Vedoin, o empresário dos sanguessugas,é preso pela PF. Ele é suspeito de participar com petistas de uma armação contra o candidato tucano
A Polícia Federal anunciou, na sexta-feira passada, a prisão do empresário Luiz Antônio Vedoin em um motel em Cuiabá. Vedoin é um dos sócios da Planam, empresa que chefiava a máfia dos sanguessugas. O empresário foi preso como resultado de escutas telefônicas feitas pela PF. As escutas mostraram que Vedoin havia se envolvido em um esquema sujo de chantagem e guerra eleitoral: comprometera-se a repassar a um tesoureiro petista e a um segurança que trabalha para o PT um conjunto de fotos e vídeos em que José Serra, candidato ao governo de São Paulo, aparecia em cerimônias de entrega de ambulâncias, no período em que era ministro da Saúde. Na quinta-feira, a PF deteve Paulo Trevisan, tio de Vedoin, quando ele tentava embarcar de Cuiabá para São Paulo. Na bagagem, Trevisan levava fotografias, uma fita de vídeo e um DVD com 23 minutos de duração no qual aparecem imagens de uma solenidade de entrega de ambulâncias em Cuiabá, em 2001. No evento, estavam presentes Serra e o então governador paulista, Geraldo Alckmin.
De Cuiabá, os agentes da Polícia Federal avisaram os colegas de São Paulo e informaram sobre os contatos que o tio de Vedoin manteria na cidade. Na manhã de sexta-feira passada, devidamente alertados, os agentes paulistas prenderam, no Hotel Ibis, em frente ao Aeroporto de Congonhas, dois desses contatos. Um deles é Valdebran Carlos Padilha da Silva, empreiteiro de Mato Grosso, tesoureiro informal nas campanhas do PT no estado. Ele é ligado ao deputado petista Carlos Abicalil, notório engolidor de provas na CPI dos Correios. Valdebran e Abicalil operam juntos. O deputado usa uma casa de Valdebran como comitê de campanha em Cuiabá; Valdebran, por sua vez, seria um dos responsáveis por viabilizar as emendas de Abicalil.
Valdebran atualmente tem trabalhado pela candidatura ao governo da petista Serys Slhessarenko, envolvida no escândalo dos sanguessugas. Ele estava com muito dinheiro em seu poder: 758.000 reais e 109.800 dólares, tudo em dinheiro vivo. O outro preso é Gedimar Pereira Passos, um agente federal aposentado que recentemente passou a trabalhar como segurança no PT. Assim como Padilha, ele deveria encontrar-se com o tio de Vedoin e, também como Padilha, trazia consigo uma bolada em dinheiro vivo: 139.000 dólares e 410.000 reais. A PF suspeita que todo esse dinheiro seria trocado pelas fitas em poder do tio de Vedoin.
Semanas depois que fez um acordo com a Justiça Federal para delação premiada, em julho passado, o empresário Luiz Antônio Trevisan Vedoin passou a ter suas ligações telefônicas secretamente monitoradas pela Polícia Federal. As autoridades estavam desconfiadas do comportamento do empresário, que parecia proteger alguns envolvidos e esconder parte de seu baú de provas. O monitoramento permitiu aos agentes federais ter a certeza de que Vedoin estava fazendo chantagem e negociando acusações. Nas últimas negociações, descobriu-se que os alvos eram Geraldo Alckmin e José Serra. As conversas telefônicas indicavam que Vedoin estava empenhado em reunir indícios de envolvimento dos tucanos com a máfia das ambulâncias. O superintendente da PF em Cuiabá, Geraldo Pereira, explica que a prisão de Vedoin ocorreu pelo crime de ocultação e venda de provas. "Temos mais elementos contra ele", diz o superintendente. "Essa investigação não começou ontem."
Na semana em que a Polícia Federal estourou as negociações clandestinas de Vedoin para incriminar os tucanos, a revista Istoé publicou uma reportagem de capa na qual Vedoin e seu pai, Darci Vedoin, acusam Serra de envolvimento com a máfia dos sanguessugas. No início da noite de quinta-feira, antes de a reportagem de Istoé vir a público, o advogado Otto de Azevedo Júnior, que defende Vedoin, entrou em contato com a redação de VEJA para avisar que havia protocolado uma petição na Justiça Federal com novas acusações de Vedoin. Otto disse ainda que as denúncias seriam publicadas na Istoé, mas citou apenas o envolvimento do nome do ex-ministro Barjas Negri, que foi secretário executivo de Serra e o sucedeu na Pasta da Saúde. Uma hora depois, em novo contato telefônico, dessa vez com o próprio Luiz Antônio Vedoin, VEJA perguntou ao dono da Planam se, na entrevista a Istoé, ele havia citado o nome de José Serra. Vedoin negou peremptoriamente, mas o que se viu no dia seguinte é que ele havia mentido. Ao que tudo indica, Vedoin foi uma das peças de uma chantagem. Há muito por esclarecer nesse episódio. Espera-se, no entanto, que ele não sirva de álibi para livrar de punição os políticos sanguessugas que foram denunciados, com provas e fortes evidências, pelo empresário.
Veja
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