15.9.06

Relatório da PF mostra ministros envolvidos com irregularidades

Lula reivindica os méritos do combate à corrupção, mas esquece de falar que o governo anterior também realizou e iniciou operações importantes

A declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de que 81% dos grupos corruptos desmontados pela Polícia Federal nasceram no governo Fernando Henrique Cardoso, quando esmiuçada, revela dados que constrangem o governo.

De fato, várias quadrilhas citadas no balanço da PF, entregue por Lula a jornalistas durante entrevista a Band na última quinta-feira, 14, nasceram em governos anteriores, sobretudo os de José Sarney (1985-1990) e Fernando Collor (1990-1992). No entanto, embora possa capitalizar politicamente o bom desempenho da PF, o governo Lula ostenta um dado incômodo: quatro ex-ministros do governo petista estão entre os apanhados em denúncias de corrupção investigadas pela PF.

A quadrilha desmontada pela Operação Vampiros em 2004, na qual está indiciado o ex-ministro da Saúde Humberto Costa, já desviava dinheiro da saúde em 1990, no governo Collor, conforme constatou a CPI da Central de Medicamentos (Ceme).

Além de Costa, foram investigados José Dirceu (Casa Civil), acusado no inquérito do mensalão, Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), acusado de irregularidades nos gastos com publicidade e Antônio Palocci (Fazenda), indiciado pela violação do sigilo bancário do caseiro Francenildo dos Santos Costa e em inquéritos por desvio de dinheiro público quando foi prefeito de Ribeirão Preto, na década de 90.

Embora Lula reivindique os méritos do combate à corrupção, o governo anterior também realizou e iniciou operações importantes, como as que desmantelaram quadrilhas que recursos das superintendências de desenvolvimento da Amazônia (Sudam) e do Nordeste (Sudene). Foi um trabalho articulado da PF com o Ministério Público que desmantelou a megaquadrilha comandada no Acre pelo ex-deputado Hildebrando Paschoal.

Também foi desmantelada pelo governo Fernando Henrique uma poderosa organização comandada pelo Comendador Arcanjo, no Mato Grosso, envolvida em desvio de recursos públicos, narcotráfico, lavagem de dinheiro e remessas ilegais. Começou no governo anterior o trabalho que levou a desarticular as quadrilhas do crime organizado no Espírito Santo e que mandava bilhões ilegalmente para fora do País no esquema Bestado.

Algumas quadrilhas, de tão antigas, passaram de pai para filho e já caminhavam para a terceira geração. É o caso da máfia das sanguessugas, que vendia ambulâncias superfaturadas a prefeituras para desviar recursos de emendas de parlamentares. O esquema, montado na empresa Planam, no Mato Grosso, foi organizado na década de 90 pelo empresário Darcy Vedoin e transferido para o filho, Luiz Antônio, recapturado nesta sexta-feira, 15, pela PF.

Algumas das quadrilhas especializadas em fraudes na Previdência nasceram no governo Sarney, quando foi montada uma rede de corrupção comandada pelo juiz Nestor do Nascimento e a advogada Jorgina de Freitas, desmantelada no governo passado. Além disso, vários grupos desmontados no atual governo tiveram o trabalho de investigação iniciado anos antes.

O último balanço da Polícia Federal mostra que, de janeiro de 2003 a 13 de setembro último, foram realizadas 239 grandes operações no Brasil, mais da metade delas dedicadas ao combate à corrupção. Nessas ações, foram desmanteladas cerca de 300 quadrilhas de ramos diversos e presas 3.692 pessoas, das quais, cerca de 1.800 indiciadas por corrupção, entre elas, 692 servidores públicos.
Estadão

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