12.2.06

Caso Waldomiro, ainda longe do fim

Caso Waldomiro, ainda longe do fim
Dois anos depois, ex-assessor de Dirceu e demais acusados nem sequer respondem a processo criminal na Justiça


Às vésperas de completar dois anos, o caso Waldomiro Diniz - primeiro grande escândalo do governo Lula, em que o ex-assessor da Presidência foi flagrado cobrando propina de um empresário de jogos no Rio - continua sem que as Polícias Federal e Civil, o Ministério Público e duas CPIs provem na Justiça que os acusados cometeram algum crime, apesar das provas dos processos. São cruzamentos de telefonemas, relatos de encontros, registros de visitas e reuniões, depoimentos e, principalmente, a confissão e o flagrante filmado do momento em que o principal acusado do caso cobra propina para financiamento de campanhas eleitorais e para benefício próprio.

O escândalo Waldomiro veio à tona no dia 13 de fevereiro de 2004, com reportagem publicada pela revista Época. Nela, o ex-assessor aparece numa fita, gravada em 2002, cobrando propina do empresário do ramo de jogos Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Em troca, Cachoeira poderia fazer alterações numa licitação aberta pela Loteria do Estado do Rio de Janeiro (Loterj) - que, na época, era presidida por Waldomiro.

No mesmo dia, Waldomiro foi exonerado do cargo que ocupava no governo federal: subchefe de Assuntos Parlamentares da Casa Civil. E, apesar da resposta imediata, foi a partir desse escândalo que o então ministro José Dirceu passou a perder força dentro do governo.

PROCESSOS

De lá para cá, dois inquéritos policiais foram abertos, duas denúncias criminais e uma ação cível foram entregues à Justiça e duas CPIs foram criadas - a dos Bingos, em Brasília, e a da Loterj, no Rio. Apesar das acusações, Waldomiro e outros envolvidos nem sequer respondem criminalmente na Justiça. É que, nas duas tentativas de conclusão dos promotores, o juiz devolveu os processos-crime para mais investigações.

Pesam sobre Waldomiro acusações de corrupção passiva, formação de quadrilha, fraude em licitação, tráfico de influência e improbidade administrativa. Na CPI dos Bingos, a mais ampla das investigações, que será concluída agora em abril, Waldomiro responde em três frentes: sua participação na renovação do milionário contrato da multinacional Gtech com a Caixa Econômica Federal, que teria beneficiado a empresa em pelo menos R$ 40 milhões; sua ligação com empresários de bingos, que teriam financiado campanhas eleitorais do PT em troca da regulamentação dos jogos no País; e suas relações com Carlinhos Cachoeira, num suposto esquema de favorecimentos em loterias estaduais.

Relatório parcial da CPI dos Bingos, aprovado no início do mês, já pede o indiciamento de Waldomiro Diniz por corrupção passiva, crime contra procedimento licitatório e improbidade administrativa. Mas o relatório diz respeito apenas ao caso Gtech. Não estão listados os casos de crime eleitoral, como os R$ 100 mil que Waldomiro confessou em seus depoimentos ter recebido de Cachoeira, destinados à campanha de Geraldo Magela (PT) ao governo do Distrito Federal, em 2002.

"Apesar da convicção que existe de que ele teria participado de todos os esquemas, o problema é que há uma dificuldade de produzir provas. É mais uma condenação política do que jurídica", admite o relator da CPI dos Bingos, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN).

Enquanto isso, o homem considerado estopim de toda a crise do governo Lula e do PT vive em Brasília sob a sombra do esquecimento. No prédio em que mora, na quadra 202 Sul de Brasília, Waldomiro é pouco visto.

Durante a semana, o Estado tentou contato com Waldomiro, mas seu advogado, Luiz Guilherme Vieira, informou que ele não iria falar e tudo que tinha a dizer já estava declarado oficialmente nos processos.
Estadão