10.2.06

PALOCCI E O AVIÃO

Causam desconforto as versões conflitantes sobre viagens aéreas do ministro da Fazenda. No mais recente episódio, Antonio Palocci Filho enviou carta à CPI dos Bingos corrigindo o que chamou de "imprecisão terminológica" em seu depoimento de 26 de janeiro. O avião, pertencente ao empresário José Roberto Colnaghi, em que o ministro fizera o trajeto de ida e volta de Brasília a Ribeirão Preto, em junho de 2003, não foi "alugado" pelo PT, como fora dito aos parlamentares.
Fosse um ato isolado, bem que o evento poderia passar por simples lapso, sem despertar indagações outras. O mesmo valeria se fosse Colnaghi, na teia das relações suspeitas que envolvem o ministro, uma espécie de J. Pinto Fernandes -aquele que, no famoso poema de Carlos Drummond de Andrade, ainda "não tinha entrado na história".
Mas não é a primeira vez que as explicações sobre as circunstâncias do tráfego aéreo do titular da Fazenda entram em choque com outras informações. A reação inicial de Palocci à reportagem da Folha que revelara ter sido a viagem de 2003 realizada a bordo do Citation Jet de Colnaghi foi negar o fato. Diante da confirmação da carona pelo então presidente do PT, José Genoino, que voou com Palocci e o empresário para Ribeirão, o ministro foi obrigado a recuar.
Na CPI, Palocci contou que, porque fora participar de ato partidário, o avião havia sido providenciado e alugado pelo PT. Foi preciso que a imprensa procurasse, em vão, um recibo do aluguel na prestação de contas da legenda -e que o próprio Colnaghi negasse ter recebido pelo táxi aéreo- para que o ministro enviasse carta corrigindo seu testemunho. O empresário ainda confirma que deu carona ao chefe da Fazenda mais uma vez, o que Palocci nega.
Colnaghi é o mesmo que cedeu um de seus aviões para o vôo até hoje inexplicado de Brasília a Campinas de um ex-assessor de Palocci transportando caixas de bebidas de conteúdo suspeito. Poucas vezes na história da aviação um volume tão singelo mereceu tamanha operação logística -o avião partiu de Penápolis (SP), foi à capital federal e, de lá, trouxe a encomenda para o PT em Campinas. Não é bom que sobre o chefe da política econômica brasileira pairem nuvens tão carregadas.