28.2.06

PT promove filiação em massa de sem-terra

Com métodos de antigos coronéis da política, o PT conseguiu aumentar em quase 25 mil o número de filiados no ano passado. O partido do presidente da República e de três governadores, mesmo com as denúncias diárias de envolvimento em corrupção, teve um aumento de 4,76% no número de filiados, segundo a secretaria de organização do partido. O primeiro método de sedução é a filiação em massa de miseráveis e desinformados. O segundo é o poder das nomeações e a decisão de como gastar o Orçamento. “O governo fez um investimento maciço no campo, nos assentamentos e entre os pequenos produtores rurais através do Pronaf (Programa Nacional de Agricultura Familiar)”, explica o deputado Walter Pinheiro (BA), ex-líder da bancada na Câmara. “Com isto, muita gente se aproxima das instâncias partidárias e termina entrando no partido”, acrescenta.

A sinceridade de Pinheiro – um deputado que só não se transferiu para o PSOL porque o partido fundado pela senadora ex-petista Heloísa Helena (AL) não tem viabilidade eleitoral – complementa a explicação: “Governo é sempre governo. Máquina é máquina. Atrai como um ímã”. Ele tem razão. Os petistas de carteirinha eram 840 mil em janeiro de 2005 e passavam de 864 mil no mês passado, segundo dados divulgados pela secretaria de organização do partido. Na média nacional, para cada mil eleitores, sete são filiados ao PT.

A expansão do PT chama a atenção pelos números e pelo perfil. Com as novas filiações, o partido avança nos grotões, termo cunhado pelo ex-governador de Minas Gerais Tancredo Neves para definir as áreas do país com pouca presença do Estado. A estratégia dos petistas é chegar junto com o governo para atrair novos filiados. O crescimento mais significativo ocorreu no Ceará, onde em 2004 o partido ganhou a prefeitura de Fortaleza. No ano passado, foram quase 19% a mais de associados. A prefeita Luiziane Lins elegeu-se contra a vontade da cúpula da sigla, que apoiou candidato de outro partido, Inácio Arruda (PCdoB).

O PT engordou no Ceará, mesmo depois que a Polícia Federal prendeu no aeroporto de São Paulo José Adalberto, o assessor do deputado estadual José Nobre Guimarães, irmão do então presidente do partido José Genoino, com R$ 200 mil em malas e um pacote de dólares escondido na cueca.

Rondônia, Bahia e Rio Grande do Norte também foram Estados onde o PT teve crescimento significativo, segundo levantamento da secretaria de organização. As denúncias de que o PT está envolvido em corrupção não impediram que 30% das novas filiações ocorressem depois de agosto do ano passado, após as acusações do ex-deputado Roberto Jefferson de que o PT e o empresário Marcos Valédio teriam criado uma rede de corrupção para arrecadar dinheiro para o partido e para a compra de apoio no Congresso.

Cargos

Ter conseguido eleger mais prefeitos também ajudou o PT a aumentar o número de militantes oficiais. “A prefeitura tem relação direta e as pessoas terminam se filiando ao partido”, explica Walter Pinheiro. Ele critica essa política e admite que o partido incorporou vícios de siglas tradicionais e perdeu características importantes. “O PT trocou o funcionamento de núcleos de debates por ocupação de cargos. Isso é ruim”, lamenta.

Pinheiro revela que no começo do mandato de Lula houve filiação em massa. “Esses casos apareceram no início do governo e eu alertei para os riscos. Eu não faço filiações”, garante. Pelas contas do deputado, cerca de 20 milhões de eleitores de esquerda votaram em Lula e é nesse celeiro onde ele vê potenciais militantes.

O crescimento do número de filiados a um partido político tem várias explicações e motivações, avalia o cientista político Luiz Werneck, do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (IUPERJ). “Os partidos têm redes que não são de opinião. São relações de amizade, de coleguismo, de identidade de classe e até de afeto que transcendem o mundo da política”, analisa. Mesmo com mais petistas de carteirinha (hoje, um cartão magnético), Werneck aposta que o partido terá menos votos nas eleições de outubro, mesmo com a vitória do presidente Lula. “O Lula pode até ganhar, mas o PT vai diminuir”, prevê Werneck, que não acredita muito nos números do PT. Na disputa pelos militantes em todo o país, o maior adversário do PT é o PMDB, partido com 2 milhões de filiados, segundo as informações da cúpula peemedebista. O PFL e o PSDB não divulgam dados sobre filiações.

Nos Estados

A saída de dois senadores e seis deputados federais do PT para outros partidos nos últimos dois anos não reduziu o que a direção petista chama de “base”. No Distrito Federal, por exemplo, onde o senador Cristovam Buarque transferiu-se para o PDT e a deputada Maninha radicalizou no PSOL, não houve mais que 42 desfiliações este ano. Desde as eleições internas do partido, em outubro, 400 novas inscrições foram feitas. Metade somente no dia 18 de dezembro, posse do deputado distrital Chico Vigilante na presidência do PT-DF. O exército vermelho petista tem hoje pouco mais de 26 mil militantes.

O PT perdeu filiados em São Paulo, onde o partido amargou quase 2 mil e 400 desligamentos. No Estado, a sigla perdeu deputados federais e um bom grupo de militantes. No Rio Grande do Sul da deputada Luciana Genro, expulsa do PT e hoje no PSOL, a baixa foi de quase 1,5 mil militantes. Em Alagoas, terra da senadora Heloísa Helena, somente 78 pessoas deixaram a sigla este ano. No Pará, a transferência do deputado Babá para o PSOL e depois para o Rio de Janeiro não tirou nenhum petista da sigla.
Correio Brasiliense