Presidente acredita que bom relacionamento de ministro com empresários e banqueiros facilitaria a arrecadação de recursos
Com a queda da verticalização, regra que obriga os partidos a repetir nos Estados a coligação nacional, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva acha que resolveu metade dos problemas que teria para firmar alianças eleitorais. Agora, sua preocupação principal é como organizar as finanças de uma campanha à reeleição na seqüência da crise do caixa dois. Lula prevê que enfrentará dificuldade para arrecadar recursos.
Nesse contexto, Lula cogita indicar o ministro Antonio Palocci Filho para a coordenação de sua campanha. A Folha apurou que os dois já tiveram pelo menos duas conversas sobre o assunto.
Caso se concretize a ida de Palocci para a campanha, o ministro da Fazenda deixaria seu número 2, o secretário-executivo Murilo Portugal, no comando da pasta.
Portugal ganhou a confiança de Lula e auxiliares. Tem participado freqüentemente de reuniões com o presidente.
No ano passado, quando Palocci pediu demissão três vezes, Lula rejeitou a possibilidade de indicar Portugal como substituto. Motivo: trabalhou no governo FHC e é bem-relacionado com os tucanos. Hoje, essa restrição não existe mais. Ficaria claro que a substituição seria temporária.
Palocci comandaria a campanha a exemplo da equipe de transição entre os governos FHC e Lula, no final de 2002. E teria a ajuda de um empresário escolhido a dedo para ser o tesoureiro oficial.
Na eleição de 2002, Palocci cuidou do programa de governo. Após a "Carta ao Povo Brasileiro", feita sob medida para agradar ao mercado, Palocci passou a falar com grandes empresários.
Nessa posição, ele foi uma arrecadador de recursos extra-oficial. Delúbio Soares cuidava da área, mas Palocci fazia as articulações no mundo dos negócios.
A "solução Palocci" na campanha de Lula seria uma forma de reiterar o prestígio do ministro no governo e não de se livrar dele para uma eventual guinada na política econômica, como gostariam alguns setores do PT. Se Lula se reeleger, Palocci deverá continuar a ser o seu ministro da Fazenda.
O próprio Palocci discorda do grau de ortodoxia da política monetária. Acha que o Banco Central manteve os juros em patamar muito elevado durante um tempo longo e maior do que necessário. Porém, prefere sempre bancar de público as decisões do BC, mesmo a contragosto, para evitar desconfiança sobre sua política.
Ainda que fique no governo, Palocci terá papel de destaque na campanha de Lula. Poderá até fazer contatos com empresários, o que poderia abrir portas para um arrecadador de recursos oficial.
Quando discutiram o formato de uma coordenação de campanha e de arrecadação de recursos, Lula e Palocci avaliaram o risco de o ministro ser incomodado pelas suspeitas de corrupção no tempo em que foi prefeito de Ribeirão Preto e de tráfico de influência de ex-auxiliares na Fazenda.
O eventual peso e repercussão dessas suspeitas numa indicação de Palocci para a campanha será avaliado antes da eventual nomeação dele.
FSP
Um comentário:
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