Lobista responsável por divulgar 'lista de Furnas' detalha esquema de corrupção.
09/02/2006 - 10:09:13 Redação Gazeta Rádios e Internet
O lobista mineiro Nilton Monteiro, responsável pela divulgação da chamada “lista de Furnas”, detalhou, em entrevista ao programa CBN Vitória, da Rádio CBN, (93,5FM), como funcionou o suposto esquema de envio de dinheiro de Furnas para políticos brasileiros. Ele reafirmou, na manhã desta quinta-feira, que possui recibos dos pagamentos da estatal a políticos, mas que por enquanto não pretende divulgar esses documentos.
A “lista de Furnas” é um conjunto de cinco folhas de papel sem autenticação que aponta a existência de caixa dois na campanha de 2002. Enumera 156 políticos de 12 partidos que teriam recebido dinheiro por meio da estatal de energia. O lobista disse ter recebido a lista do ex-diretor de Furnas Dimas Fabiano Toledo, cuja assinatura está no papel, com autenticação em cartório ‘por semelhança’. Dimas nega o conteúdo e a autoria da lista. Confira a entrevista dada a jornalista Fernanda Queiroz, apresentadora do programa CBN Vitória:
Qual a autenticidade da lista de Furnas?
A lista de Furnas é autêntica, mas existem algumas controvérsias. O próprio Dimas Toledo deixou um suspense. Ele contribuiu em 2002 com vários políticos e candidatos a governadores. Em 2004, as contribuições foram a candidatos a prefeitos. Ele realmente era um repassador de recursos.
Como o senhor teve acesso a lista?
Primeiro eu fui procurador da JP Engenharia, que era uma grande empresa de projetos. Ela tinha contratos com Furnas em uma unidade em Campos e eu entrei para salvar a termoelétrica de Campos. O dono da JP, o Ronald Conrado, me passou uma procuração e eu comecei a fazer meu trabalho dentro de Furnas, para salvar este projeto.
Qual a atuação do senhor para salvar essa unidade em Campos?
Eu fui intermediador nesse projeto, tentando salvá-lo. Como já houve um problema entre o senhor Dimas Toledo e o dono da JP, eu entrei para acertar esse problema, mas não sabia que tinha corrido propina entre Dimas e JP Engenharia.
De onde o senhor conhece Dimas Toledo, então presidente de Furnas?
Eu conhecia somente de reportagens. Não conhecia não o presidente de Furnas. Fomos nos aproximando, houve vários encontros. As primeiras denúncias que apareceram sobre Furnas foi eu quem fiz no Ministério Público do Rio de Janeiro. Entreguei alguns contratos e o esquema da propina. Então começou a existir a investigação. Mas eu guardo muitos trunfos, eu tenho muitos trunfos na manga.
Quando foi a primeira denúncia sobre Furnas?
Eu fiz a primeira denúncia de propina entre Dimas Toledo e Conrado [dono da JP Engenheira]. A primeira propina que ele [Dimas] recebeu foi de R$ 900 mil, mas faltou outra de R$ 600 mil. Ele [Dimas] cobrou uma propina de R$ 1,5 milhão, mas isso não foi na minha época. Já foi dele com o dono da empresa. Mas em 2002 ele [Conrado] não pôde pagar R$ 1,5 milhão e só pagou R$ 900 mil. Faltou R$ 600 mil. O Dimas fez retaliação ao projeto, prejudicou este projeto e não foi pra frente. O Conrado, por sua vez, não conseguiu salvar. Foi quando fui contratado para ser o intermediador. Mas eu não sabia nada desse passado do Dimas com o Conrado e essas propinas. Então eu comecei a freqüentar Furnas.
Como foi esse contato do senhor com Furnas?
Participei de reuniões com o Jurídico de Furnas, na presença do Marcos Lima, parente do Aécio Neves, sobrinho de dona Risoleta. Fiz de tudo para salvar esse projeto. Mas o negócio ficou esquisito. Eu apertei o Conrado e ele não falava nada. Num dia, num restaurante do Rio de Janeiro, com o Dimas, ele falou para mandar o Conrado acertar comigo [Dimas] R$ 600 mil que eu [Dimas] tocava esse projeto novamente. Como a JP está queimada em Furnas, eu tenho outra empresa que pode tocar esse projeto. Eu [Dimas] quero R$ 600 mil que ficou para trás, e mais R$ 5 milhões que dou [Dimas] a linha de transmissão todinha. Eu assustei com isso, e ele me deu os contratos aonde passou os R$ 900 mil para eu mostrar para o Conrado. Fiquei municiado. Mas ali tinha propina.
E a partir de então?
Eu tinha colocado um grande escritório em Minas Gerais para salvar este projeto. Esse escritório tem grandes negócios com a família do Aécio Neves. Mas por segredo de Justiça, eu ainda não estou falando sobre esse escritório. A vaga do Dimas estava sendo pleiteada pelo PTB. O Roberto Jefferson queria essa vaga, mas o Lula não queria o Dimas no posto, nem a ministra Dilma. Foi onde eu entrei: para salvar o emprego do Dimas, para que ninguém tirasse ele, ele não tinha saído ainda, mas sabia que tinha que limpar as gavetas.
Quando isso tudo aconteceu?
Isso foi no ano passado. Eu trabalhei, tive a documentação toda, ele [Dinas Toledo] produziu quatro lista, tem recibos que foram apresentados e gente confirmando. As pessoas que estão em controvérsia foram as que receberam para repassar para deputados, mas não são deputados.
Mas porque o projeto da termoelétrica não foi feito?
O projeto não foi feito porque não ia querer pegar esses recursos, essas propinas, e fui afastando e falando que eles deviam procurar outros meios. Ele [Conrado] contratou a Sul América para fazer um estudo. Trouxeram uma empresa da Espanha para salvar projeto. Quando eu soube que tinha propina, vi que isso era caso de polícia. Quando ele pediu os R$ 5 milhões eu abandonei o barco.
Diante dessas informações, o que o senhor fez?
Já contribui com o Ministério Público Federal e com a Polícia Federal. Prestei vários depoimentos. Isso está muito avançado. Aquela ida da Polícia Federa na casa do Dimas foi por causa da minha denúncia.
Afinal, quem fez a lista de Furnas?
Quem fez a lista foi o Dimas. Ele falou ainda que se fosse relacionar nomes daqueles que não se elegeram dava uma lista maior ainda. Não foi só nesse ano, ele vem contribuindo sempre. O Dimas é antigo em Furnas. Ele me explicou que privatizaram tudo, e disse que Furnas é dinheiro à vista, é energia, e o cargo dele é o mais cobiçado. Ele falou que não queria nem a presidência de Furnas.
Quando o interesse do Dimas Toledo?
Ele me municiou para que eu fosse nesse escritório de Belo Horizonte e mostrasse essa lista. Era para pressionar. Era para mostrar que ele ia denunciar, mas que ia levar muita gente junto. Como ele não tinha essa coragem, e eu era corajoso, ele resolveu me municiar.
Porque o Dimas Toledo permaneceu em Furnas?
Ele me disse que não podia sair de Furnas, se não ia ter um black out. Ele conhecia o sistema ‘todinho’, e outra pessoa iria atrapalhar, e contou mais coisas, mas que hoje estão em segredo de Justiça. Ele era sócio oculto de algumas empresas, que às vezes entrava em concorrência e às vezes não, se fazia um aditamento de contrato sem licitação.
E o dinheiro?
Ele não embolsava todo o dinheiro. Essa é uma teia muito grande onde participam vários. Infelizmente é uma cadeia de criminosos.
A ligação com o PSDB, surgiu quando?
Ele é uma cria do PSDB. Ele me disse que não apostava só no 'cavalo'. E me disse que se arrependeu de não ter ajudado o PT, porque esperava que o PSDB fosse ganhar. Me parece que no início ajudou o Ciro Gomes, deputados ligados ao Ciro, mas eu não posso falar nomes. Mas o Ciro começou a cair, já era tarde, e apostava que o Serra ia ganhar.
Era caixa dois?
Eles não se importavam com contratos de R$ 100 mil ou R$ 200 mil. Isso é pé de chinelo, para eles é coisa maior.
O que o senhor fez quando recebeu a lista?
Depois de um almoço, fomos numa papelaria. Ele tinha um CD e imprimiu quatro listas. Ele [Dimas] rubricou, assinou e me deu. Eram quatro iguais e me deu um para que pudesse trabalhar. Ele me apresentou alguns recibos e eu fiquei com alguns, mas a Polícia Federal está investigando.
Inclusive os recibos?
Isso tudo vai ser provado, mas eu prefiro dizer que estou mantendo o silêncio dos inocentes.
Quando pretende apresentar as provas?
A corda está arrebentando. Eu estou pedindo pelo amor de Deus para ir na CPI dos Correios. Me coloca para ir hoje, amanhã, eu preciso ir. Eu já protocolei um pedido. Porque eu vou mostrar como é feito crime nesse Brasil, como é que o PSDB cometeu tanto crime e está tão certinho.
E o PT na lista?
O PT não está na lista porque não fazia parte do negócio do Dimas. Fazia parte quem dava base a candidatura do Serra. Por isso o PT não participou.
Um comentário:
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