19.9.06

Fazenda de deputado é alvo da Via Campesina

Fazenda de deputado é alvo da Via Campesina
Sem-terra dizem que área é presente da Monsanto a Lupion em troca de apoio no Congresso


Cerca de 300 integrantes da Via Campesina estão acampados desde a manhã de ontem em frente à Fazenda Santa Rita, em Santo Antônio da Platina, a cerca de 350 quilômetros de Curitiba, no norte do Paraná. A propriedade pertence ao deputado Abelardo Lupion (PFL-PR), que cria gado nelore. Segundo o movimento, o objetivo é 'denunciar a corrupção do agronegócio, do qual o parlamentar ruralista é um dos principais articuladores'. Eles pedem a cassação do mandato do deputado.

Segundo a Via Campesina, a fazenda seria um presente da multinacional americana Monsanto ao deputado em troca de apoio no Congresso para aprovação de emenda à medida provisória que autoriza o uso do glifosato como herbicida na cultura de soja transgênica - críticos do glifosato afirmam que ele causa a infertilidade do solo. O movimento disse que a aprovação ocorreu cinco meses após a compra da fazenda pelo deputado.

A Via Campesina afirma que Lupion comprou a fazenda de 145 alqueires por R$ 690 mil - menos de um terço do valor. Acusa-o ainda de fazer caixa 2 em campanha eleitoral e usar de sua influência política para liberação de recursos.

'Queremos que a Justiça e o Ministério Público tomem providências, e nada mais justo do que a cassação', disse o coordenador da Via Campesina, Diego Moreira. Acampados às margens da BR-153, os manifestantes pretendem realizar debates e discussões sobre agroecologia e reforma agrária. O movimento não tem data para ser encerrado.'Nossa manifestação é pacífica', garantiu o coordenador.

BABOSEIRAS

Lupion entrou com mandado de interdito proibitório - instrumento jurídico para evitar invasão da propriedade - e classificou o ato como 'político'. 'Inventaram baboseiras para protesto e foram fazer violência a mando do Lula, do PT e seus asseclas', acusou o deputado. Segundo ele, não há nenhuma denúncia aceita pelo Supremo Tribunal Federal contra ele, assim como todas as representações na Câmara foram rechaçadas no início. Lupion afirmou que o movimento ficou irritado porque, no relatório da CPI da Terra, ele pediu indiciamento dos líderes por apropriação indébita e prevaricação, além de propor que invasão com seqüestro seja considerado crime hediondo.

Lupion disse que comprou a fazenda em 1999 da Agroceres, em tomada de preço público. Mais tarde, a Agroceres foi incorporada à Monsanto.

'Paguei em dia e não tem dinheiro público', afirmou. Segundo ele, o movimento desconhece que o glifosato já é de domínio público há dez anos e, além disso, sua emenda não foi acolhida. Ele foi para a fazenda ontem e disse que cerca de 200 proprietários de todo o Paraná podem se dirigir até lá para lhe dar apoio.

Em Londrina, o Movimento dos Sem-Terra continua ocupando fazenda da família do deputado licenciado José Janene (PP-PR). Ela foi invadida sexta-feira, sob pretexto de 'denunciar a corrupção de políticos que usam o dinheiro público para acumular patrimônio'. A Justiça já concedeu reintegração de posse. No sábado, os sem-terra disseram ter encontrado simuladores de urnas eletrônicas na fazenda. O Ministério Público Eleitoral pediu que sejam encaminhados para a Polícia Federal fazer perícia.
Estadão

Nenhum comentário: