2.2.06

Lula lembra JK para atacar seus críticos

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aproveitou a inauguração do novo prédio do Tribunal Superior do Trabalho, em Brasília, para atacar críticos de sua gestão e defender-se das acusações de corrupção contra o governo. Em tom político, de campanha, Lula afirmou que o país vive um momento "auspicioso", unindo crescimento e justiça social. Celebrou o reajuste do salário mínimo para R$ 350 e, no ponto mais incisivo de sua fala, já de improviso, afirmou que, "de vez em quando, nós enveredamos pelo caminho do julgamento fácil". Pegando como exemplo a própria inauguração do novo prédio, "sem qualquer denúncia de desvio de dinheiro público" - numa alusão velada ao TRT de São Paulo -, Lula acrescentou: "Não podemos julgar um pomar por uma laranja apodrecida".

Lula aproveitou para corrigir uma afirmação dita pouco antes pelo presidente do STF, Nelson Jobim. O ministro disse que os homens públicos só passam para a História por aquilo que fizerem. "Eu só queria fazer uma correção. Nós não passaremos para a História apenas por aquilo que fizemos. Muitas vezes, e a História já provou isso, nós passaremos para a História por aquilo que alguns mal intencionados falarem que nós fizemos", declarou o presidente.

Lula aproveitou para lembrar o presidente Juscelino Kubitschek, cuja trajetória está sendo relembrada no momento em que se celebram os 50 anos de sua posse na presidência. "Sabe Deus o que esse homem passou, durante o seu mandato de presidente da República, para ser reconhecido. Mesmo porque, muitas vezes, predomina a leviandade ao invés da verdade. Porque muitas vezes predomina o jogo fácil das palavras. A verdade é sempre mais difícil de ser dita", reforçou o presidente.

Pouco antes de sua fala, Lula ouviu do presidente da OAB, Roberto Busato, na cerimônia, que "o país vive dias difíceis, em que a exposição sistemática de atos condenáveis de alguns agentes públicos aprofundou perigosamente o desgaste de algumas instituições do Estado".

Também presente à solenidade, o presidente do STF, Nelson Jobim, acrescentou que "o debate político não é conduzido apenas pela racionalidade, mas pela dialética de interesses conflitantes". Jobim, que foi duramente criticado nos últimos dias por ter barrado a quebra de sigilo de Paulo Okamotto, presidente da Sebrae e amigo de Lula, também fez ontem discursos em tom de campanha. Okamotto é acusado pela CPI dos Bingos de ter pago despesas de Lula com dinheiro de caixa 2 de campanha.

Jobim defendeu a governabilidade como ponto de referência para as decisões da Corte. Para ele, a governabilidade deve ser o critério maior a ser levado em consideração pelo tribunal para questões de caráter político e econômico. Ele incluiu nessa lista tantos os processos em que empresas pedem para pagar menos impostos ao governo, quanto as ações de políticos envolvidos em investigações de corrupção. Ontem, chegou ao STF uma ação de um grupo de advogados pedindo que Jobim confirme se irá se candidatar ou não.

O ministro rebateu as críticas. Governabilidade, segundo ele, não significa defender o governo da ocasião. Não quer dizer "governismo". É, segundo a teoria de Jobim, a defesa do Estado brasileiro e não do governo. "A governabilidade refere-se a qualquer governo, seja qual partido for, seja qual matiz ideológica professe", explicou. "Não conquistaremos o desenvolvimento, sem que consolidemos a governabilidade econômica."

Jobim também defendeu a necessidade de o STF adotar uma postura mais ativa perante os demais poderes. Ele justificou a sua postura pessoal de negociar a aprovação de projetos de lei para a mudança da legislação processual "nos corredores do Congresso" e o orçamento do Judiciário junto ao Ministério do Planejamento. Essa atuação é necessária, explicou Jobim, para garantir a governabilidade.

Jobim vem sendo cotado tanto para disputar tanto a indicação de seu partido para a Presidência da República quanto uma possível vaga de vice-presidente na chapa da reeleição de Lula. Ontem, em entrevista à "UOL News", o presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), disse que o partido está aberto à candidatura do presidente do Supremo, Nelson Jobim.

Questionado se o ministro terá legenda do partido se quiser disputar a eleição, Temer foi categórico: "Vai. Já conversei várias vezes com ele. O prazo para as inscrições dilatou-se até 10 de março - estava previsto para 15 de fevereiro -, de modo que vamos supor, se ele sai dia 1º de março, inscreve-se diretamente no partido e pode inscrever-se para as prévias, e vai disputar as prévias no dia 19 de março. É perfeitamente legítimo". Faltam 46 dias para as prévias do PMDB.

Valor

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