17.9.06

Lula, China e Congresso

Para Lula, crescimento à chinesa só com o Congresso fechado

Em jantar com empresários, presidente disse em tom de crítica que nova legislatura deve ter Maluf e Clodovil



A conversa corria animada, entre um grupo de empresários e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no jantar oferecido quinta-feira passada pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Furlan, quando um dos presentes fez a pergunta crucial: o que seria preciso fazer para o Brasil crescer num ritmo maior, quem sabe no ritmo da China?

'Aqui é mais complicado', respondeu o presidente. 'A China é uma ditadura. Para fazer isso, só se eu fechasse o Congresso'.

Todos em volta riram. Imediatamente, de um lado e de outro, brotaram comentários de que isso não seria possível - mas todos passaram, no ato, a fazer fortes críticas ao atual Congresso. E o nível do próximo, a ser eleito daqui a duas semanas, na opinião geral não deverá ser melhor. O presidente lembrou que, entre outros eleitos, lá estarão figuras como Paulo Maluf e Clodovil. Em seguida, porém, trouxe à lembrança a frase famosa de um cacique da política nacional, Ulysses Guimarães. 'O dr. Ulysses já dizia: ruim com os políticos, pior sem eles', ponderou Lula.

Aquela era a principal das cinco mesas preparadas na casa do ministro, em Brasília. Além do próprio Furlan, ali estavam Eugênio Staub, dono da Gradiente, o dono do Grupo Ultra, Paulo Cunha, um dos diretores do Unibanco, Pedro Moreira Salles, e o presidente da Câmara Americana de Comércio, Hélio Magalhães.

Espalhados pelas outras mesas estavam, entre os cerca de 35 convidados, Walter Fontana (Sadia), Carlos Mariani (Grupo Mariani), Domingos Boulus (White Martins), Alberto Gueller (Unipar), Gustavo Marin (Citigroup), Rogério Oliveira ( IBM) e Bolívar Moura (Ipiranga).

Como de hábito, o presidente espalhou palavras nada elegantes, à vontade, nas rodinhas pelas quais circulou, antes que o jantar fosse servido. Já nessa etapa inicial do encontro, alguns dos convivas se assustaram com a falta de cerimônia presidencial. Eram, no caso, empresários que jamais haviam estado com Lula em ambientes informais.

Quem imaginava aproveitar a proximidade com Lula para saber coisas importantes saiu decepcionado: praticamente metade do tempo ele passou falando sobre peixes e surpreendendo todo mundo pelo seu conhecimento, em especial, sobre as tilápias.

Além da inesperada menção à idéia de que o País só cresceria se o Congresso fosse fechado, Lula explicitou sua vontade de reduzir impostos - ele disse ter uma disposição de baixá-los em 10%, quem sabe ainda antes das eleições. 'Até o (ministro Guido) Mantega (da Fazenda) está achando que estou sendo muito agressivo', avisou em seguida. Em outros momentos, pareceu claro aos empresários que o presidente, num eventual segundo mandato, não fará grandes mudanças na estratégia econômica - o que, na opinião geral, significa manter o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. E Lula não parece ter dúvidas de que vencerá no primeiro turno. Comentou que se isso de fato ocorrer seu novo governo começa já no dia 5 de outubro.
Estadão

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