17.2.06

O vigilante diuturno

Thomaz Bastos acompanha de perto decisão tucana e pilota desfecho das CPIs

"E aí, já tem alguma decisão?", perguntou o ministro Márcio Thomaz Bastos, da Justiça, na quarta-feira ao prefeito José Serra, pela segunda vez em menos de duas semanas.

Ouviu o "não" regulamentar que brota à boca do tucano a cada vez - e não são poucas - que lhe perguntam se vai ou não deixar a Prefeitura para disputar a Presidência da República; em seguida, foi logo relatar a conversa ao presidente Luiz Inácio da Silva.

Não pôde tranqüilizá-lo com uma informação mais precisa, mas cumpriu a tarefa à qual já se dedica há algum tempo, ultimamente com especial empenho: ser uma espécie de olheiro presidencial no campo do adversário e administrador extra-oficial dos interesses do governo junto às comissões de inquérito dos Correios e dos Bingos.

No tocante às CPIs, o ministro da Justiça cuida de assegurar que ambas terminem em abril e nenhuma das duas produza relatórios finais passíveis de serem usados como peças de publicidade oposicionista na campanha eleitoral.

Em português claro, o governo receia que as comissões de inquérito terminem com documentos em tom panfletário, temor dos temores, que citem de alguma forma o nome do presidente ou mesmo o do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, cuja função de coordenador da campanha está praticamente definida.

As tratativas, garante o ministro da Justiça, não se dão na base do pedido explícito de exclusão disso ou daquilo, mas ele tem feito ver à oposição que não será interessante para ninguém a prorrogação das comissões ou a elaboração de relatórios que sejam contestados a ponto de inviabilizar sua aprovação.

Não há problema, segundo Thomaz Bastos, de a conclusão apontar acusações, desde que sejam bem fundamentadas e "técnicas". A vantagem para o governo seria óbvia, mas por que a oposição concordaria? "Porque se os relatórios não forem aprovados, a investigação pode ficar desmoralizada."

A questionada lista de Furnas tem freqüentado as conversas recentes do ministro Márcio Thomaz Bastos que, embora prefira esperar o pronunciamento da Polícia Federal para dizer se á falsa ou verdadeira, deixa patente sua desconfiança a respeito da credibilidade do lobista Nilton Monteiro, responsável pela divulgação. "Ele tem um histórico pesado de falsificações."

Entre elas, a assinatura do próprio pai para poder receber indevidamente benefício da Previdência.

Quanto às funções extracurriculares de Dimas Toledo, o ministro Márcio Thomaz Bastos também já dispõe de informações suficientes para identificar no ex-diretor de Furnas um ativo e pluripartidário especialista do setor de arrecadação paralela de recursos para campanhas políticas.

Mas daí a dizer que Bastos está ansioso em comparecer à CPI dos Correios para falar sobre o assunto - como querem alguns da oposição - vai uma distância imensa.

O ministro já esteve disposto a ir. No impulso de reação às acusações de que usaria a PF para alimentar suspeições sobre a oposição, decidiu comparecer à CPI. Mas pensou melhor e concluiu que os adversários do governo não teriam a intenção de esclarecer, mas de desmoralizá-lo, levando-o a sentar numa cadeira carimbada como banco dos réus.

Furnas foi um dos assuntos do último encontro com o senador Tasso Jereissati, presidente do PSDB, na mesma quarta-feira em que telefonou para Serra. Em meio ao tema de listas e investigações, falaram, é claro, de eleições.

E o ministro foi ao assunto de seu interesse: o candidato tucano. Saiu com a impressão de que Tasso Jereissati prefere Geraldo Alckmin. Baseado em quê?

"Não sei, a maneira de falar."

Aliás, confessa Thomaz Bastos, ele mesmo prefere o governador de São Paulo como oponente de Lula. Não por suas qualidades, ao contrário. Por pragmatismo eleitoral. "Ele é muito conservador, teria dificuldades entre os formadores de opinião, entre outras vulnerabilidades."

Quanto ao PMDB, apostaria (contra a vontade, pois, admite, tira votos de Lula) na vitória de Anthony Garotinho nas prévias - "ele trabalha como Maluf fez na Arena, direto com as bases". Mas nutre a esperança de vê-lo barrado na convenção de junho, num cenário ideal de Lula lá no alto nas pesquisas e o partido ocupando a vaga de vice. De preferência com Nelson Jobim.
Dora Kramer

2 comentários:

Anônimo disse...

best regards, nice info » » »

Anônimo disse...

Keep up the good work »