PT, seu marido, foi emboscado e fuzilado, que essa mulher está convencida de que no Brasil o crime organizado é vitorioso. "Não existe democracia porque quem fere os interesses do crime organizado acaba eliminado sem defesa", diz Roseana Moraes Garcia, professora e psicanalista, viúva de Antonio da Costa Santos, o Toninho do PT. "A luta neste país não é democrática, é na bala."
Roseana organizou ato público marcado para amanhã, na Avenida Mackenzie, em Campinas, onde Toninho foi morto, pelos cinco anos do assassinato do companheiro, que era prefeito da cidade. A 10 de setembro de 2001, às 22h10, um Vectra se aproximou em alta velocidade do Palio de Toninho e pela janela alguém o baleou. Ele morreu ali mesmo, aos 49 anos. É um mistério sem fim para Roseana e os amigos da família.
Foram muitas cartas de Roseana a ministros, secretários de Estado, políticos e até a Lula. Respostas, nenhuma. Desiludiu-se inclusive de quem esperava solidariedade. "O Lula me recebeu, mas só depois de muita insistência e não fez nada. Cinco minutos de audiência. Levei a ele um abaixo-assinado com 53 mil nomes pedindo uma investigação decente. Lula disse que ia ajudar. Não ajudou."
"Antonio foi vítima de um crime de encomenda", suspeita a mulher. Ele havia denunciado fraudes em licitações envolvendo Jacó Bittar, seu antecessor, que era do PT.
Estadão
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