1.2.06

Okamoto no Estadão

CPI tem informação sobre atuação de Okamotto nas finanças do PT

Em depoimento prestado a uma comissão de ética do PT em 12 de dezembro de 1997, durante o chamado caso CPEM, o hoje chefe de gabinete do presidente Lula, Gilberto Carvalho, respondeu a uma série de perguntas sobre seu colega de legenda Paulo Okamotto, então assessor de Lula, hoje presidente do Sebrae. Eram os tempos do chamado Governo Paralelo e do Instituto de Cidadania.

A Comissão perguntou a Carvalho se Okamoto atuava "na parte de recursos". Carvalho respondeu assim: "Ah, com certeza, com certeza ele dava uma mão nessa área, com certeza. Eu diria mais do que finanças, ele é uma espécie de gerente, porque a relação com o pessoal, é ele que faz, com pessoas do partido, essa coisa de contratar".

Carvalho prestou dois depoimentos internos sobre o caso CPEM, a duas comissões de ética. No primeiro, em 14 de novembro de 1997, referiu-se a Okamotto como um dos "coitados" que recebia a tarefa "difícil" de correr atrás de recursos. O trecho é o seguinte: "Esse cara, além de fazer o trabalho pior, não ter glória nenhuma, corre o risco de ser vítima de uma situação como essa (a denúncia de Paulo de Tarso Venceslau), de um cara qualquer desses começar a dizer histórias, botar na cabeça que tem esse negócio (...). A situação do Okamotto virou assim, é como um caso de pena que eu sacudo pela janela, e aí, quem vai juntar essas penas?"

Os dois depoimentos estão na CPI dos Bingos. Fazem parte dos documentos que foram entregues na semana retrasada pelo economista Paulo de Tarso Venceslau, expulso do PT em 1998 depois de denunciar corrupção e tráfico de influência no chamado caso CPEM. Okamotto foi um dos acusados, e negou as acusações. A CPI dos Bingos decidiu pedir a quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico de Okamoto. Até o momento, o pedido está barrado por uma liminar do ministro Nelson Jobim, do STF.

Nos documentos entregues por Venceslau - parte dos depoimentos prestados a duas comissões de ética do PT - Carvalho não é o único a fazer referências sobre a movimentação de Okamoto no momento em que não tinha qualquer cargo oficial do partido. A outra a fazê-lo foi a então prefeita de São José dos Campos, Ângela Guadagnin, hoje deputada federal do partido.

Trecho do depoimento de Gilberto Carvalho

" (...) Comissão de Ética - O Paulo Okamoto mexia com as finanças?

Gilberto Carvalho - O Paulo Okamoto, por exemplo, em 1994, o Paulo ajudava a Tatau (Godinho, então tesoureira do PT), ele trabalhava muito em sintonia com a Tatau.

Comissão de Ética - Antes disso?

Gilberto Carvalho - antes eu disse eu não, ah, o Paulo de certa forma ajudava na estruturação do escritório do Lula, do Instituto de Cidadania, o Paulo, ele...

Comissão de Ética - Depois de um governo paralelo durante um período.

Gilberto Carvalho - Exatamente. Depois que ele foi presidente do Diretório Regional, que me consta, ele não pegou nenhuma função formal de Tesouraria, ele teve uma função de ser, ajudando o Lula. Um assessor do Lula. Por exemplo, nas Caravanas de Cidadania.

Comissão de Ética - Na parte de recursos também?

Gilberto Carvalho - Ah, com certeza, com certeza ele dava uma mão nessa área, com certeza. Eu diria mais do que finanças, ele é uma espécie de gerente, porque a relação com o pessoal, é ele que faz, com pessoas do partido, essa coisa de contratar

Comissão de Ética - do governo paralelo, ou seja não era uma questão do partido, é uma questão, quando era um governo paralelo era partido, mas depois ele

Gilberto Carvalho - Não, não. Governo Paralelo já tinha pessoa jurídica própria.

Comissão de Ética - Ah, tinha?

Gilberto Cavalho - Tinha, foi começado naquele período

Comissão de Ética - Desde o início, que eu saiba, o governo paralelo era uma coisa evidentemente ligada ao PT, via Lula, mas só via Lula.

Comissão de Ética - Mas o partido repassa recursos ao governo paralelo?

Gilberto Carvalho - Bom, por exemplo, o partido seguiu pagando os salários do Lula, seguiu pagando os salários do Espinosa, por exemplo.

Comissão de Ética - Do Paulo Okamoto, o partido (é) que paga os salários? Não. Vamos perguntar pra ele.